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Nobel defende taxa para enfrentar a Aids

Iniciativa foi adotada pela França; descobridora francesa do HIV quer levar ideia a outros países ricos do planeta

Ao assumir chefia de sociedade internacional de combate à doença, pediu mais atenção a grupos de risco

Steve Shapiro/IAS
A francesa Françoise Barré-Sinoussi, ganhadora do Nobel de Medicina, em Washington
A francesa Françoise Barré-Sinoussi, ganhadora do Nobel de Medicina, em Washington

RAFAEL GARCIA
EM WASHINGTON

A virologista francesa Françoise Barré-Sinoussi tomou posse ontem como presidente da Sociedade Internacional da Aids elogiando o presidente de seu país, François Hollande, por criar uma taxa sobre transações financeiras que ajudará a financiar a luta contra o HIV.

Ganhadora do Prêmio Nobel em Medicina ou Fisiologia de 2008 pela descoberta do vírus, ela disse que vai usar seu prestígio para convencer outros países a adotarem estratégia similar.

Barré-Sinoussi, que compartilhou seu Nobel com Luc Montaigner, também aproveitou o discurso de posse na Conferência Internacional da Aids, em Washington, para fazer pressão sobre os laboratórios farmacêuticos.

Criticou a rigidez na cobrança de royalties sobre medicamentos antirretrovirais. Disse que vai dar atenção especial a questões de direitos humanos que impedem o acesso de homossexuais, usuários de droga e trabalhadoras do sexo ao tratamento.

Confira a entrevista que ela concedeu à Folha.

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Folha - A sra. elogiou a decisão do governo da França de criar um imposto sobre transações financeiras para bancar o combate ao HIV. Que argumentos a sra. vai usar para tentar convencer outros países a fazer o mesmo?
Françoise Barré-Sinoussi - Em 2008 eu já comecei a contatar líderes políticos para falar sobre a situação do HIV e da Aids. Tenho falado com políticos sobre a situação dos HSH [homens que fazem sexo com homens] e sobre a situação dos usuários de drogas. Então, estou disposta a ser a voz de todas as comunidades afetadas pelo HIV.
Com relação ao investimento em diferentes governos, já consegui falar algumas vezes com líderes políticos de países com recursos limitados, explicando que eles precisam ter melhor ligação entre teste, cuidados e tratamento.
Acabei de receber a notícia de que a África do Sul tem agora um programa associando tuberculose, DSTs e HIV. Isso é uma coisa exemplar que tem de ser feita em outros países do mundo.
Enfim, se você ganha um Prêmio Nobel e pede um encontro, certamente a porta se abre. Vou fazer meu melhor para que as portas continuem abertas e manter contato com líderes em todo lugar sempre que for preciso.
Se necessário, vou fazer isso até mesmo na Europa Oriental, porque estamos todos preocupados com a situação das populações-chave afetadas naquela região e na Ásia Central. É claro que nós não sabemos se vamos obter os recursos, mas é nossa obrigação tentar. É minha obrigação tentar.

Qual papel a sra. vê para o antirretroviral Truvada nos países em desenvolvimento? Muitos governos têm medo de adotar a droga como ferramenta de saúde pública para prevenção e disseminar a ideia de que a camisinha não é mais necessária.
Há estudos hoje confirmando que o Truvada é uma boa ferramenta para prevenção, mas é claro que nós precisamos de mais do que isso.
E há muitas questões sem resposta, além disso. Esse tipo de tratamento vai ter aderência? Quais são os efeitos de longo prazo do uso do Truvada como profilaxia? Essas são só algumas das questões em aberto, e devemos deixar as pesquisas darem conta dessa tarefa.
Enquanto isso, é responsabilidade sua, como integrante da mídia, explicar que o Truvada é uma ferramenta para ser usada para prevenção de forma adicional, e certamente para populações específicas. Então, é preciso encorajar todos a tomarem outras medidas como proteção. O Truvada é apenas um componente adicional.

A OMS e a Unaids têm falado na possibilidade de acabar com a epidemia de Aids em duas ou três décadas usando apenas os medicamentos antirretrovirais e as campanhas de prevenção. A senhora acredita que será possível deter o espalhamento do HIV sem que surja uma vacina e uma cura?
Se nós seguirmos o que dizem os modelos matemáticos, eles mostram claramente que, se pudermos atingir todo mundo que precisa estar em tratamento, nós poderemos acabar com a epidemia em 2050. Isso foi relatado.
Há um grande número de obstáculos, porém. Nós temos de fazer nosso melhor para eliminar os obstáculos, porque isso é uma questão de aprimorar o sistema de atendimento a saúde nos países. Temos de atingir todas as pessoas que precisam de melhores cuidados e tratamentos para o HIV, e também para outras doenças.

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