São Paulo, domingo, 31 de julho de 2011

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Elo entre sal e doenças do coração não é automático

Estudo internacional com 6.257 pessoas diz que sódio pode até ser protetor

Especialistas admitem que vários fatores podem influir no risco cardíaco, mas ainda assim pedem cautela

RICARDO BONALUME NETO
DE SÃO PAULO

Ninguém discute mais que o consumo excessivo de sal faz subir a pressão sanguínea. Mas um estudo em grande escala dos efeitos da redução do sal na dieta teve resultados inconclusivos.
A análise de sete pesquisas internacionais, envolvendo 6.257 pessoas, das quais 665 morreram (293 por doenças cardiovasculares) não apontou um elo claro entre a diminuição da pressão resultante do menor consumo de sal e a prevalência dessas doenças, ou a morte causada por elas.
O trabalho foi feito pela Cochrane Collaboration, uma rede internacional de pesquisadores, e publicado na revista médica "American Journal of Hypertension". A equipe, liderada por Rod Taylor, da Universidade de Exeter, Reino Unido, garimpou 3.035 artigos e terminou com apenas sete estudos relevantes.
"A crença de que a redução da ingestão de sódio teria benefício cardiovascular se baseia no fato de que poderia reduzir a pressão arterial. Essa hipótese ignorou a possibilidade de que tal mudança poderia ter outros efeitos", disse à Folha o editor do "American Journal of Hypertension", Michael Alderman.
"Reduzir o sódio na quantidade necessária para afetar a pressão do sangue também aumentou a resistência à insulina, a atividade do sistema nervoso simpático e a secreção de aldosterona. Tudo isso aumenta os eventos de doença cardiovascular", continua Alderman.

LICENÇA PARA COMER?
O estudo não é uma "licença para comer salgadinhos", contudo; ele simplesmente mostrou que a redução do consumo de sódio não é necessariamente boa para todos. Houve até casos em que a redução do consumo foi nociva em pacientes com insuficiência cardíaca.
Um dos sete estudos, feito na Itália com pacientes com insuficiência cardíaca, testou qual grau de ingestão de sal teria melhores efeitos de proteção cardiovascular. Tanto as mortes como a hospitalização diminuíram 25% nos pacientes que consumiam 2,7 gramas de sódio por dia, contra os que só ingeriam 1,8 g.
"Não é surpresa que o estudo não tenha encontrado a determinação conclusiva de causa e efeito. Ele se baseou em um número muito pequeno de ensaios clínicos e associou uma causa a um grupo de efeitos com muitas variáveis complexas", diz o médico Rubens Baptista Junior, especialista em medicina preventiva e social do Hospital das Clínicas da USP.
"Devemos aguardar os resultados de novos estudos", afirma Baptista.
"Isso não desaconselha, contudo, ações para reduzir a quantidade de sal em determinados alimentos industrializados e nos hábitos alimentares da população. No que se refere aos níveis de pressão arterial e a outros tipos de doenças, as vantagens são conhecidas e comprovadas."

O DOBRO
O brasileiro consome em média 8,2 gramas de sal por dia (3,3 gramas de sódio), mais que as recomendações internacionais de ingestão de um máximo de 6 gramas (2,4 gramas de sódio), o equivalente a uma colher de chá.
"Isso é duas vezes o que consome um europeu ou americano. É um problema de hábito", afirma o médico Ricardo Pavanello, supervisor de cardiologia clínica do Hospital do Coração (SP).
Enquanto se estima que o americano consuma 75% do seu sódio via alimentos processados, o brasileiro tem o hábito de colocar sal na comida. "Mesmo antes de provar o gosto", diz Pavanello.
Justamente por isso, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e o Ministério da Saúde lançaram na quinta a Campanha de Redução do Consumo de Sal em supermercados em Brasília.
O objetivo, diz a Anvisa, é "conscientizar os consumidores sobre a redução do uso do sal e orientá-los a fazer escolhas mais saudáveis", como os alimentos cujos rótulos indicam um teor menor de sódio na sua composição.


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