São Paulo, terça-feira, 31 de março de 2009

Próximo Texto | Índice

Instituto de SP cria o maior banco de próstata do mundo

Inaugurado ontem, centro investe em pesquisas sobre todo sistema urinário masculino

Entre os novos aparelhos, há uma terapia a laser que permite reduzir tamanho da próstata de forma menos agressiva e sem internação

Eduardo Knapp/Folha Imagem
O presidente em exercício, José Alencar (à dir.), com o urologista Miguel Srougi em sala com robô cirúrgico, no instituto

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

O Hospital Alemão Oswaldo Cruz, de São Paulo, inaugurou ontem o primeiro centro especializado em próstata da América Latina. Nele, passa a funcionar também o maior banco de próstata do mundo, com amostras de 2.000 pacientes, que subsidiará pesquisas voltadas ao diagnóstico precoce do câncer que afeta um em cada seis homens.
Coordenado pelo urologista Miguel Srougi, professor titular da USP (Universidade de São Paulo), o instituto custou R$ 8 milhões e focará em atendimento multidisciplinar ao paciente tecnologia de última geração e em pesquisas sobre o sistema urinário, que serão feitas em parceria com a Faculdade de Medicina da USP.
Um dos estudos promete tornar mais preciso e menos invasivo o diagnóstico do câncer da próstata. A proposta é usar o gene PGC como marcador para diferenciar o câncer do crescimento benigno da glândula.
O gene PGC já foi estudado anteriormente para detectar o tempo de sobrevida em pacientes com tumor de próstata. Segundo o urologista Alberto Azoubel Antunes, que lidera a pesquisa, esse novo estudo, iniciado na USP, analisa o gene para identificar a probabilidade de desenvolvimento do câncer em tecidos benignos.
Antunes afirma que atualmente essa diferenciação é feita com exame de PSA -cuja eficácia tem sido questionada por estudos internacionais- e biopsia. "O problema é que muitos homens apresentam PSA alto, mas a biopsia dá negativa, o que torna necessário repetir o exame diversas vezes."
A primeira etapa da pesquisa, que envolveu amostras de 50 tumores retirados durante cirurgias, conseguiu demonstrar a eficácia do gene PGC como marcador. O estudo foi publicado em uma das revistas mais conceituadas em urologia, o "Journal of Urology".
Agora, serão analisadas 50 amostras de tecido saudável -que poderão vir do banco de próstata, cujas amostras Srougi coleciona desde 1997 e estão congeladas em nitrogênio líquido- para validar o trabalho.
Outro estudo iniciado na USP e no Instituto Butantan e que agora passa a ser feito também no novo instituto é o desenvolvimento de uma nova droga para impotência a partir do veneno da aranha-armadeira. A descoberta ocorreu a partir de observações de que homens picados por essa aranha apresentavam ereção peniana.
Segundo o urologista Enrico Andrade, a toxina liberada pelo veneno aumenta a produção de óxido nítrico, uma das substâncias responsáveis pela ereção. Ele afirma que a equipe já conseguiu isolar uma proteína e testá-la em camundongos. "Conseguimos provocar uma ereção de duas horas em camundongos." O próximo passo será testar a segurança do uso da substância em humanos.

Tecnologia
Entre os equipamentos de última geração adquiridos pelo instituto está uma terapia a laser que permite realizar a operação de redução de próstata de forma menos agressiva. "Praticamente não há sangramento e o paciente não precisa ficar internado. Até então, a cirurgia demandava uns três dias de internação", afirma Srougi. O laser verde é aplicado na região da próstata e, com uma técnica chamada ressecção transuretal, dissolve o tecido que cresceu em excesso na glândula.
Segundo Srougi, o instituto também atenderá pelo SUS, embora ainda não esteja definida a forma de assistência. "Não vamos nos esquecer dos mais desassistidos. As doenças da próstata afetam de 80% a 90% dos homens maduros. Muitas delas causam sofrimento físico e limitam a vida. Faremos o que estiver ao nosso alcance para melhorar o atendimento."
Ontem, durante a inauguração, Srougi fez uma homenagem ao presidente em exercício, José Alencar, seu paciente. "Ele trava uma luta histórica [referindo-se aos cânceres que Alencar vem enfrentando]. É uma alma grande." Alencar retribuiu: "Sou uma dádiva dele", disse, mencionando que Srougi foi o médico responsável por quatro das suas 13 cirurgias.


Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.