São Paulo, domingo, 14 de março de 2010

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Semana do Leitor

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Raphael Falavigna-5.set.02/Folha Imagem
Glauco Vilas Boas durante entrevista em sua casa em 2002




Lula e Cuba

"Diferentemente do que disse o presidente Lula, nós não temos de "respeitar a determinação da Justiça e do governo cubano" no que se refere à greve de fome dos dissidentes.
O que teria sido se tivéssemos "respeitado" o Ato Institucional nº 5 sem protestos? Devemos, sim, respeito às leis e decisões provenientes de Poderes legitimamente constituídos, pois está na natureza desses Poderes o direito à discordância e ao protesto.
Quanto às ditaduras, são execráveis tanto as de direita como as de esquerda. E é dever do chefe de um Estado democrático de Direito protestar contra ambas."
MARIA ISABEL BENEDETTI FIGUEIREDO (São Paulo, SP)

"Após ouvir as declarações de Lula, presumo que, se o presidente tivesse sido questionado sobre a existência de campos de concentração na Alemanha nazista, teria dito algo como: "Temos de respeitar a determinação da Justiça e do governo alemão de deter os judeus em razão da legislação da Alemanha.
Gostaria que não ocorressem [as detenções em campos de concentração], mas não posso questionar as razões pelas quais a Alemanha os deteve, como tampouco quero que a Alemanha questione as razões pelas quais há pessoas presas no Brasil"."
JACI CORRÊA LEITE, professor titular da FGV-EAESP (São Paulo, SP)

"Nosso presidente insiste em defender os métodos arcaicos da ditadura cubana, mas esquece que, se a nossa ditadura tivesse sido parecida com a do seu ídolo Fidel, ele não teria a chance que teve e estaria apodrecendo nas cadeias públicas desde o seu primeiro palanque em São Bernardo do Campo."
VICTOR GERMANO PEREIRA (São Paulo, SP)

"Segundo informou esta Folha, Guillermo Fariñas faz greve de fome porque deseja para Cuba prosperidade, liberdades políticas, sociais e econômicas, democracia representativa e convivência pacífica entre os cubanos de diferentes ideologias.
A nossa Constituição determina que o Brasil se rege, nas relações internacionais, pelo princípio da prevalência dos direitos humanos e pela concessão de asilo político. E reconhece, como direito fundamental, que ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa, convicção filosófica ou política. Assim, quem vive sob a égide desta Constituição, não concorda com a privação de liberdade de pessoas que expressam a sua opinião política e filosófica."
ANDRÉIA FERNANDES COURA, mestre em direito constitucional pela PUC-SP (São Paulo, SP)

"De tanto dizer amém para o império, muitos entre nós, lamentavelmente, perderam a capacidade de se indignar com os pesos diferentes usados para aferir direitos humanos.
O caso de Cuba é exemplar. Afinal, o terrível bloqueio econômico que a ilha sofre há 50 anos -situação que poucos países do mundo aguentariam- não é questionado, embora configure uma tremenda e desumana agressão aos direitos de um povo.
Nessa questão, como no caso das cotas universitárias para os negros brasileiros, segundo a visão do ilustre senador Demóstenes Torres, a vítima é sempre o culpado. Como brasileiro sinto-me envergonhado por estar coexistindo com uma direita tão perversa."
GLADSTONE HONÓRIO DE ALMEIDA FILHO (Rolândia, PR)

Ombudsman
"Gostaria de parabenizá-los pelos dois anos de Carlos Eduardo Lins da Silva como ombudsman da nossa Folha (nossa é muita pretensão, mas assim a vemos, como se fosse de todos nós).
Digo isso porque com Carlos Eduardo provavelmente a função tenha chegado ao seu estágio mais alto. Neste caso, é impossível não recorrer ao lugar-comum, dizendo que, se dois é bom, três seria melhor ainda. É pena, pois, que tão breve tenha sido o seu ofício."
JOSÉ PAULO CAVALCANTI FILHO (Recife, PE)

Com traços horríveis
"As charges e as tirinhas dizem, em apenas uma fração de olhar, o que escritores muitas vezes não conseguem dizer em várias laudas de texto.
Infelizmente, o cartunista Glauco ilustrou com a própria vida, ao mesmo tempo, o absurdo e a ausência de humanidade do nosso ecossistema. Quem o matou tratou também de cunhar firme a sua bestialidade, incluindo a sua riqueza maior, o filho, numa bagagem clandestina que insulta a razão.
Existir num planeta assim dá náuseas. Isso não precisaria ter sido desenhado com traços tão horríveis."
MANOEL ILDEFONSO PAZ LANDIM (Jales, SP)

Cotas radicais
"O tema das cotas, desde que foi colocado na agenda, nos anos 90, sofre a ausência de um debate que obedeça as regras mínimas do conhecimento.
É absolutamente irrisório para esse debate o fato de os negros terem cooperado com o escravismo. O fundamental a ser considerado é saber quem se beneficiou e quem perdeu em virtude da mais longa escravidão colonial. Não há que culpar os "tri-tri-trisavós" de ninguém, mas, sim, responsabilizar o Estado brasileiro por ter utilizado por três séculos e meio o escravismo negro como política econômica.
Argumentar contra as cotas com a desculpa da qualidade, dizendo que "os grupos menos favorecidos irão querer também cotas de emprego nas empresas" é desconhecer que os negros mais qualificados são os que mais dificuldades enfrentam no mercado de trabalho. Esquece-se o tempo todo que o cimento que cola com firmeza os tijolos dessa construção chama-se racismo. E é cordial, velado e radical, pois reserva em inúmeros espaços cotas de 100% para brancos."
HELIO SANTOS, coordenador do Grupo de Trabalho Interministerial de Valorização da População Negra no governo FHC (Salvador, BA)

Axé, 25
"Boa a reportagem "Aos 25, reino do axé está destroçado", de Marcus Preto, na Ilustrada de 10/3. E triste a constatação de que o ritmo, que ainda move multidões, não tem mais letras que exaltam a nossa cultura e valorizam as diversidades.
O axé -e também a MPB- tem perdido a característica que levava a certa reflexão, nem sempre engajada, mas que incitava a crítica e a mudança de paradigmas. Hoje, tudo se resume a um pequeno número de cantoras que entoam letras banais, que "pegam". É o retrato de um povo que vai perdendo a crítica e se deixa levar pela boiada, cantando e pulando ao som de algo que não é nem mesmo alienante. É nada."
JOHNNY GOMES (São Paulo, SP)



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