São Paulo, domingo, 16 de maio de 2010

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Semana do Leitor

leitor@uol.com.br

Sérgio Moraes-11.mai.10/Reuters
Dunga responde a repórter durante a convocação da seleção


Aborto
"Em 2007, quando Portugal legalizou o aborto, parafraseei, neste "Painel do Leitor", Chico Buarque, sugerindo que em breve o Brasil poderia ser "um imenso Portugal". Ledo engano. Há poucos dias, no debate sobre aborto no 3º PNDH, persistia a possibilidade de que fosse mantida a fórmula do 2º PNDH, que recomenda a revisão da legislação punitiva. Mas não foi o que aconteceu. O texto reafirma o aborto como grave problema de saúde pública e menciona serviços. É um retrocesso em relação à linguagem do 2º PNHD e ao parágrafo 106k da Plataforma de Ação da Conferência de Pequim, da qual o Brasil é signatário. Esse fato lamentável nos diz que o dogmatismo religioso tem mais peso nas decisões sobre direitos humanos que a perspectiva das mulheres e os parâmetros internacionais."
SONIA CORRÊA, coordenadora do Observatório de Sexualidade e Política, membro da Comissão de Cidadania e Reprodução (Rio de Janeiro, RJ)

 

"A decisão do governo de modificar o trecho do 3º PNDH sobre o aborto é um recuo inaceitável. O antigo texto previa o apoio a projetos de descriminalização do aborto por se tratar de uma questão de autonomia das mulheres. Com base no número de internações para tratamento das complicações no Sistema Único de Saúde, estimativas apontam para um universo de um milhão de abortos realizados por ano no Brasil. Ou seja, continuar afirmando que aborto é só problema de saúde pública pode parecer um grande avanço, mas não resolve o problema das mortes e sequelas por aborto inseguro. Para isso, é necessário retirar o tema da esfera criminal e inseri-lo em uma perspectiva de igualdade de gênero e justiça social. O governo recuou e lavou as mãos diante da realidade de milhões de cidadãs brasileiras."
BEATRIZ GALLI, advogada do Ipas-Brasil (Rio de Janeiro, RJ)

Ateísmo
"A entrevista com o filósofo Daniel Dennett (10/5) evidencia que a ateísmo é uma escolha infeliz. Elimina a esperança num outro mundo melhor ao sentenciar que o sentido da vida é a morte e estimula o individualismo, pois todos terão um só destino: o pó, sem alma. E também contraria a lei das probabilidades, pois, o que crê em Deus, após a morte, se estiver certo, ganha a aposta; se perder, não perde nada. Já o ateu, com certeza, não ganha nada."
ROBERTO CASTRO (São Paulo, SP)

 

"Acredito que a Folha "errou a mão" no editorial "Ateus e religiosos" (11/5). Como Daniel Dennett denunciou, o que existe é intolerância religiosa, tanto contra os ateus como contra outras religiões, o que se agrava a cada dia nos EUA. Como ele vive lá, ele sente essa escalada. Nós, ateus, não nos importamos com a crença dos outros -a não ser quando tentam nos evangelizar à força."
RADOICO CÂMARA GUIMARÃES (São Paulo, SP)

Ficha Limpa
"Um milhão e seiscentas mil assinaturas pedem a aprovação do projeto Ficha Limpa para candidatos. E a medida vem recebendo críticas daqueles que têm dívida com a Justiça. Como explicar ao Brasil, a uma cidade como São Paulo, que o deputado Paulo Maluf seria o único "ficha suja" entre os 70 deputados federais do Estado? Como o eleitor concorda em eleger alguém que tem uma ficha suja? Seriam eleitores que têm ficha semelhante à do seu candidato?"
LUCIANA LINS (Campinas, SP)

 

"O senador Romero Jucá disse que o governo "não tem compromisso" em aprovar até 6 de junho o projeto Ficha Limpa. Se este é um projeto da sociedade, é então um projeto de seus representantes no Congresso e no Executivo. Como acreditamos que o governo governa para o povo e que o governante-mor, o CEO da Brasil S/A, o presidente Lula, governa para a sociedade, então o projeto Ficha Limpa é obrigatoriamente um projeto do governo, dos políticos e da sociedade brasileira. E tem de ser respeitado por todos os representantes do povo."
RICARDO FREITAS (Rio de Janeiro, RJ)

Drogas
"O artigo do ex-promotor James Gierach (10/5) é corajoso ao pregar uma mudança total no paradigma da lida com as drogas.
Desde adolescente intrigou-me a estratégia de combate às drogas. Por que o álcool e o cigarro são permitidos e outras drogas não? Por que a lição da Lei Seca, que se mostrou um erro, não serviu para outras substâncias? Não seria o combate às drogas um esquema diabolicamente concebido para alimentar toda uma indústria que envolve armas, forças policiais, fluxo de dinheiro fora do controle, corrupção, clínicas de desintoxicação etc.? Por que a sociedade se articula para regular o consumo do álcool e não poderia fazer o mesmo em relação a outras drogas?
Minha filha, adolescente, acessou um site que classifica as drogas pela capacidade de gerar vício e viu que o álcool estava à frente da maconha, por exemplo. Quantas vidas são ceifadas pelo consumo de álcool (direção perigosa, vício, violência doméstica etc.) e de cigarro? No entanto, o combate se faz a partir da educação, da regulação e do apoio ao viciado.
Por que no caso das drogas essa lógica não é possível?"
MARCELLO LUPORINI (Atibaia, SP)

Santos e pecadores
"Dunga estava selecionando atletas que vão para a Copa, mas pensou que escolhia uma seleção para ir para o céu.
Escolheu os que se casam virgens, nunca vão a baladas, são obedientes, heterossexuais, quase santinhos. Ele não quer os problemas de uma rapaziada viajando junto. Mas, se dois goleiros segurarem a onda e o joelho de Kaká aguentar, só mesmo com um time "sagrado" para dar certo."
ROBERTO MOREIRA DA SILVA (Cotia, SP)

 

"Dunga, ao assumir, era unanimidade: fracassaria e não chegaria à Copa. Agora, o seu "pecado" é o sucesso (Copa América, das Confederações, líder das Eliminatórias).
Muitos não o perdoam justamente por essas conquistas, contrárias às suas previsões. Discordar da convocação é justo; recriminar-lhe a maneira de vestir, a sua gramática e seu patriotismo é hostilidade rancorosa."
JAIR FAUSTINO RODRIGUES (Guararema, SP)





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