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Médicos vão ter restrições para viagens patrocinadas
Laboratórios só poderão bancar a ida dos que forem falar em congressos
Conselho Federal de Medicina prepara acordo com indústria farmacêutica; meta é criar transparência
CLÁUDIA COLLUCCI
DE SÃO PAULO
Médicos brasileiros só poderão viajar para congressos
com as despesas pagas pela
indústria farmacêutica se forem prestar serviço de cunho
científico, como dar uma palestra ou um curso.
Com isso, ficará proibido o
patrocínio de viagens para o
profissional que só for assistir a um evento. Nesta semana, cerca de cem médicos
brasileiros estão em Orlando
(EUA), assistindo ao congresso de diabetes, a maioria a
convite de laboratórios.
A proposta, inspirada em
um modelo que vigora há 11
anos em Portugal, está sendo
costurada pelo CFM (Conselho Federal de Medicina), a
AMB (Associação Médica
Brasileira) e a Interfarma (Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa). Será
apresentada na plenária do
conselho, no dia 16 de julho.
O presidente do CFM, Roberto D'Ávila, diz que a restrição a viagens é um caminho
sem volta. Se não houver
acordo com a indústria, ela
virá em forma de resolução.
Antônio Britto, presidente
da Interfarma, está de férias e
não foi encontrado ontem
para falar sobre o assunto.
Ele tem dito, porém, que a
entidade está empenhada
em fechar o acordo, por considerar essencial que a relação entre indústria e médicos
fique dentro do campo ético.
REGRAS TRANSPARENTES
Nos últimos anos, estudos
têm demonstrado que, ao
aceitar favores da indústria,
o médico fica mais predisposto a retribui-los, prescrevendo seus produtos.
"Só pode pagar passagem,
hospedagem e inscrição para
quem vai falar [no congresso]. Por que [a indústria] paga a minha ida e não paga o
do colega ao lado? Por causa
dos meus olhos verdes? O critério é a caneta. Ou pagam
para quem já prescreve os
produtos deles ou para quem
não prescreve e precisa ser
cativado", diz D'Ávila.
A ideia, ele explica, não é
fechar as portas à indústria,
mas criar regras transparentes. "A indústria pode ajudar
de maneira genérica, dando,
por exemplo, um subsídio
para a comissão científica do
evento. Com isso, a inscrição
custaria a metade."
Para José Luiz Gomes do
Amaral, presidente da AMB,
já há leis que tentam disciplinar essa questão, inclusive
uma declaração da Associação Médica Mundial da qual
o Brasil é signatário.
"Não precisamos de novas
leis. Precisamos que sejam
cumpridas as existentes, que
são absolutamente claras."
Ele diz que a indústria precisa do médico para se desenvolver. E que esse precisa
dela para acompanhar as novas tecnologias. "Precisamos
encontrar o equilíbrio dessa
relação, que é positiva, e evitar que seja má utilizada."
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