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Hominídeo demorou para deixar árvores

Análise de ombro de australopiteco revela que, embora bípede, ele era grande escalador

Zeray Alemseged/Dikika Research Project
Crânio de Selam, espécime do hominídeo Australopithecus afarensis que foi estudado
Crânio de Selam, espécime do hominídeo Australopithecus afarensis que foi estudado

RAFAEL GARCIA
EM WASHINGTON

O processo que levou os ancestrais do homem a deixarem de viver nas árvores e virarem uma espécie totalmente adaptada ao chão foi mais lento do que se achava. Uma nova análise mostra que o Australopithecus afarensis (ancestral do Homo sapiens que viveu há mais de 3 milhões de anos) continuou frequentando troncos e galhos com regularidade, apesar de já ser bípede.

Mais conhecidos pelo nome de Lucy, fóssil de uma fêmea da espécie achado em 1974 na Etiópia, os A. afarensis vinham desafiando cientistas até agora. O formato de seu braço era difícil de estudar, em razão da falta de fósseis bem preservados.

O novo estudo, liderado por David Green, da Universidade Midwestern (EUA), foi a primeira análise detalhada de uma escápula, osso que liga o ombro ao braço, achado em 2000 e pertencente a outra fêmea, batizada de Selam.

Um análise do fóssil e uma comparação com macacos mostra que a cavidade da escápula onde o braço se encaixa estava virada para cima, sinal de que Selam costumava se pendurar em árvores.

O estudo de Green tem o potencial de encerrar um debate antigo, pois muitos ainda defendem que o A. afarensis já passava o tempo todo no andar térreo. Segundo o americano, porém, há outras razões para acreditar que o processo de adaptação ao chão foi longo e complexo.

"Os australopitecos tinham corpo muito pequeno, dentes caninos pequenos e não produziam ferramentas e armas sofisticadas, se é que produziam alguma coisa", disse Green à Folha. "Como não tinham como se proteger dos predadores que rondavam o chão, provavelmente escalavam árvores durante a noite. Além disso, a dentição sugere que ainda comiam frutas e outros produtos arbóreos, então subir em árvores era importante para eles."

O estudo de Green, publicado hoje na revista "Science" deve desfazer uma ideia errada sobre Lucy. O fóssil da fêmea já exibia uma escápula fragmentada, apontada para cima. Humanos modernos têm o osso virado para o lado, mas nossos bebês nascem com uma forma primitiva de escápula, meio virada para cima também.

Criou-se a hipótese de que a escápula de Lucy era assim só porque seu corpo era pequeno como o de um filhote. Estudando a transformação do osso da infância à vida adulta em várias espécies, Green desmontou a ideia.

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