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Semana do Leitor
leitor@uol.com.br
Crucifixo
"No "Painel do Leitor" de 9/11,
ao comparar o crucifixo ao escudo do Flamengo, o leitor ensejou a percepção de quão superficial é o debate democrático. Para defender o respeito às
demais religiões ou o direito de
não tê-las, o leitor evoca a rivalidade entre times de futebol.
Por falta de reflexão ou amor
exagerado ao chiste, ele barateia a discussão, fazendo supor
que estão em pé de igualdade os
valores religiosos (como a justiça, a solidariedade, o amor) e o
mero entretenimento com o
futebol. Reduz a opção religiosa
à simples preferência por um
clube e acaba por sugerir que o
símbolo religioso deva ser rechaçado da mesma forma que
um corintiano "não deve" aceitar passivamente a exposição
do símbolo do Palmeiras.
Não vou nem argumentar
que os não crentes podem ler o
crucifixo apenas como obra de
arte a lembrar certos valores
indispensáveis para a vida em
comunidade, ou que melhor
que expor um símbolo religioso
seria permitir a coexistência de
vários. Não adiantaria.
Muitas pessoas "aprenderam"
na escola que a religião é a origem de todos os males. Foram
persuadidos pelas incontáveis
barbáries cometidas por padres, bispos e até alguns papas
daquela época. O problema é
que, ao resumir toda a discussão religiosa a essa era medieval, não percebem que produzem um julgamento a partir de
análise limitada da realidade.
A visão que têm do catolicismo é sempre a da Inquisição, e
nunca a de Francisco de Assis
ou a de Jesus de Nazaré. Não
percebem que os tempos mudaram e que muitos que usavam a religião para permanecer
no poder usam hoje a ciência, a
liberdade e o "Estado laico" para
impor suas vontades.
Enquanto a questão for tratada como escolha de time de
futebol, um discurso racional
não surtirá efeito. Ninguém
troca de time por conta de bons
argumentos."
JOSÉ GALINAZA (São Paulo, SP)
Pedestres
"Abro revista semanal e deparo com uma "campanha educativa" do Ministério das Cidades informando-me, pedestre
que sou, que devo atravessar
"sempre nas faixas" e "só quando
os carros pararem". Que absurdo é esse? A campanha deveria
ser dirigida aos motoristas, informando-os que um pedestre,
na faixa, deve ser respeitado e
que faixas são zonas de segurança para nós. Em qualquer
lugar do mundo -menos
aqui- os carros devem parar
para que o pedestre atravesse.
O texto continua: "No trânsito, é preciso ter sempre em
mente o perigo que você pode
causar aos outros e a si mesmo".
Qual o potencial maior de perigo no trânsito: eu, com 63 kg,
andando a menos de 10 km/h,
ou um veículo com uma tonelada a pelo menos 60 km/h?
Para finalizar, um slogan maravilhoso: "Ande com consciência". Senhores do Ministério
das Cidades: eu ando com consciência. E sou ridicularizada
quando viajo ao exterior pelo
meu medo em atravessar as
ruas, já que, aqui, tenho que me
certificar de que os motoristas
vão obedecer aos sinais vermelhos e às faixas de pedestres."
ROSE MARY SILVA LUZ (São Paulo, SP)
Depressão
"O ditado "o amor a tudo cura" nem sempre é válido. A viúva de Robert Enke, 32, goleiro
do Hannover que se suicidou
nesta semana, disse que fazia
de tudo para ele, pois acreditava que o amor pudesse curá-lo.
Enke mantinha sua depressão
em segredo, porque a doença é
vista como sinal de fraqueza no
meio futebolístico -e na sociedade também. Infelizmente,
muitos creem que depressão é
uma opção, uma falta de crença
em Deus etc., mas, na verdade,
é uma doença, que precisa ser
tratada com remédios.
O amor ajuda, mas não cura."
MARIA JOSÉ SPEGLICH (Campinas, SP)
Minissaia
""Xiii, só pode ser aluna da
Uniban", ironizou uma garota
na PUC, referindo-se ao caso da
garota Geisy Arruda. Foi esse
um dos comentários de uma
aluna durante uma reportagem
na qual a Folha colocou uma
modelo com minissaia em várias faculdades.
Pessoal. Todo mundo está
errado! Depois de 21 anos de
ditadura militar, confunde-se,
nos últimos 25 anos, liberdade,
direitos, deveres e preconceito.
Vivemos em uma comunidade
em que existem leis, regulamentos, bom senso e, principalmente, obrigações, e não
apenas direitos.
A garota Geisy Arruda erra
ao violar um ambiente acadêmico, causando transtorno. A
Uniban erra ao não esclarecer a
todos que existe um código de
vestuário. Os meninos trogloditas erram ao agredir com palavras e ameaças de estupro. E
a sociedade erra em acreditar
que todo mundo tem direitos,
que as mulheres e homens podem fazer o que desejam, onde
quiserem e a qualquer hora.
Código de vestuário é comum em boas escolas superiores por todo o mundo. A
Hampton University (Reino
Unido), por exemplo, revela
que seu "dress code" é baseado
na teoria "de que os alunos devem aprender a usar as roupas
e adquirir boas maneiras a fim
de selecioná-las apropriadamente para cada ocasião e atividade que vão enfrentar ao
longo da vida. Isso faz parte do
processo educacional. Compreender e aplicar esse comportamento não apenas serve
para melhorar a qualidade de
vida das pessoas como contribui para aprimorar os princípios de moral e, principalmente, manter a imagem do campus intacta". O "dress code",
completa a universidade em
seu site, "também é fundamental para instituir nos alunos
um senso de integridade e de
apreciação pelos valores e
pela ética".
ALEX GUTENBERG (São Paulo, SP)
Maria do Carmo/ Folha Imagem
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O tenor Jean William, 23, cujo desejo é ser cantor de ópera
Tenor
"Cumprimento a Folha pela
reportagem na Revista de domingo que retrata o talento e a
perseverança do jovem Jean
William no mundo da música
erudita, em especial no universo da voz.
O que vemos por todo o Brasil são as oficinas culturais e os
projetos musicais (da percussão afro ao concerto erudito)
dando novas perspectivas de
vida a tantas crianças e jovens
que desenham um futuro diverso daquele que seus pais
tiveram.
E constatamos que, com ou
sem apoio governamental
-pois nem sempre essa causa é
sensível à política nacional-,
as propostas culturais de inserção social vão mostrando a eficácia de um trabalho que vai
muito além do sistema de subempregos para as pessoas
"da periferia".
A sensibilidade e o carisma
do maestro João Carlos Martins, ao se envolver diretamente com talentos que precisam
de apoio e carinho, revelam a
grandeza de um artista que a
cada dia dá novo alcance à sua
vida artística e humana.
E, ao se colocar ali onde precisam dele, João Carlos Martins empresta a sua experiência
e a sua genialidade para que esses jovens possam ter o melhor
professor na arte musical e
possam perseverar por vencer
desafios, pois desafiar o destino e vencê-lo é uma das maiores obras do maestro."
ALDO MORAES, músico (Londrina, PR)
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