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Até médico do tráfego receita emagrecedor
Relatório aponta desvio de prescrição de drogas para perder peso; em 2009, foram consumidas 5,8 t desses remédios
Ginecologista, pediatra e dermatologista estão entre os especialistas que mais prescrevem medicamentos anorexígenos no Brasil
GABRIELA CUPANI
DA REPORTAGEM LOCAL
Relatório divulgado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) sugere um
desvio de prescrição em relação
às drogas anorexígenas -medicamentos usados para emagrecer, como a sibutramina, que
teve a venda controlada ontem.
O documento mostra que,
entre os dez maiores prescritores de sibutramina no país, está
um especialista em medicina
do tráfego -médico que realiza
ações e estudos relacionados à
promoção da saúde e à prevenção de acidentes no trânsito. É
esse profissional, por exemplo,
que faz os exames para obtenção da carteira de habilitação.
Entre os dez que mais receitam anfepramona (outro tipo
de anorexígeno) estão um ginecologista e um gastroenterologista. O maior prescritor do
femproporex (outra droga do
tipo) é um dermatologista. No
caso do mazindol, outro da categoria, há um pediatra entre os
que mais receitam.
As informações integram o
primeiro relatório do Sistema
Nacional de Gerenciamento de
Produtos Controlados
(SNGPC). O sistema, implantado em 2007 e 2008, monitora
eletronicamente as vendas de
medicamentos controlados.
Antes, o controle era manual.
Os dados também revelam
que, em 2009, foram vendidas
quase seis toneladas de anorexígenos no país. A sibutramina
responde por quase duas toneladas e a anfepramona, por três.
No caso da sibutramina, considerando que a dose diária definida é de 10 mg, isso significa
que, no ano passado, foram
consumidas aproximadamente
186 milhões de doses -é como
se todo brasileiro tivesse ingerido um comprimido do remédio em um dia no ano.
"Embora não seja proibido,
não é coerente que um médico
prescreva tanto um medicamento que não está diretamente relacionado ao seu campo de
atuação", diz a farmacêutica
Márcia Gonçalves, coordenadora do SNGPC. A Anvisa pretende encaminhar os dados ao
Conselho Federal de Medicina.
"O dado pode ser um indício
de exagero. Vamos encaminhar
as informações aos conselhos
regionais e, com isso, será possível abrir sindicâncias para
apurar possíveis irregularidades", diz Desiré Carlos Callegari, primeiro-secretário do Conselho Federal de Medicina.
A Anvisa também identificou
os estabelecimentos que mais
comercializam tais substâncias
e deve tomar medidas de averiguação contra eles.
Entre os anos de 2004 e
2006, o Brasil foi campeão
mundial no consumo de psicotrópicos anorexígenos como
anfepramona, femproporex e
mazindol, segundo um relatório da Junta Internacional de
Fiscalização de Entopecentes.
Em 2010, o país caiu para a
quarta posição.
"Isso se deve, em parte, ao
maior controle desses remédios", diz Gonçalves. "Mas precisávamos fazer o monitoramento dessas substâncias."
"São medicamentos muito
baratos e acessíveis e também
são encontrados facilmente no
mercado negro", diz a endocrinologista Claudia Cozer, diretora da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica). "Orientamos as pessoas a
procurar um endocrinologista
para o tratamento da perda de
peso", afirma.
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