São Paulo, domingo, 15 de novembro de 2009

Índice

Semana do Leitor

leitor@uol.com.br

Crucifixo

"No "Painel do Leitor" de 9/11, ao comparar o crucifixo ao escudo do Flamengo, o leitor ensejou a percepção de quão superficial é o debate democrático. Para defender o respeito às demais religiões ou o direito de não tê-las, o leitor evoca a rivalidade entre times de futebol.
Por falta de reflexão ou amor exagerado ao chiste, ele barateia a discussão, fazendo supor que estão em pé de igualdade os valores religiosos (como a justiça, a solidariedade, o amor) e o mero entretenimento com o futebol. Reduz a opção religiosa à simples preferência por um clube e acaba por sugerir que o símbolo religioso deva ser rechaçado da mesma forma que um corintiano "não deve" aceitar passivamente a exposição do símbolo do Palmeiras.
Não vou nem argumentar que os não crentes podem ler o crucifixo apenas como obra de arte a lembrar certos valores indispensáveis para a vida em comunidade, ou que melhor que expor um símbolo religioso seria permitir a coexistência de vários. Não adiantaria.
Muitas pessoas "aprenderam" na escola que a religião é a origem de todos os males. Foram persuadidos pelas incontáveis barbáries cometidas por padres, bispos e até alguns papas daquela época. O problema é que, ao resumir toda a discussão religiosa a essa era medieval, não percebem que produzem um julgamento a partir de análise limitada da realidade.
A visão que têm do catolicismo é sempre a da Inquisição, e nunca a de Francisco de Assis ou a de Jesus de Nazaré. Não percebem que os tempos mudaram e que muitos que usavam a religião para permanecer no poder usam hoje a ciência, a liberdade e o "Estado laico" para impor suas vontades.
Enquanto a questão for tratada como escolha de time de futebol, um discurso racional não surtirá efeito. Ninguém troca de time por conta de bons argumentos."
JOSÉ GALINAZA (São Paulo, SP)

Pedestres

"Abro revista semanal e deparo com uma "campanha educativa" do Ministério das Cidades informando-me, pedestre que sou, que devo atravessar "sempre nas faixas" e "só quando os carros pararem". Que absurdo é esse? A campanha deveria ser dirigida aos motoristas, informando-os que um pedestre, na faixa, deve ser respeitado e que faixas são zonas de segurança para nós. Em qualquer lugar do mundo -menos aqui- os carros devem parar para que o pedestre atravesse.
O texto continua: "No trânsito, é preciso ter sempre em mente o perigo que você pode causar aos outros e a si mesmo".
Qual o potencial maior de perigo no trânsito: eu, com 63 kg, andando a menos de 10 km/h, ou um veículo com uma tonelada a pelo menos 60 km/h?
Para finalizar, um slogan maravilhoso: "Ande com consciência". Senhores do Ministério das Cidades: eu ando com consciência. E sou ridicularizada quando viajo ao exterior pelo meu medo em atravessar as ruas, já que, aqui, tenho que me certificar de que os motoristas vão obedecer aos sinais vermelhos e às faixas de pedestres."
ROSE MARY SILVA LUZ (São Paulo, SP)

Depressão

"O ditado "o amor a tudo cura" nem sempre é válido. A viúva de Robert Enke, 32, goleiro do Hannover que se suicidou nesta semana, disse que fazia de tudo para ele, pois acreditava que o amor pudesse curá-lo. Enke mantinha sua depressão em segredo, porque a doença é vista como sinal de fraqueza no meio futebolístico -e na sociedade também. Infelizmente, muitos creem que depressão é uma opção, uma falta de crença em Deus etc., mas, na verdade, é uma doença, que precisa ser tratada com remédios.
O amor ajuda, mas não cura."
MARIA JOSÉ SPEGLICH (Campinas, SP)

Minissaia

""Xiii, só pode ser aluna da Uniban", ironizou uma garota na PUC, referindo-se ao caso da garota Geisy Arruda. Foi esse um dos comentários de uma aluna durante uma reportagem na qual a Folha colocou uma modelo com minissaia em várias faculdades.
Pessoal. Todo mundo está errado! Depois de 21 anos de ditadura militar, confunde-se, nos últimos 25 anos, liberdade, direitos, deveres e preconceito.
Vivemos em uma comunidade em que existem leis, regulamentos, bom senso e, principalmente, obrigações, e não apenas direitos.
A garota Geisy Arruda erra ao violar um ambiente acadêmico, causando transtorno. A Uniban erra ao não esclarecer a todos que existe um código de vestuário. Os meninos trogloditas erram ao agredir com palavras e ameaças de estupro. E a sociedade erra em acreditar que todo mundo tem direitos, que as mulheres e homens podem fazer o que desejam, onde quiserem e a qualquer hora.
Código de vestuário é comum em boas escolas superiores por todo o mundo. A Hampton University (Reino Unido), por exemplo, revela que seu "dress code" é baseado na teoria "de que os alunos devem aprender a usar as roupas e adquirir boas maneiras a fim de selecioná-las apropriadamente para cada ocasião e atividade que vão enfrentar ao longo da vida. Isso faz parte do processo educacional. Compreender e aplicar esse comportamento não apenas serve para melhorar a qualidade de vida das pessoas como contribui para aprimorar os princípios de moral e, principalmente, manter a imagem do campus intacta". O "dress code", completa a universidade em seu site, "também é fundamental para instituir nos alunos um senso de integridade e de apreciação pelos valores e pela ética".
ALEX GUTENBERG (São Paulo, SP)

Maria do Carmo/ Folha Imagem
O tenor Jean William, 23, cujo desejo é ser cantor de ópera

Tenor

"Cumprimento a Folha pela reportagem na Revista de domingo que retrata o talento e a perseverança do jovem Jean William no mundo da música erudita, em especial no universo da voz.
O que vemos por todo o Brasil são as oficinas culturais e os projetos musicais (da percussão afro ao concerto erudito) dando novas perspectivas de vida a tantas crianças e jovens que desenham um futuro diverso daquele que seus pais tiveram.
E constatamos que, com ou sem apoio governamental -pois nem sempre essa causa é sensível à política nacional-, as propostas culturais de inserção social vão mostrando a eficácia de um trabalho que vai muito além do sistema de subempregos para as pessoas "da periferia".
A sensibilidade e o carisma do maestro João Carlos Martins, ao se envolver diretamente com talentos que precisam de apoio e carinho, revelam a grandeza de um artista que a cada dia dá novo alcance à sua vida artística e humana.
E, ao se colocar ali onde precisam dele, João Carlos Martins empresta a sua experiência e a sua genialidade para que esses jovens possam ter o melhor professor na arte musical e possam perseverar por vencer desafios, pois desafiar o destino e vencê-lo é uma das maiores obras do maestro."
ALDO MORAES, músico (Londrina, PR)






Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.