|
Próximo Texto | Índice
Brasil tem 25 bebês gerados com óvulos vitrificados
Técnica aprimorada é adotada em 11 outros países e já gerou 600 crianças
Especialistas brasileiros questionam a utilidade do procedimento e dizem que ainda é preciso analisar resultados de longo prazo
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Encarada com ceticismo até
bem pouco tempo atrás, a técnica de congelamento de óvulos foi aprimorada e se transformou em uma das estrelas
dos congressos de reprodução
humana neste ano. Doze países, inclusive o Brasil, estão
adotando a procedimento (vitrificação) e 600 bebês já nasceram no mundo por meio dele- ao menos 25 no Brasil.
Desenvolvida por um grupo
liderado pelo japonês Masashige Kawayoama, a vitrificação é
um processo de congelamento
ultra-rápido que, diferentemente do congelamento lento
que é feito habitualmente, evita
a formação de gelo no interior
do óvulo (que pode destrui-lo
no descongelamento).
O congelamento de espermatozóides e de embriões já é feito
há muito tempo, mas o resultado com óvulos era desanimador. De cada dez submetidos ao
congelamento, apenas um "sobrevivia" ao processo. Por essa
razão, ele só era indicado a mulheres que iam se submeter a
tratamentos do câncer, que podem destruir a fertilidade.
Segundo os especialistas, o
"pulo do gato" da nova técnica é
a rapidez no congelamento.
Antes, a temperatura demorava entre 120 e 180 minutos para
cair aos -196 C. Agora, o processo leva um segundo.
O preparo dos óvulos também é outro. Antes, eles recebiam uma dose pequena de
substâncias para proteger suas
estruturas internas. Na nova vitrificação, a concentração dessas substâncias é mais alta e invade o interior do óvulo para
substituir a água ali contida.
Para o embriologista Peter
Nagy, diretor de um serviço de
biologia reprodutiva em Atlanta (EUA), o aperfeiçoamento da
técnica de vitrificação foi "incrível". "Temos conseguido resultados [gravidezes] muito semelhantes aos dos obtidos com
o uso de óvulos não-congelados", garante. Segundo ele, a
técnica já permite que serviços
ofereçam a "preservação da fertilidade" às mulheres com menos de 40 anos que pretendem
adiar a maternidade.
O ginecologista Eduardo Mota, da clínica Huntington, é
mais cauteloso. "É uma técnica
que carece de resultados a longo prazo, mas parece ser a melhor forma de dar a mulheres
que não tenham outra opção
uma perspectiva de preservar a
sua fertilidade. Desde que elas
entendam os limites da chance
de gestação por ciclo [de fertilização in vitro]." Na clínica, 15
bebês já nasceram por meio de
óvulos congelados e outros cinco estão a caminho, diz Mota.
O urologista Edson Borges,
da clínica Fertility, acredita
que uma das vantagens da vitrificação de óvulos seja a possibilidade de armazenar óvulos
doados por outras pacientes
com objetivo de formar um
"banco de óvulos" -a exemplo
do que existe com esperma. O
serviço já recebeu 12 doações.
Borges questiona a utilidade
de as mulheres congelarem
seus óvulos para uso futuro.
"Como prever que uma jovem
não vá querer conceber naturalmente sem a necessidade
das técnicas de reprodução assistida?", questiona o médico.
Ele calcula que, para conseguir gerar um bebê com óvulos
congelados, uma mulher teria
de se submeter a pelo menos
duas estimulações ovarianas
para produzir de 20 a 30 óvulos. Depois é preciso considerar
as taxas de fecundação, de implantação e de aborto espontâneo. "Tempos que pensar."
Outra questão apontada por
Borges é a falta de estudos mostrando o tempo de viabilidade
de preservação de óvulos vitrificados. "Por analogia com o
congelamento de embriões,
consideramos que os óvulos
podem permanecer congelados
por um período muito longo
sem que ocorra nenhuma alteração em sua qualidade e viabilidade", argumenta Nagy.
Segurança
Até o momento, estudos
mostram que a técnica é segura
do ponto de vista de possíveis
má-formações. "O índice de defeitos de nascença entre as
crianças fruto de óvulos vitrificados é de 2,5%, porcentagem
comparável ao de nascimentos
naturais ou por fecundação in
vitro", afirma Ri-Cheng Chian,
da Universidade McGill, de
Montreal (Canadá), autor de
um recente estudo publicado
na revista "Reproductive Biomedicine Online".
Próximo Texto: Alergias podem proteger contra câncer Índice
|