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Terapia é tão eficaz quanto droga na depressão infantil
Resultado é de estudo dos EUA; para médicos, tratamento combinado é a melhor opção
Segundo a OMS, a taxa de
crianças e adolescentes deprimidos cresce em todo o mundo; violência e excesso de atividades são fatores
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
A terapia comportamental é
tão eficaz quanto o uso de remédio no tratamento da depressão de crianças e adolescentes. A associação das duas
técnicas, contudo, traz resultados mais rápidos e com menos
chances de recaídas.
A conclusão é de um estudo
recente realizado a partir de
um levantamento financiado
pelo Instituto de Saúde Mental
dos Estados Unidos, com 439
crianças e adolescentes entre
12 e 17 anos. O trabalho foi publicado no "Journal of the
American Academy of Child
and Adolescent Psychiatry".
A taxa de depressão infanto-juvenil vem crescendo em todo
o mundo, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde).
Na faixa etária entre seis e 16
anos, por exemplo, ela passou
de 4,5% para 8% na última década. A violência urbana, o excesso de atividades na agenda
diária e a falta de espaço para o
lazer são apontados como os
principais fatores.
O trabalho envolveu 13 instituições norte-americanas e testou, isoladamente, três tipos de
tratamento: terapia cognitivo-comportamental, antidepressivo (fluoxetina) e a associação
de ambos. Ao final de 36 semanas, a taxa de eficácia dos três
foi parecida: em torno de 60%.
Até a 18ª semana de tratamento, porém, a combinação
de terapia comportamental e
de remédio foi melhor do que a
chamada monoterapia. As taxas de remissão (ausência de
sintomas da depressão) foram
de 56% (tratamento combinado) contra 37% (remédio) e
27% (terapia).
Tratamento combinado
Para o médico John March,
professor de psiquiatria do
Centro Médico da Universidade Duke e coordenador do estudo, se a depressão na criança
for de moderada a severa, a recomendação é que o tratamento seja combinado. Se for leve,
há indicação de terapia comportamental -e de acrescentar
antidepressivo se não houver
resposta rápida.
"A terapia comportamental é
muito boa, mas o tratamento
combinado traz resultados
muito melhores, mais rápidos e
mais duradouros do que somente a terapia ou a fluoxetina.
A associação de tratamentos
também elimina o risco de suicídio associado à medicação
[fluoxetina]", explicou à Folha.
A psiquiatra Betsy Kennard,
da Universidade do Texas, que
também participou do estudo,
observa que, com a monoterapia, há uma demora de dois a
três meses para surtirem os resultados, em relação ao tratamento combinado.
"As crianças que recebem
apenas remédio ou apenas terapia comportamental chegarão ao mesmo ponto em 36 meses [em relação àquelas que
usam terapia combinada]. Mas,
como pai ou mãe, você não vai
querer ver seu filho sofrendo
por tanto tempo."
Recaídas
O psiquiatra infantil Fábio
Barbirato, professor da Santa
Casa do Rio de Janeiro, acrescenta que a terapia associada à
medicação traz menos chances
de recaída. "A depressão costuma ser flutuante: há uma melhora, uma piora. As crianças
que tomam o remédio e fazem
terapia têm menos recaídas em
relação às outras."
Para Barbirato, a mensagem
do estudo é que os médicos não
devem desistir de tratar crianças e adolescentes deprimidos.
"Muitos acabam sendo expostos a um tratamento ineficaz e
que traz riscos à sua saúde por
conta de diagnósticos errados,
baseados em mitos."
Vários estudos têm demonstrado que crianças com sintomas depressivos não tratados
possuem mais chances de cometer suicídio, de se tornarem
dependente de drogas ou de
manter a doença na idade adulta. "Não tem essa conversa de
que as coisas vão melhorar com
o tempo. Sem tratamento,
quem sofre é a criança."
O psiquiatra acredita que a
polêmica que ainda existe em
torno do uso de antidepressivo
em crianças "é coisa de profissional que não está bem atualizado e que vai contra tudo o que
existe de mais atual".
Barbirato diz que já atendeu
um garoto de sete anos de idade
que havia tentado duas vezes o
suicídio. "Ele já tinha passado
por várias terapias inúteis. Depois de dois anos com terapia
comportamental e remédio, ele
teve alta. Está sem remédio,
nunca mais recaiu."
Na avaliação do psiquiatra
Eurípedes Miguel, professor titular do departamento de psiquiatria da USP (Universidade
de São Paulo), a grande importância do estudo foi ter demonstrado que a manutenção
do tratamento a longo prazo é
fundamental para os adolescentes conseguirem a remissão
dos sintomas da depressão.
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