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USP
"O "roteiro desgastado de
sempre" das greves de funcionários, professores e estudantes da USP, que o editorial "Depois da greve" (Opinião, 2/7)
aponta, vai continuar se repetindo, pelo simples fato de que,
na USP, as raízes dos problemas -uma "estatuinte" das
mais antidemocráticas e uma
estrutura de poder que lembra
um papado- permanecem
propositadamente intactas. Joga-se a sujeira para debaixo do
tapete, sem tocar no cerne das
questões.
Se desta vez a USP não passa
por uma grave crise, eu pergunto: é preciso uma crise para que
se legitime o direito de enxergar problemas na universidade? O debate não encontra espaço na USP, e as divergências,
que deveriam ser celebradas,
são encaradas como problema.
Se representatividade não é o
"ponto principal",
então que não se julgue o uso
do radicalismo como "principal
instrumento de pressão".
É inadmissível que um punhado de professores titulares,
que representam por volta de
1,5% da comunidade da USP,
detenha mais de 75% das cadeiras do Conselho Universitário e que a decisão final sobre a
escolha dos diretores de unidade esteja nas mãos da reitora.
E se o contribuinte mantenedor da USP é usado como desculpa para não haver votação
direta para reitor, cabe a pergunta: até quando a USP será
um feudo em que a maior parte
dos contribuintes fica de fora
em virtude das deprimentes
condições do ensino público?
Isso sim é uma vergonha para o
contribuinte que mantém a
USP, e não as eleições diretas
para o cargo máximo na maior
universidade do Brasil."
TULIO BUCCHIONI , estudante de jornalismo
da USP (São Paulo, SP)
"A greve da USP cessou, felizmente, com vitória antigrevista. As negociações salariais não
chegaram a acordo. O término
da greve representou para nós,
alunos, o fim da opressão de
uma associação que não representa os interesses da massa
uspiana, o DCE. Nós estamos
do lado do Estado, da ordem, da
PM no campus.
Com a greve, a Comissão para a Defesa dos Interesses Estudantis cresceu, e a chance de
se organizar é muito maior. A
própria comunidade da USP no
Orkut deixou o movimento antigreve mais visível. Que haja
um parecer dessa comunidade
em respeito aos que querem estudar e que não aderiram à greve -e, da mesma forma, que ela
se posicione pela paralisação
quando houver uma injustiça
contra os alunos."
MAURÍLIO M. DOS SANTOS (Osasco, SP)
Matuto
"Engana-se o colunista Marcelo Coelho ao achar que o
Brasil é só o que existe entre a avenida Paulista, em São
Paulo, e a Rio Branco, no Rio -ou em qualquer outra avenida das capitais. Seu artigo "Mundo matuto" (Ilustrada, 1º/7) é de um preconceito inimaginável. Que ele tenha
traumas infantis de festas juninas, herdados de sua mãe, é
seu problema pessoal. Que ache ridículo que senadores e o
presidente Lula sejam fotografados em trajes típicos, também é sua opinião pessoal. Mas daí a dizer que, "revivendo
o mundo matuto, a sociedade celebra um passado distante", é mais do que preconceito: é ignorar a existência de um
mundo matuto que se pretende extinguir na marra. Há décadas, Milton Nascimento já dizia que "o Brasil é muito
mais que qualquer zona sul". E, na cidade de São Paulo,
além da enorme miscigenação de povos, há também a miscigenação de culturas vindas de todas as regiões deste
imenso país. Se os jornais -esta Folha inclusa- olhassem
mais para o "país arcaico" de 170 milhões de pessoas que
existe longe da USP e da PUC-RJ, venderiam muito mais."
ADRIANA BACELLAR SANTOS (Macaé, RJ)
MP 458
"Discordo das declarações do
presidente Lula em relação à
MP 458 (a "MP da Grilagem').
A alegação de que desmatadores não são criminosos carece de fundamento, pois o fato
de terem enfrentado sofrimentos para conseguir os seus objetivos de construir um negócio
rentável não se justifica do
ponto de vista ético. Aqueles
que cometem crimes também
padecem sacrifícios, mas isso
não pode ser justificativa para
suas ações. Por trás dessas
ações está o objetivo maior: ganhar dinheiro rapidamente.
A humanidade, ao optar pela
criação de animais, está levando o planeta à catástrofe. Rebanhos imensos ocupam o espaço
de plantações e consomem a já
escassa água doce. Grandes extensões estão destinadas à soja,
base das rações para bois, porcos e galinhas na Europa.
É preciso reduzir drasticamente o consumo de carne para que o ser humano possa dar o
salto qualitativo civilizatório
que se espera dele.
ANA MARIA S. PRIZENDT (São Paulo, SP)
Internet
"No Fórum Internacional do
Software Livre, o presidente
Lula disse que o PL 84 de 1999,
chamado pelos críticos de Lei
Azeredo, "não quer coibir abuso
na internet, ele quer a censura".
Chamar de censura um projeto que está em discussão final
no Parlamento, após 13 anos de
tramitação, é que é censura.
O PL 84 não censura. Ele altera leis penais, tipifica os delitos e pune os que usam a informática para cometê-los. Apenas os criminosos serão atingidos, apesar da desinformação
generalizada. E não custa lembrar que outros países estão
criando órgãos especiais para
cuidar da criminalidade crescente que usa a informática como meio ou como objetivo. O
Brasil está ficando para trás no
combate a esses crimes digitais.
E o governo tem sua parcela de
responsabilidade."
JOSÉ HENRIQUE PORTUGAL (Brasília, DF)
João Wainer - 25.mar.2009/Folha Imagem
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Favela do Moinho, na região da Barra Funda, em São Paulo
Abordagem inócua
"A superficialidade com que
parte da imprensa tem tratado
assuntos importantes, como as
favelas e a violência, e a profundidade com que tem tratado assuntos irrelevantes, como o futebol, causa-me espanto e uma
grande preocupação.
A imprensa é responsável
por parte significativa do pensamento nacional, sobretudo
nas classes menos favorecidas.
Exemplos como os mostrados
no "Jornal Nacional" na segunda-feira passada, sobre favelas
no Rio de Janeiro, são inconcebíveis para uma emissora daquele nível. Falou-se de tudo,
menos do que importa, que é o
fim das favelas, não só no Rio,
mas em todo o país.
É inócua qualquer abordagem que não tenha como premissa o fim das favelas. Violência e favelas andam juntas. O
fim das favelas não pode ser
uma utopia; é uma realidade
que precisa ser encarada de
frente, o quanto antes, custe o
que custar. Afinal, para que
servem as reservas do país?
Em cinco anos, o número de
favelas no Rio saltou de 560 para 1.067. E nada se diz sobre o
tema, que é um acinte à cidadania. Jamais haverá segurança
pública num cenário assim. É
preciso uma abordagem construtiva e realista, que cobre os
responsáveis para que tenham
vergonha na cara e encontrem
soluções para o problema, que
deveria ser a prioridade de governos e da sociedade.
As favelas estão tomando
conta das cidades brasileiras, e
com elas o crime organizado
prospera cada dia mais.
Parte da imprensa do país
tem considerado apenas as
consequências dessa situação,
e não as suas causas. É preciso
que esse enfoque seja revisto
urgentemente, para o bem da
nação brasileira."
JOSÉ APARECIDO RIBEIRO
(Belo Horizonte, MG)
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