São Paulo, domingo, 05 de julho de 2009

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USP
"O "roteiro desgastado de sempre" das greves de funcionários, professores e estudantes da USP, que o editorial "Depois da greve" (Opinião, 2/7) aponta, vai continuar se repetindo, pelo simples fato de que, na USP, as raízes dos problemas -uma "estatuinte" das mais antidemocráticas e uma estrutura de poder que lembra um papado- permanecem propositadamente intactas. Joga-se a sujeira para debaixo do tapete, sem tocar no cerne das questões.
Se desta vez a USP não passa por uma grave crise, eu pergunto: é preciso uma crise para que se legitime o direito de enxergar problemas na universidade? O debate não encontra espaço na USP, e as divergências, que deveriam ser celebradas, são encaradas como problema. Se representatividade não é o "ponto principal", então que não se julgue o uso do radicalismo como "principal instrumento de pressão".
É inadmissível que um punhado de professores titulares, que representam por volta de 1,5% da comunidade da USP, detenha mais de 75% das cadeiras do Conselho Universitário e que a decisão final sobre a escolha dos diretores de unidade esteja nas mãos da reitora.
E se o contribuinte mantenedor da USP é usado como desculpa para não haver votação direta para reitor, cabe a pergunta: até quando a USP será um feudo em que a maior parte dos contribuintes fica de fora em virtude das deprimentes condições do ensino público?
Isso sim é uma vergonha para o contribuinte que mantém a USP, e não as eleições diretas para o cargo máximo na maior universidade do Brasil."
TULIO BUCCHIONI , estudante de jornalismo da USP (São Paulo, SP)

 

"A greve da USP cessou, felizmente, com vitória antigrevista. As negociações salariais não chegaram a acordo. O término da greve representou para nós, alunos, o fim da opressão de uma associação que não representa os interesses da massa uspiana, o DCE. Nós estamos do lado do Estado, da ordem, da PM no campus.
Com a greve, a Comissão para a Defesa dos Interesses Estudantis cresceu, e a chance de se organizar é muito maior. A própria comunidade da USP no Orkut deixou o movimento antigreve mais visível. Que haja um parecer dessa comunidade em respeito aos que querem estudar e que não aderiram à greve -e, da mesma forma, que ela se posicione pela paralisação quando houver uma injustiça contra os alunos."
MAURÍLIO M. DOS SANTOS (Osasco, SP)

Matuto
"Engana-se o colunista Marcelo Coelho ao achar que o Brasil é só o que existe entre a avenida Paulista, em São Paulo, e a Rio Branco, no Rio -ou em qualquer outra avenida das capitais. Seu artigo "Mundo matuto" (Ilustrada, 1º/7) é de um preconceito inimaginável. Que ele tenha traumas infantis de festas juninas, herdados de sua mãe, é seu problema pessoal. Que ache ridículo que senadores e o presidente Lula sejam fotografados em trajes típicos, também é sua opinião pessoal. Mas daí a dizer que, "revivendo o mundo matuto, a sociedade celebra um passado distante", é mais do que preconceito: é ignorar a existência de um mundo matuto que se pretende extinguir na marra. Há décadas, Milton Nascimento já dizia que "o Brasil é muito mais que qualquer zona sul". E, na cidade de São Paulo, além da enorme miscigenação de povos, há também a miscigenação de culturas vindas de todas as regiões deste imenso país. Se os jornais -esta Folha inclusa- olhassem mais para o "país arcaico" de 170 milhões de pessoas que existe longe da USP e da PUC-RJ, venderiam muito mais."
ADRIANA BACELLAR SANTOS (Macaé, RJ)

MP 458
"Discordo das declarações do presidente Lula em relação à MP 458 (a "MP da Grilagem').
A alegação de que desmatadores não são criminosos carece de fundamento, pois o fato de terem enfrentado sofrimentos para conseguir os seus objetivos de construir um negócio rentável não se justifica do ponto de vista ético. Aqueles que cometem crimes também padecem sacrifícios, mas isso não pode ser justificativa para suas ações. Por trás dessas ações está o objetivo maior: ganhar dinheiro rapidamente.
A humanidade, ao optar pela criação de animais, está levando o planeta à catástrofe. Rebanhos imensos ocupam o espaço de plantações e consomem a já escassa água doce. Grandes extensões estão destinadas à soja, base das rações para bois, porcos e galinhas na Europa.
É preciso reduzir drasticamente o consumo de carne para que o ser humano possa dar o salto qualitativo civilizatório que se espera dele.
ANA MARIA S. PRIZENDT (São Paulo, SP)

Internet
"No Fórum Internacional do Software Livre, o presidente Lula disse que o PL 84 de 1999, chamado pelos críticos de Lei Azeredo, "não quer coibir abuso na internet, ele quer a censura".
Chamar de censura um projeto que está em discussão final no Parlamento, após 13 anos de tramitação, é que é censura.
O PL 84 não censura. Ele altera leis penais, tipifica os delitos e pune os que usam a informática para cometê-los. Apenas os criminosos serão atingidos, apesar da desinformação generalizada. E não custa lembrar que outros países estão criando órgãos especiais para cuidar da criminalidade crescente que usa a informática como meio ou como objetivo. O Brasil está ficando para trás no combate a esses crimes digitais.
E o governo tem sua parcela de responsabilidade."
JOSÉ HENRIQUE PORTUGAL (Brasília, DF)

João Wainer - 25.mar.2009/Folha Imagem
Favela do Moinho, na região da Barra Funda, em São Paulo

Abordagem inócua
"A superficialidade com que parte da imprensa tem tratado assuntos importantes, como as favelas e a violência, e a profundidade com que tem tratado assuntos irrelevantes, como o futebol, causa-me espanto e uma grande preocupação.
A imprensa é responsável por parte significativa do pensamento nacional, sobretudo nas classes menos favorecidas.
Exemplos como os mostrados no "Jornal Nacional" na segunda-feira passada, sobre favelas no Rio de Janeiro, são inconcebíveis para uma emissora daquele nível. Falou-se de tudo, menos do que importa, que é o fim das favelas, não só no Rio, mas em todo o país.
É inócua qualquer abordagem que não tenha como premissa o fim das favelas. Violência e favelas andam juntas. O fim das favelas não pode ser uma utopia; é uma realidade que precisa ser encarada de frente, o quanto antes, custe o que custar. Afinal, para que servem as reservas do país?
Em cinco anos, o número de favelas no Rio saltou de 560 para 1.067. E nada se diz sobre o tema, que é um acinte à cidadania. Jamais haverá segurança pública num cenário assim. É preciso uma abordagem construtiva e realista, que cobre os responsáveis para que tenham vergonha na cara e encontrem soluções para o problema, que deveria ser a prioridade de governos e da sociedade. As favelas estão tomando conta das cidades brasileiras, e com elas o crime organizado prospera cada dia mais.
Parte da imprensa do país tem considerado apenas as consequências dessa situação, e não as suas causas. É preciso que esse enfoque seja revisto urgentemente, para o bem da nação brasileira."
JOSÉ APARECIDO RIBEIRO (Belo Horizonte, MG)


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