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Pesquisas questionam o papel do colesterol 'bom'

Estudo aponta que pessoas com HDL elevado não são mais protegidas contra infarto

Outro trabalho mostra que colesterol HDL é dividido em 'bom' e 'ruim', dependendo da proteína ligada a ele

DA EDITORA-ASSISTENTE DE “CIÊNCIA+SAÚDE”

Dois novos estudos podem complicar a maneira como são vistos os exames rotineiros para detectar o colesterol "bom" e o "ruim" e o que deve ser feito para evitar o entupimento das artérias.

Uma pesquisa publicada na revista médica "Lancet" mostra que, em pessoas com tendência genética a ter altos níveis de HDL, o colesterol "bom", não houve menor risco de infarto.

Foram analisadas 116 mil pessoas. Os pesquisadores verificaram se elas tinham um gene conhecido por aumentar os níveis de HDL presente em 2,6% da população. Quem tinha a variação supostamente protetora, no entanto, não teve menos risco de sofrer um infarto.

O mesmo resultado foi encontrado quando foram pesquisadas outras 14 variações genéticas também associadas a um nível maior de HDL.

Para efeito de comparação, os pesquisadores também verificaram o risco cardíaco de pessoas com genes que aumentam o colesterol "ruim", o LDL. Quem tinha essa variação sofria mais infartos do que a população em geral, o que confirma que o colesterol ruim é ruim mesmo.

Mas os achados da pesquisa põem em xeque a busca de tratamentos para elevar o HDL, lipoproteína responsável por "limpar" as artérias e que tem ação anti-inflamatória e antioxidante.

Um segundo estudo, publicado na revista da American Heart Association, mostra que o HDL, na verdade, não é só bom, mas tem uma parte boa e outra ruim, dependendo da presença de uma proteína inflamatória ligada a ele, a apoC-III.

O estudo, feito por pesquisadores da Escola de Medicina de Harvard, analisou as lipoproteínas do sangue de mais 52 mil mulheres e 18 mil homens. Os resultados foram comparados com os eventos cardiovasculares sofridos pelos grupos.

A presença da proteína inflamatória apoC-III no HDL foi associada com maior risco para o coração.

De acordo com o cardiologista Raul Dias Santos, diretor da unidade clínica de lipídes do Incor (Instituto do Coração), os trabalhos põem em evidência o fato de que o HDL não é uma coisa só.

"Dependendo da mutação que a pessoa tenha ou do remédio que tome, o HDL pode subir, mas o aumento pode não ser no tipo protetor."

Por enquanto, afirma o médico, é difícil separar os diferentes tipos de HDL nos exames de rotina, mas isso pode ser possível no futuro.

Segundo Santos, no entanto, os resultados dos estudos não devem mudar a forma como os médicos usam os números do colesterol para determinar o risco cardíaco.

"O LDL alto continua sendo ruim e o HDL baixo ainda é um indicador de risco cardíaco. Fumo e obesidade estão associados a HDL baixo. O que se questiona agora são os tratamentos para elevar o HDL."

(DÉBORA MISMETTI)

Com o "New York Times"

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