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Cápsula é inferior a colonoscopia no diagnóstico de lesão
Segundo estudo, o método mais recente detectou apenas
64% das lesões identificadas pela técnica convencional
Microaparelho percorre o
sistema digestivo e envia
fotos captadas no percurso;
os dois métodos investigam
câncer no cólon e pólipos
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
As cápsulas endoscópicas
usadas para a investigação do
intestino grosso (cólon) diagnosticam apenas 64% das lesões (pólipos) captadas pela colonoscopia convencional, revela o primeiro estudo multicêntrico que avaliou a eficácia dos
dois métodos. O trabalho envolveu oito hospitais europeus
e foi publicado no "New England Journal of Medicine".
Essas cápsulas -que medem
31 mm x 11 mm, o tamanho de
um multivitamínico- carregam uma microcâmera de vídeo e são ingeridas com água.
Enquanto percorrem o sistema
digestivo, enviam as fotos captadas para um gravador, conectado à cintura do paciente.
O computador processa as
imagens capturadas, e o médico as analisa como se fossem
um filme. Além do cólon, são
usadas para apontar lesões no
esôfago e no intestino delgado.
Anunciada como um exame
menos invasivo e que poderia
substituir a colonoscopia tradicional -exame endoscópio que
permite a visualização do interior do cólon, mas que demanda sedação e anestesia-, a cápsula de cólon é usada há pelo
menos um ano no Brasil, mas
não é coberta nem pelos planos
de saúde nem pelo SUS. Em
serviços privados, o exame custa em média R$ 4.500.
O médico Miguel Muñoz Navas, diretor do departamento
do sistema digestivo do hospital da Universidade de Navarra
(Espanha) e coordenador do
estudo, explica que o trabalho
quis determinar se a cápsula
era igualmente eficaz em relação à colonoscopia para localizar pólipos e tumores de cólon.
Segundo ele, os resultados
mostram que a técnica precisa
ser aprimorada para se igualar
à colonoscopia. Um dos pontos
seria a necessidade de aumentar o número de imagens capturadas por segundo -hoje são
quatro- e melhorar o ângulo
visual para captar "pontos cegos" do intestino que não são
localizados pela atual cápsula.
O cirurgião gastrointestinal
Pablo Miguel, de Porto Alegre
(RS), um dos primeiros a trabalhar com a técnica no Brasil, diz
que a fabricante israelense prometeu, para até o final do ano,
uma versão atualizada da cápsula de cólon.
"Eles prometem trazer tudo
o que se espera de um exame de
cápsula de cólon que substitua
a colonoscopia convencional",
diz Miguel. Segundo ele, esse tipo de exame pode ser muito benéfico para doentes crônicos,
que têm riscos com a sedação.
O cirurgião oncológico Benedito Mauro Rossi, do Hospital
A.C. Camargo, especialista em
câncer colorretal, considera
que a cápsula de cólon esteja
longe de substituir a colonoscopia convencional.
Nem ela nem outras técnicas
de imagem -como a colonografia por tomografia- conseguem examinar o cólon e, ao
mesmo tempo, fazer a biopsia
de lesões suspeitas, como faz a
colonoscopia, explica o médico.
"Elas fazem o diagnóstico, mas
depois a velha colonoscopia entra para tirar e biopsiar."
Segundo Pablo Miguel, no futuro, uma das inovações prometidas pela indústria é a possibilidade de a nova versão da
cápsula, quando encontrar
uma lesão suspeita, disparar
uma agulha e fazer uma biopsia
do material suspeito.
Limitações e vantagens
Outra limitação da cápsula,
na avaliação do gastroenterologista e endoscopista Ângelo
Ferrari Júnior, do hospital Albert Einstein, é o método exigir
um preparo semelhante à colonoscopia, mas não captar lesões menores no cólon como
faz a técnica tradicional.
"A cápsula vai registrando o
que está no seu trajeto, não há
um controle das imagens. Já na
colonoscopia, o médico vai e
volta várias vezes no mesmo
trajeto e consegue melhores resultados", diz Ferrari Júnior.
Para ele, a grande vantagem
da cápsula é o fato de o procedimento não ser invasivo e, em
razão disso, menos arriscado.
Na colonoscopia tradicional, há
riscos associados à anestesia,
como arritmias cardíacas e insuficiência respiratória.
Os especialistas garantem
que o melhor resultado das
cápsulas é na avaliação do intestino delgado, região de difícil
acesso e onde os métodos convencionais não chegam. "Hoje é
o exame de maior especificidade que existe. O intestino delgado é uma área onde a endoscopia não consegue atingir,
nem por cima e nem por baixo",
reforça Pablo Miguel.
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