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Minha História

Muito além da extrema-unção

Há 20 anos na capela do Hospital das Clínicas, padre lança livro e diz não atender só os que estão morrendo

Simon Plestenjak/Folhapress
O padre Anísio Baldessin, na entrada da capela do HC
O padre Anísio Baldessin, na entrada da capela do HC

(...) Depoimento a

MARIANA VERSOLATO
DE SÃO PAULO

RESUMO
O padre Anísio Baldessin, 48, acaba de lançar o livro "Entre a Vida e a Morte", que reúne as histórias que colecionou em duas décadas de trabalho na capela do HC

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Nunca gostei de hospital e, quando pensei em ser padre, nem cogitava trabalhar em um. Pensava que cuidar de doentes não era pra mim.

Mas acabei fazendo um estágio da faculdade de teologia no Hospital das Clínicas da USP. Gostei tanto que neste ano completo 20 anos na capela do HC.

Em um hospital é o padre que vai até as pessoas, então falo com quem está nos quartos, na UTI, na enfermaria e com aqueles que me param pelo caminho.

As pessoas desabafam. se confessam, pedem bênçãos e a unção dos enfermos, conhecida de maneira errada como extrema-unção. É que antes a pessoa só podia ser ungida uma vez, em uma situação de extrema gravidade.

Hoje a unção pode ser ministrada em qualquer momento e significa proteção e vitalidade. Mas tem gente que pensa que a ela atrai a morte, então poucos pedem.

Quando visito os pacientes, ouço muito a frase: "Xi, o padre chegou!". No livro, queria desmistificar a ideia de que padre só está no hospital para atender quem está morrendo.

No HC, já celebrei alguns casamentos. Um deles foi na UTI. A paciente, de 70 anos, era casada só no civil e falou: "Preciso me casar na lei de Deus". No começo o pessoal achou que ela estava delirando (risos). Juntamos a equipe e fizemos o casamento lá mesmo, foi muito bonito.

Em um mesmo dia, já celebrei casamento, atendi à solicitação de um paciente que achava estar prestes a morrer e queria se confessar e fui a um velório.

Me perguntam muito se levo o sofrimento que vejo aqui para casa. A gente não se acostuma nunca com a morte e a dor dos outros, mas aprende a conviver. O que ajuda é pensar que minha função como assistente espiritual no hospital não é solucionar todos os problemas, mas ajudar as pessoas a ter força para enfrentá-los.

ENTRE A VIDA E A MORTE -MEDICINA E RELIGIÃO
EDITORA Loyola
PREÇO R$ 23

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