São Paulo, domingo, 09 de agosto de 2009

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Semana do leitor

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Fumo

"São Paulo, o mais rico Estado do país, convive ao longo dos anos com um sistema prisional perverso, que jamais ressocializará ninguém. Não há recursos humanos, estrutura suficiente (nem em qualidade nem em quantidade) e muito menos vontade política para tal.
No sistema de saúde, espera-se -quando não se morre antes- longos meses por exames corriqueiros e simples, mas de importância fundamental para quem os procura. Faltam profissionais qualificados para a maioria das especialidades médicas. E digo isso apenas sobre a região de Jundiaí, onde moro (mas sei que há lugares piores). Nossa cidade é a oitava economia do Estado. Universidade pública? Nenhuma (há mais de dez particulares e caras). Batemos todos os recordes de roubos no ano que se passou -furtos, latrocínios e mais de 400 veículos roubados-, gerando o seguro mais caro do Estado. E por aí vai.
Agora vem a minha pergunta: se não há gente para substituir os investigadores de polícia -hoje meros guardas de presídios- e se não temos médicos nem hospitais suficientes para atender a população, onde foram buscar gente para fiscalizar os fumantes nas madrugadas da vida? Não sou contrário à restrição ao fumo. Apenas acho que um governo sério tem de dar prioridade às coisas mais importantes. E, no momento, morre mais gente nas portas dos hospitais -por falta de atendimento e por causa da bandidagem que tomou conta do Estado- do que por causa do fumo.
Nossos governantes, antes de criarem mais leis, que só servem para que eles apareçam na mídia, precisam cumprir as existentes. Neste caso, há um agravante: joga-se na mão do comerciante um papel que jamais deveria ser dele. Fiscalizar não é de sua competência."
FRANCISCO DE SALES CORDEIRO
(Jundiaí, SP)

"A lei antifumo fere, no mínimo, a lei do livre-arbítrio, que diz, trocando em miúdos, que cada um é dono do seu nariz. Não sou contra a nova lei, longe disso, e, apesar de fumante, sei dos males que o fumo passivo acarreta e o incômodo que a fumaça do cigarro causa.
Mas daí à proibição total de fumar em lugares públicos, sem dar opção aos fumantes, é uma arbitrariedade que vai causar, no mínimo, constrangimento em bares, restaurantes e afins. Haverá discussões e mal-entendidos que causarão vários outros fatos que poderiam ser evitados se simplesmente se restringissem os fumantes à uma área específica.
Vejo esta nova lei com desconfiança e com o temor de que, com o tempo, fatos piores possam acontecer, cerceando nossas liberdades básicas. A história é rica em fatos pequenos que originaram grandes desastres."
EDUARDO RODRIGUES
(São Paulo, SP)

"Depois de tanta discussão, entrou em vigor a lei estadual antifumo. Trata-se de um passo importante para desestimular o uso dessa droga que ceifa a vida de milhares de fumantes (ativos e passivos) por câncer, infarto e derrame.
Fico revoltado com os fumantes que declaram ser essa lei um absurdo, pois seria contra a liberdade de cada um. Esquecem estes que a lei foi feita visando a saúde da população. Eu, como outros não fumantes, temos o direito de não aspirar a fumaça dessa verdadeira droga que é o cigarro.
Só espero que a lei vingue e não caia no esquecimento, como a Lei Seca."
RAFAEL ALABY FERREIRA
(São Paulo, SP)

Símbolos religiosos
"Sou padre católico e concordo plenamente com o Ministério Público de São Paulo por querer retirar os símbolos religiosos das repartições públicas. Nosso Estado é laico e não deve favorecer esta ou aquela religião. A cruz deve ser retirada.
Nunca gostei de ver a cruz em tribunais onde os pobres têm menos direitos que os ricos e onde sentenças são vendidas e compradas. Não quero ver a cruz nas Câmaras legislativas onde a corrupção é a moeda mais forte. Não quero a cruz em delegacias, cadeias e quartéis onde os pequenos são torturados. Não quero ver a cruz em prontos-socorros e hospitais onde pessoas morrem sem atendimento.
É preciso retirar a cruz das repartições públicas, porque Cristo não abençoa a sórdida política brasileira, causa da desgraça dos pequenos e pobres."
DEMETRIUS DOS SANTOS SILVA
frade (São Paulo, SP)

"Acerca do pedido de retirada dos símbolos religiosos dos prédios públicos, observo que há diferença entre um Estado laico e um Estado antirreligioso. Além disso, é preciso distinguir Estado de nação. O Estado é laico, mas a nação não é. Por isso os símbolos religiosos estão presentes inclusive em prédios públicos, pois representam um sentimento da maioria da nação.
Pode-se retirar esses símbolos dos edifícios públicos, mas não se pode fazer uma perseguição a qualquer símbolo ou expressão religiosa, como querem fazer na França, tentando impedir o uso do véu por muçulmanas. Isso é desrespeitar a liberdade de crença.
Quanto aos pronunciamentos do papa Pio 10 contra a separação entre igreja e Estado, é preciso levar em consideração o contexto da época para não cairmos num anacronismo. Isso não demonstra a posição atual da Igreja Católica, pois ela defende uma sã laicidade do Estado, fato que garante a liberdade de ação da própria igreja."
KELVIN KONZ
(Florianópolis, SC)

"O racionalismo em plena "pós-modernidade", misturado ao individualismo e ao consumismo, é o pior que se poderia apresentar à sociedade. Seguindo o raciocínio do doutor Roberto Livianu ("Tendências/ Debates", 7/8), teríamos que mudar os nomes de várias cidades e Estados do Brasil, a começar por São Paulo. Assim, descarta-se, em nome de uma minoria intelectual e politicamente forte, toda uma tradição fincada nos 500 anos de Brasil.
Pergunto: a quem atrapalham os símbolos religiosos que marcam a ideologia religiosa do povo brasileiro?"
LUIZ EDUARDO CANTARELLI
pós-graduado em ciência da religião (Belo Horizonte, MG)

Nossos idosos

"Uma coisa que ainda me causa muita admiração são as propagandas para o Dia das Mães e o Dia dos Pais. Os anúncios são sempre iguais: pais e mães jovens, saradões, com suas crianças.
O Brasil já não é um país de maioria jovem. No entanto nossos idosos são geralmente esquecidos nessas datas. Parece que a juventude é detentora de tudo o que há de melhor na vida.
Passou dos 30, não há chance de ser feliz, de ser belo, de ter um relacionamento, de ter um bom trabalho. Essa é a mentalidade colonial que ainda assombra o Brasil.
Nossos idosos também já foram jovens. E os jovens não acreditam, mas também serão idosos um dia."
CAMILA RAZZANTE
(São Caetano do Sul, SP)

Trajes
"Ouso discordar da posição extremada da eminente juíza Kenarik Boujikian Felippe em seu artigo "Abaixo à censura judicial" ("Tendências/Debates", 5/8). Nele, a magistrada defende a ampla e irrestrita liberdade de expressão e de manifestação do pensamento sob o argumento de que tal direito está consagrado na Constituição.
Mas não se pode olvidar que em nossa Carta Magna nenhum dos direitos fundamentais elencados no dispositivo citado é absoluto, devendo ser ponderado consoante a moderna doutrina e à luz dos demais princípios constitucionais, que irão nortear o magistrado. O interesse público, a segurança institucional do Estado e a vida íntima e privada dos cidadãos também têm albergados na Lei Maior a sua proteção. Uma vez devassados, podem causar gravames jamais reparáveis por mero direito de resposta.
Cabe ao Poder Judiciário fazer a necessária ponderação entre os princípios constitucionais e assegurar, de forma democrática e equilibrada, a observância da ordem jurídica."
GUSTAVO ROGÉRIO
analista judiciário federal (Limeira, SP)



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