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Semana do leitor
leitor@uol.com.br
Fumo
"São Paulo, o mais rico Estado do país, convive ao longo dos
anos com um sistema prisional
perverso, que jamais ressocializará ninguém. Não há recursos
humanos, estrutura suficiente
(nem em qualidade nem em
quantidade) e muito menos
vontade política para tal.
No sistema de saúde, espera-se -quando não se morre antes- longos meses por exames
corriqueiros e simples, mas de
importância fundamental para
quem os procura. Faltam profissionais qualificados para a
maioria das especialidades médicas. E digo isso apenas sobre a
região de Jundiaí, onde moro
(mas sei que há lugares piores).
Nossa cidade é a oitava economia do Estado. Universidade
pública? Nenhuma (há mais de
dez particulares e caras). Batemos todos os recordes de roubos no ano que se passou -furtos, latrocínios e mais de 400
veículos roubados-, gerando o
seguro mais caro do Estado. E
por aí vai.
Agora vem a minha pergunta:
se não há gente para substituir
os investigadores de polícia
-hoje meros guardas de presídios- e se não temos médicos
nem hospitais suficientes para
atender a população, onde foram buscar gente para fiscalizar os fumantes nas madrugadas da vida?
Não sou contrário à restrição
ao fumo. Apenas acho que um
governo sério tem de dar prioridade às coisas mais importantes. E, no momento, morre
mais gente nas portas dos hospitais -por falta de atendimento e por causa da bandidagem
que tomou conta do Estado-
do que por causa do fumo.
Nossos governantes, antes de
criarem mais leis, que só servem para que eles apareçam na
mídia, precisam cumprir as
existentes.
Neste caso, há um agravante:
joga-se na mão do comerciante
um papel que jamais deveria
ser dele. Fiscalizar não é de sua
competência."
FRANCISCO DE SALES CORDEIRO
(Jundiaí, SP)
"A lei antifumo fere, no mínimo, a lei do livre-arbítrio, que
diz, trocando em miúdos, que
cada um é dono do seu nariz.
Não sou contra a nova lei,
longe disso, e, apesar de fumante, sei dos males que o fumo
passivo acarreta e o incômodo
que a fumaça do cigarro causa.
Mas daí à proibição total de fumar em lugares públicos, sem
dar opção aos fumantes, é uma
arbitrariedade que vai causar,
no mínimo, constrangimento
em bares, restaurantes e afins.
Haverá discussões e mal-entendidos que causarão vários
outros fatos que poderiam ser
evitados se simplesmente se
restringissem os fumantes à
uma área específica.
Vejo esta nova lei com desconfiança e com o temor de
que, com o tempo, fatos piores
possam acontecer, cerceando
nossas liberdades básicas.
A história é rica em fatos pequenos que originaram grandes desastres."
EDUARDO RODRIGUES
(São Paulo, SP)
"Depois de tanta discussão,
entrou em vigor a lei estadual
antifumo. Trata-se de um passo
importante para desestimular
o uso dessa droga que ceifa a vida de milhares de fumantes
(ativos e passivos) por câncer,
infarto e derrame.
Fico revoltado com os fumantes que declaram ser essa
lei um absurdo, pois seria contra a liberdade de cada um. Esquecem estes que a lei foi feita
visando a saúde da população.
Eu, como outros não fumantes,
temos o direito de não aspirar a
fumaça dessa verdadeira droga
que é o cigarro.
Só espero que a lei vingue e
não caia no esquecimento, como a Lei Seca."
RAFAEL ALABY FERREIRA
(São Paulo, SP)
Símbolos religiosos
"Sou padre católico e concordo plenamente com o Ministério Público de São Paulo por
querer retirar os símbolos religiosos das repartições públicas.
Nosso Estado é laico e não deve
favorecer esta ou aquela religião. A cruz deve ser retirada.
Nunca gostei de ver a cruz em
tribunais onde os pobres têm
menos direitos que os ricos e
onde sentenças são vendidas e
compradas. Não quero ver a
cruz nas Câmaras legislativas
onde a corrupção é a moeda
mais forte. Não quero a cruz em
delegacias, cadeias e quartéis
onde os pequenos são torturados. Não quero ver a cruz em
prontos-socorros e hospitais
onde pessoas morrem sem
atendimento.
É preciso retirar a cruz das
repartições públicas, porque
Cristo não abençoa a sórdida
política brasileira, causa da
desgraça dos pequenos e
pobres."
DEMETRIUS DOS SANTOS SILVA
frade (São Paulo, SP)
"Acerca do pedido de retirada dos símbolos religiosos dos
prédios públicos, observo que
há diferença entre um Estado
laico e um Estado antirreligioso. Além disso, é preciso distinguir Estado de nação. O Estado
é laico, mas a nação não é. Por
isso os símbolos religiosos estão presentes inclusive em prédios públicos, pois representam um sentimento da maioria
da nação.
Pode-se retirar esses símbolos dos edifícios públicos, mas
não se pode fazer uma perseguição a qualquer símbolo ou
expressão religiosa, como querem fazer na França, tentando
impedir o uso do véu por muçulmanas. Isso é desrespeitar a
liberdade de crença.
Quanto aos pronunciamentos do papa Pio 10 contra a separação entre igreja e Estado, é
preciso levar em consideração
o contexto da época para não
cairmos num anacronismo.
Isso não demonstra a posição
atual da Igreja Católica, pois ela
defende uma sã laicidade do
Estado, fato que garante a liberdade de ação da própria igreja."
KELVIN KONZ
(Florianópolis, SC)
"O racionalismo em plena
"pós-modernidade", misturado
ao individualismo e ao consumismo, é o pior que se poderia
apresentar à sociedade. Seguindo o raciocínio do doutor Roberto Livianu ("Tendências/
Debates", 7/8), teríamos que
mudar os nomes de várias cidades e Estados do Brasil, a começar por São Paulo. Assim, descarta-se, em nome de uma minoria intelectual e politicamente forte, toda uma tradição
fincada nos 500 anos de Brasil.
Pergunto: a quem atrapalham os símbolos religiosos que
marcam a ideologia religiosa do
povo brasileiro?"
LUIZ EDUARDO CANTARELLI
pós-graduado em ciência da religião
(Belo Horizonte, MG)
Nossos idosos
"Uma coisa que ainda me
causa muita admiração são as
propagandas para o Dia das
Mães e o Dia dos Pais. Os anúncios são sempre iguais: pais e
mães jovens, saradões, com
suas crianças.
O Brasil já não é um país de
maioria jovem. No entanto
nossos idosos são geralmente
esquecidos nessas datas. Parece que a juventude é detentora
de tudo o que há de melhor na
vida.
Passou dos 30, não há
chance de ser feliz, de ser belo,
de ter um relacionamento, de
ter um bom trabalho. Essa é a
mentalidade colonial que ainda
assombra o Brasil.
Nossos idosos também já foram jovens. E os jovens não
acreditam, mas também serão
idosos um dia."
CAMILA RAZZANTE
(São Caetano do Sul, SP)
Trajes
"Ouso discordar da posição
extremada da eminente juíza
Kenarik Boujikian Felippe em
seu artigo "Abaixo à censura judicial" ("Tendências/Debates",
5/8). Nele, a magistrada defende a ampla e irrestrita liberdade de expressão e de manifestação do pensamento sob o argumento de que tal direito está
consagrado na Constituição.
Mas não se pode olvidar que
em nossa Carta Magna nenhum dos direitos fundamentais elencados no dispositivo citado é absoluto, devendo ser
ponderado consoante a moderna doutrina e à luz dos demais
princípios constitucionais, que
irão nortear o magistrado.
O interesse público, a segurança institucional do Estado e
a vida íntima e privada dos cidadãos também têm albergados na Lei Maior a sua proteção. Uma vez devassados, podem causar gravames jamais
reparáveis por mero direito de
resposta.
Cabe ao Poder Judiciário fazer a necessária ponderação
entre os princípios constitucionais e assegurar, de forma democrática e equilibrada, a observância da ordem jurídica."
GUSTAVO ROGÉRIO
analista judiciário
federal (Limeira, SP)
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