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Semana do Leitor
leitor@uol.com.br
Raphael Falavigna-5.set.02/Folha Imagem
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Glauco Vilas Boas durante entrevista em sua casa em 2002
Lula e Cuba
"Diferentemente do que disse o presidente Lula, nós não
temos de "respeitar a determinação da Justiça e do governo
cubano" no que se refere à greve
de fome dos dissidentes.
O que teria sido se tivéssemos "respeitado" o Ato Institucional nº 5 sem protestos?
Devemos, sim, respeito às
leis e decisões provenientes de
Poderes legitimamente constituídos, pois está na natureza
desses Poderes o direito à discordância e ao protesto.
Quanto às ditaduras, são execráveis tanto as de direita como
as de esquerda.
E é dever do chefe de um Estado democrático de Direito
protestar contra ambas."
MARIA ISABEL BENEDETTI FIGUEIREDO
(São Paulo, SP)
"Após ouvir as declarações de
Lula, presumo que, se o presidente tivesse sido questionado
sobre a existência de campos de
concentração na Alemanha nazista, teria dito algo como: "Temos de respeitar a determinação da Justiça e do governo alemão de deter os judeus em razão da legislação da Alemanha.
Gostaria que não ocorressem
[as detenções em campos de
concentração], mas não posso
questionar as razões pelas
quais a Alemanha os deteve, como tampouco quero que a Alemanha questione as razões pelas quais há pessoas presas no
Brasil"."
JACI CORRÊA LEITE, professor titular da
FGV-EAESP (São Paulo, SP)
"Nosso presidente insiste em
defender os métodos arcaicos
da ditadura cubana, mas esquece que, se a nossa ditadura tivesse sido parecida com a do
seu ídolo Fidel, ele não teria a
chance que teve e estaria apodrecendo nas cadeias públicas
desde o seu primeiro palanque
em São Bernardo do Campo."
VICTOR GERMANO PEREIRA (São Paulo, SP)
"Segundo informou esta
Folha, Guillermo Fariñas faz
greve de fome porque deseja
para Cuba prosperidade, liberdades políticas, sociais e econômicas, democracia representativa e convivência pacífica entre os cubanos de diferentes
ideologias.
A nossa Constituição determina que o Brasil se rege, nas
relações internacionais, pelo
princípio da prevalência dos direitos humanos e pela concessão de asilo político. E reconhece, como direito fundamental, que ninguém será privado de direitos por motivo de
crença religiosa, convicção filosófica ou política. Assim, quem
vive sob a égide desta Constituição, não concorda com a privação de liberdade de pessoas
que expressam a sua opinião
política e filosófica."
ANDRÉIA FERNANDES COURA, mestre em direito constitucional pela PUC-SP
(São Paulo, SP)
"De tanto dizer amém para o
império, muitos entre nós, lamentavelmente, perderam a
capacidade de se indignar com
os pesos diferentes usados para
aferir direitos humanos.
O caso de Cuba é exemplar.
Afinal, o terrível bloqueio econômico que a ilha sofre há 50
anos -situação que poucos países do mundo aguentariam-
não é questionado, embora
configure uma tremenda e desumana agressão aos direitos
de um povo.
Nessa questão, como no caso
das cotas universitárias para os
negros brasileiros, segundo a
visão do ilustre senador Demóstenes Torres, a vítima é
sempre o culpado.
Como brasileiro sinto-me
envergonhado por estar coexistindo com uma direita tão
perversa."
GLADSTONE HONÓRIO DE ALMEIDA FILHO
(Rolândia, PR)
Ombudsman
"Gostaria de parabenizá-los
pelos dois anos de Carlos
Eduardo Lins da Silva como
ombudsman da nossa Folha
(nossa é muita pretensão, mas
assim a vemos, como se fosse
de todos nós).
Digo isso porque com Carlos
Eduardo provavelmente a função tenha chegado ao seu estágio mais alto.
Neste caso, é impossível não
recorrer ao lugar-comum, dizendo que, se dois é bom, três
seria melhor ainda.
É pena, pois, que tão breve
tenha sido o seu ofício."
JOSÉ PAULO CAVALCANTI FILHO
(Recife, PE)
Com traços horríveis
"As charges e as tirinhas dizem, em apenas uma fração
de olhar, o que escritores muitas vezes não conseguem
dizer em várias laudas de texto.
Infelizmente, o cartunista Glauco ilustrou com a própria
vida, ao mesmo tempo, o absurdo e a ausência de humanidade do nosso ecossistema.
Quem o matou tratou também de cunhar firme a sua
bestialidade, incluindo a sua riqueza maior, o filho, numa
bagagem clandestina que insulta a razão.
Existir num planeta assim dá náuseas.
Isso não precisaria ter sido desenhado com traços tão
horríveis."
MANOEL ILDEFONSO PAZ LANDIM (Jales, SP)
Cotas radicais
"O tema das cotas, desde que
foi colocado na agenda, nos
anos 90, sofre a ausência de um
debate que obedeça as regras
mínimas do conhecimento.
É absolutamente irrisório
para esse debate o fato de os negros terem cooperado com o
escravismo. O fundamental a
ser considerado é saber quem
se beneficiou e quem perdeu
em virtude da mais longa escravidão colonial. Não há que culpar os "tri-tri-trisavós" de ninguém, mas, sim, responsabilizar o Estado brasileiro por ter
utilizado por três séculos e
meio o escravismo negro como
política econômica.
Argumentar contra as cotas
com a desculpa da qualidade,
dizendo que "os grupos menos
favorecidos irão querer também cotas de emprego nas empresas" é desconhecer que os
negros mais qualificados são os
que mais dificuldades enfrentam no mercado de trabalho.
Esquece-se o tempo todo que
o cimento que cola com firmeza
os tijolos dessa construção chama-se racismo. E é cordial, velado e radical, pois reserva em
inúmeros espaços cotas de
100% para brancos."
HELIO SANTOS, coordenador do Grupo de
Trabalho Interministerial de Valorização
da População Negra no governo FHC
(Salvador, BA)
Axé, 25
"Boa a reportagem "Aos 25,
reino do axé está destroçado",
de Marcus Preto, na Ilustrada
de 10/3. E triste a constatação
de que o ritmo, que ainda move
multidões, não tem mais letras
que exaltam a nossa cultura e
valorizam as diversidades.
O axé -e também a MPB-
tem perdido a característica
que levava a certa reflexão,
nem sempre engajada, mas que
incitava a crítica e a mudança
de paradigmas. Hoje, tudo se
resume a um pequeno número
de cantoras que entoam letras
banais, que "pegam". É o retrato
de um povo que vai perdendo a
crítica e se deixa levar pela
boiada, cantando e pulando ao
som de algo que não é nem
mesmo alienante. É nada."
JOHNNY GOMES (São Paulo, SP)
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