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Reino Unido vota fertilização com três 'pais'

Consulta pública discutirá técnica que usa material genético de doadora em caso de doença transmitida pela mãe

Criança teria apenas 0,1% do DNA da doadora; nesta semana, EUA também iniciaram discussão sobre o tema

CLÁUDIA COLLUCCI DE SÃO PAULO

O Reino Unido deverá regulamentar até o fim do ano uma nova técnica de reprodução assistida que poderá permitir que uma criança seja gerada com DNA de um homem e duas mulheres. O intuito é evitar doenças genéticas transmitidas pela mãe.

Nos EUA, a FDA (agência que regula fármacos e alimentos) iniciou nesta semana discussão semelhante, mas ainda não há definição se haverá liberação. No Reino Unido, uma comissão avalia questões científicas e éticas da técnica desde 2011.

Ontem, o governo britânico divulgou a primeira proposta de regulamentação, que ficará em consulta pública até maio. Depois, precisa ser votada pelo Parlamento.

A Secretaria da Saúde britânica informou que apoia o uso da técnica e que a consulta pública não colocará em debate se ela poderá ser usada, mas sim como será implantada. A ideia é que até o fim do ano, esteja liberada para testes em humanos.

Há duas técnicas sendo discutidas no Reino Unido. A primeira consiste em retirar o núcleo de um óvulo de uma mãe portadora de mutações no DNA mitocondrial (aquele de origem apenas materna) e transferi-lo para o óvulo sem núcleo de uma doadora com mitocôndrias "sadias".

A outra, ainda mais polêmica, utilizaria dois embriões já formados. Em ambas as técnicas, o embrião ficaria com material genético de três pessoas: o DNA do núcleo do espermatozoide do pai, o DNA do núcleo do óvulo da mãe e o DNA das mitocôndrias do óvulo da doadora.

O DNA mitocondrial corresponde a 0,1% do DNA total --37 entre 20 mil a 30 mil genes.

A proposta do Reino Unido é que a técnica seja testada apenas em mulheres altamente suscetíveis de transmitir aos filhos doenças mitocondriais, que ocorrem quando as organelas (que fornecem energia para as células) não funcionam direito.

As doenças afetam um a cada grupo de 6.500 bebês e podem causar incapacidade muscular, insuficiência cardíaca e até a morte.

O governo do Reino Unido propõe que a doadora mitocondrial não tenha direitos sobre a criança a ser gerada.

A manipulação genética de seres humanos tem gerado debates em todo o mundo. O temor é que ela leve à produção de bebês com características selecionadas em laboratório ("designers babies").

Segundo o médico Artur Dzik, da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana, a técnica já vem sendo discutida em congressos desde 1996 e ainda não deslanchou. "É muito controvertida."

Para o ginecologista Carlos Petta, professor da Unicamp, não há como saber a repercussão futura dessa mistura de genes. "Uma coisa é acompanhar animais por algum tempo em laboratório. Outra é colocar pessoas em risco."


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