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Problemas para dormir crescem em SP
Estudo comparou dados de 2007, 1995 e 1987 e mostrou aumento de reclamações sobre insônia, pesadelos e ronco
Mais de mil moradores da capital passaram por exame que avalia sono; prevalência de apneia, que leva a pausas na respiração, foi de 32,9%
FLÁVIA MANTOVANI
EDITORA-ASSISTENTE DO EQUILÍBRIO
Os moradores de São Paulo
se queixam cada vez mais de
problemas para dormir. É o que
mostra uma pesquisa feita pelo
Instituto do Sono, ligado à Unifesp (Universidade Federal de
São Paulo), com 1.042 pessoas
entre 20 e 80 anos.
A pesquisa foi realizada em
2007 e agora seus dados estão
sendo tabulados e enviados para publicação em revistas científicas. Além de aplicar questionários para colher as queixas
dos entrevistados, foram realizados exames de polissonografia, a principal forma de diagnosticar distúrbios do sono.
Duas pesquisas já haviam sido feitas pela mesma instituição, em 1987 e 1995, com questionários, mas sem a realização
de exames. A comparação entre
os três levantamentos mostra
que houve um aumento de todas as queixas.
Dificuldade para dormir e
para manter o sono, ronco, bruxismo, sonambulismo e pesadelos foram alguns dos problemas relatados. Apesar de não
ser possível saber se o aumento
na frequência de queixas corresponde a um crescimento na
ocorrência dos distúrbios propriamente ditos -já que em
1987 e 1995 não foram feitos
exames diagnósticos-, a tendência é que haja, sim, um crescimento desses problemas.
"A queixa do paciente é um
parâmetro relevante para determinar o diagnóstico dos distúrbios, apesar de não ser o único", afirma o biólogo Rogério
Santos Silva, autor da pesquisa.
Segundo ele, o alto índice de
estresse pode ajudar a explicar
o aumento das queixas. "Vários
desses problemas, como insônia, pesadelos e sonambulismo,
têm relação com o estresse. A
pesquisa foi feita numa grande
metrópole, com altos índices de
violência, e as pessoas estão cada vez mais estressadas."
O excesso de peso também
contribui. No levantamento,
60% da população apresentou
sobrepeso ou obesidade. Ronco
e apneia são mais frequentes
em pessoas que estão acima do
peso, como mostra a própria
pesquisa: os entrevistados com
sobrepeso tiveram 2,6 vezes
mais chance de ter apneia do
que aqueles que estavam com
peso adequado. Nos obesos, o
risco aumentou 10,5 vezes.
Apneia
Dos resultados obtidos, o que
mais surpreendeu foi a prevalência da síndrome da apneia
obstrutiva do sono: um terço da
população (32,9%) tem o problema, caracterizado por pausas na respiração à noite.
Quando se considera só a
ocorrência de pausas respiratórias (sem outros critérios necessários para caracterizar a
síndrome, como fadiga de dia),
o índice sobe para 38%.
"O problema é preocupante
porque a pessoa fica com o sono
descontinuado e, mesmo que
durma um bom número de horas, acorda cansada. Isso afeta a
capacidade de se concentrar, de
memorização, de raciocínio.
Cai a performance no trabalho
e a qualidade de vida em geral",
enumera o pneumologista e especialista em sono Maurício
Bagnato, do laboratório do sono do Hospital Sírio-Libanês.
A apneia também aumenta o
risco de ter doenças cardiovasculares. O trabalho feito no Instituto do Sono comprovou isso:
a prevalência de hipertensão,
por exemplo, foi de 55% nos indivíduos com apneia leve e de
61% naquelas com apneia moderada ou acentuada. Em pessoas sem apneia foi de 26%.
Outra descoberta da pesquisa foi que pacientes com apneia
moderada ou acentuada tiveram duas vezes mais chance de
ter intolerância à glicose -que
pode levar ao diabetes- ou o
próprio diabetes tipo 2.
Apesar de muitas vezes o excesso de peso ser o responsável
por isso, nesse caso a relação foi
observada independentemente
da obesidade, diz a pneumologista e especialista em sono Sônia Togeiro, também autora do
estudo. "A relação com a hipertensão está bem documentada,
mas poucos estudos mostram a
ligação com o diabetes."
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