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Semana do Leitor
leitor@uol.com.br
Até quando
"A expressão mais usada na
seção dos leitores nos jornais
diante dos escândalos nos três
Poderes da República é "até
quando?".
Essa expressão deveria ser
complementada por "até quando vou decidir entrar na sociedade de amigos do meu bairro?"
ou "até quando vou adiar a minha filiação partidária?".
A participação política começa e ganha muito mais força
dessa forma, na vida comunitária e nas representações regionais dos partidos.
Mas o comodismo, aliado ao
individualismo, faz com que,
escândalo após escândalo, fiquemos repetindo "até quando... a minha passividade vai
contribuir para a impunidade e
a inoperância das nossas instituições?"."
ROBERTO CASTRO (São Paulo, SP)
"Na lógica perversa dos privilegiados, incluindo a do presidente Lula, se todo o mundo
comete "erros" (um eufemismo
para crimes), por que impedi-los de acontecer? Mas, afinal,
quem é este "todo o mundo"?
No teatro vicentino, num auto representado pela primeira
vez em 1532, na corte portuguesa, por ocasião do nascimento do príncipe dom Manuel, Todo o Mundo, personagem alegórico, é o rico mercador que mente, rouba, busca a
glória e quer o paraíso a qualquer custo; ao contrário de
Ninguém, que diz a verdade, sofre e é desenganado.
Deve ser por isso que Lula
vem repetindo que não adianta
a hipocrisia dos que criticam os
salários na Câmara ou o fato de
presentear familiares e amigos
com o dinheiro de "ninguém",
uma vez que sempre foi assim e
assim sempre será.
Mas os "ninguéns" já descobriram quem é este "todo o
mundo" e devem ativar a memória nas próximas eleições
para não eternizar o "Auto da
Lusitânia"."
VIRGÍNIA GONÇALVES (Londrina, PR)
Inovação em crise
"Importante o artigo "Crise, patentes e inovação", de
Roberto Nicolsky (terça-feira). A inovação tecnológica é
uma forma de enfrentar a atual crise, mas as dificuldades
são maiores do que se imagina. A própria Lei da Inovação
torna mais vantajoso para uma empresa colaborar com
uma universidade do que criar o seu próprio departamento de P&D e contratar mestres e doutores (que ficam desempregados), o que distancia a pesquisa da indústria.
Apesar da dos programas de fomento à inovação, não é raro o prazo de análise de um projeto ser longo demais ou
até exceder o seu tempo de vigência.
As altas taxas de juros e os impostos inibem investimentos em pesquisa industrial, e as próprias empresas
contribuem para o problema, pois se concentram muito
mais em aumentar as vendas do que em desenvolver inovações lucrativas."
MARCOS GUGLIOTTI , pesquisador, doutor em química que há dois anos tenta licenciar suas patentes no Brasil (São Paulo, SP)
Indisciplinado
"Oportuna a Entrevista da 2ª com Camilo da Silva Oliveira, diretor da melhor escola pública estadual de São Paulo no Enem. Ele mostrou que é possível ter um bom
desempenho no exame apesar da política utilizada pela
Secretaria da Educação nos últimos governos.
Segundo o diretor, a escola se destacou por usar direcionadores próprios, e não os sugeridos pelo governo. Interessante é o que ele diz sobre os secretários da Educação:
todos são competentes, mas, infelizmente, a política não
permite uma continuidade dos programas de cada governo. Assim, vamos ficar sempre na dependência de um diretor como ele, que pode até vir a ser punido por não seguir as diretrizes do governo.
Quando teremos a educação como prioridade de governo sem interferências políticas e eleitoreiras?
Parabéns ao "indisciplinado" professor Camilo."
CARLOS AUGUSTO SOARES DO AMARAL SANTOS (Sorocaba, SP)
Exportações
"Manchete de terça-feira:
"Crise piora perfil da exportação brasileira". A "explicação":
exportamos mais commodities
"em prejuízo" de manufaturados. Como agrônomo, sei que
há cem anos trabalhamos para
o país dispor de tecnologia agrícola capaz de produzir bens de
qualidade para o mercado interno e externo. O Instituto
Agronômico de Campinas, por
exemplo, minimizou os efeitos
do "crash" de 29 ao propor alternativas viáveis à cafeicultura.
Logo, a crise não piora -nem o
"céu de brigadeiro" melhora-
nossas exportações, ela só dramatiza a importância das commodities num grande país."
VICTOR DE ARGOLLO FERRÃO (Campinas, SP)
Fumo
"Profetizou o governador
Serra que "espíritos de porco"
vão tentar impugnar na Justiça
a lei contra o fumo (Cotidiano,
sexta-feira). Interessante preconceito esse: lei de sua autoria
não pode ser questionada, sob
pena de estigmatizar o insurgente como cidadão de menor
importância. Assim, vou a São
Paulo para não fumar no delicioso ambiente artificial de ar-condicionado dos restaurantes
e, depois daqueles ares secos e
bacterianos, vou lá fora inspirar o ar puro da cidade..."
RENATO COSTA DIAS (Uberlândia, MG)
Lista fechada
Dos jornais paulistanos, a
Folha é o que tem os reflexos
mais rápidos e precisos.
Na página A4 de quarta-feira, o jornal chamou a atenção
para o novo estelionato preparado pela Câmara: o projeto da
reforma política, articulado
por PT, PMDB, DEM, PPS e PC
do B, com texto de Ibsen Pinheiro e aval de Michel Temer.
Afinal, o que pretendem
Suas Excelências com essa
proposta indecorosa do voto
em lista fechada? O eleitor não
votará mais no candidato da
sua preferência, e sim numa
"lista", elaborada à sua revelia
pela sigla ou pela coligação.
Ora, ao não poder escolher o
meu representante na Câmara,
eu perco minha vinculação
pessoal, política e afetiva com
ele. Representado e representante ficam estranhos um ao
outro. O deputado simplesmente vira as costas para o seu
eleitor, fica inacessível aos reclamos deste último, acomodado no Olimpo de suas conveniências pessoais.
A proposta da votação em
lista fechada constitui o maior
estelionato eleitoral da nossa
história republicana e coloca
em questão a própria legitimidade democrática dos delegados da vontade popular.
O eleitor brasileiro não vai
concordar com a sórdida manipulação de sua vontade pelos
cardeais da "cosa nostra" sentados na cúpula do Legislativo."
GILBERTO DE MELLO KUJAWSKI
(São Paulo, SP)
"Conta-se que, há muitos
anos, na cidade de Crato, no
Estado do Ceará, um candidato
a vereador recebeu apenas um
voto: o seu.
Ao indagar sua mulher por
que nem ela havia votado nele,
recebeu a seguinte resposta:
"Se os outros, que não te conhecem, não votaram, imagina eu,
que te conheço bem".
A proposta de reforma para
eleições do Legislativo prejudica a censura pública pelo voto e
facilita a reeleição de maus
candidatos. Seremos obrigados
a votar em quem não queremos
que nos represente. Votar numa lista feita pelo partido é abdicar do processo democrático
que progressivamente vem
construindo o Brasil nos últimos 30 anos.
Só devemos eleger quem não
tem medo de ser conhecido."
DAVI DE LACERDA (São Paulo, SP)
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