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Mulheres demoram mais a largar cigarro, diz pesquisa
Estudo foi feito com 6.000 pacientes do Hospital A. C. Camargo, em São Paulo
Fumo mascara sintomas de depressão, mais freqüentes no sexo feminino, e acaba sendo usado por elas como uma fuga do problema
FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Mulheres que fumam têm
mais dificuldade para abandonar o vício porque são mais dependentes psicologicamente
do cigarro, aponta um levantamento realizado com 6.000 pacientes que fizeram tratamento
no GAT (Grupo de Apoio ao Tabagista) do Hospital A. C. Camargo, em São Paulo.
De acordo com a psiquiatra
Célia Lídia da Costa, coordenadora do GAT e autora da pesquisa, isso acontece porque as
mulheres têm mais depressão
do que os homens e, por isso,
estão mais sujeitas aos sintomas de ansiedade.
Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), a depressão atinge duas mulheres
para cada homem.
"A mulher normalmente enxerga o cigarro como um remédio, como uma fuga. Ela tem
necessidade de fumar para resolver algum problema e o cigarro acaba mascarando os sintomas da depressão. Ela tem
um perfil diferente do homem,
que normalmente fuma por
prazer", afirma Costa.
Daí surge a principal dificuldade delas para largar o vício
-pois, sem os efeitos da nicotina no cérebro, o corpo começa
a sentir os sintomas da depressão. Segundo Costa, enquanto
os homens param de fumar em
cerca de três meses, as mulheres levam pelo menos um ano.
Tratamento diferenciado
Por isso, avalia a pesquisadora, os resultados do estudo
apontam para a necessidade de
uma abordagem de tratamento
diferenciada, especialmente
para as mulheres.
"No caso delas, é preciso tratar primeiro a depressão, depois a dependência à nicotina.
Nos homens, normalmente a
dependência é química, então a
gente trata logo a abstinência."
A cardiologista Jaqueline
Scholz Issa, diretora do Programa de Tratamento de Tabagismo do InCor (Instituto do Coração) do Hospital das Clínicas
de São Paulo, concorda com o
tratamento diferenciado para
as mulheres.
Segundo a médica, a prevalência de casos de depressão
em fumantes é muito alta -estima-se que 60% das pessoas
deprimidas fumem.
"As mulheres precisam ser
abordadas e tratadas de forma
diferenciada para que o tratamento tenha o mesmo índice
de sucesso observado nos homens. Existe uma recomendação do consenso americano para tratamento do tabagismo,
publicada em 2008, que considera o sexo da pessoa como fator determinante do tratamento. O InCor já adota essa medida", afirma.
Issa diz que quase 40% das
mulheres que passam por tratamento para parar de fumar
no InCor precisam tomar antidepressivos em algum momento. "Se elas não tomam o remédio, ficam desestimuladas a
continuar o tratamento e têm
recaída. Então a gente prescreve o antidepressivo para a paciente perceber que não é a falta do cigarro que causa a depressão", afirmou Issa.
Depressão mascarada
A dificuldade no tratamento
de fumantes depressivos, explica Issa, surge porque a nicotina
mascara os sintomas da depressão. "Quando a mulher
tenta parar de fumar, ela acha
que está ficando deprimida,
quando na verdade ela já estava
deprimida e não sabia", afirma.
Isso acontece porque o cérebro do não-fumante possui receptores de dopamina, acetilcolina e serotonina, que proporcionam sensações de prazer
no corpo. Quando uma pessoa
começa a fumar, a nicotina
"substitui" a ação desses neurotransmissores, que deixam
de ser produzidos naturalmente pelo organismo.
"O fumante fica dependente
desse mecanismo artificial. A
nicotina proporciona um efeito
de prazer semelhante. São necessárias, no mínino, 12 semanas para que o organismo volte
a produzir [neurotransmissores] naturalmente", explica Jaqueline Issa.
De acordo com ela e com Célia Costa, depois do tratamento, a neurocaptação volta ao
normal em cerca de 70% dos
pacientes. "Os outros 30% podem ter recaída", disse Issa.
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