São Paulo, domingo, 17 de maio de 2009

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Semana do Leitor

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Churchill sem charuto
"Em 4 de maio, lemos nesta Folha a notícia de que, no Estado de São Paulo, atores terão de ir à Justiça para obter autorização para fumar em cena (Cotidiano). Ficamos perplexas: seremos todos forçados a submeter a concepção de um espetáculo teatral aos critérios do Estado, exatamente como se fazia até há pouco tempo, quando éramos obrigados a apresentar nossas produções à apreciação da censura.
Não somos contra a proibição de fumar em locais públicos fechados, mas nem nos EUA -país pioneiro no combate ao fumo- a lei foi tão longe. Nos palcos da Broadway, os personagens fumam quando os seus criadores desejam.
Quando o Estado se arvora a coibir a expressão artística, abre-se um precedente muito sério. Hoje é o cigarro, amanhã, a nudez, depois pode ser a moral. E quem sabe até nos proíbam de interpretar e de escrever sobre políticos corruptos. Você imaginaria um ator interpretando Churchill sem seu charuto? Na Escócia, onde o tabaco está banido dos palcos, o comediante Mel Smith foi proibido de fumar seu charuto em cena no espetáculo "Allegiance: Winston Churchill and Michael Collins". No Brasil, quais serão os critérios usados para nortear a decisão de um juiz sobre liberar ou não o fumo no palco? Sinceramente, às vezes não compreendemos muito bem as decisões da Justiça em situações que nos parecem bem óbvias.
Em "Memórias do Subsolo", novela de Dostoiévski, seu protagonista (talvez o maior defensor do livre arbítrio antes de Sartre) se define como doente, mau e desagradável. Um homem de consciência hipertrofiada que vocifera contra um mundo que pretende nos regular pela ciência e pela razão. Defende que o homem possa até desejar para si mesmo o prejuízo e, finalmente, que a maior vantagem do ser humano é a imaginação.
Em nossa adaptação teatral, o homem do subterrâneo fumará, pelo menos até que a lei entre em vigor. Depois disso, "só restará ao nosso camundongo sacudir a patinha em relação a tudo e com um sorriso de desprezo fictício se esgueirar para sua fendazinha"."
ANA SAGGESE, roteirista e ex-fumante, e MIKA LINS, atriz e fumante, adaptaram para o teatro "Memória do Subsolo", de Dostoiévski, que estreia em julho (São Paulo, SP)


O general
"Filho de ex-combatente que deu a vida pelo país na campanha da Itália, discordo de Eliane Cantanhêde quando demoniza o general Paulo César de Castro (Opinião, 14/5).
Em que pesem os excessos do regime militar, à época não se via tanta corrupção nos três Poderes, roubo do dinheiro público, miséria e baderna. O Brasil deve ser grato a seus militares, que tiveram garra para pegar em armas e defender a democracia. Duvido que um desses políticos que diz se lixar para o povo tenha coragem de defender a pátria no front."
PAULO JORGE PLAISANT (Juiz de Fora, MG)

 

"Importante a posição de Eliane Cantanhêde.
Não foi a "sarna marxista" a responsável pelo golpe de 64. O estopim do movimento foi a indisciplina nos quartéis, a incapacidade de os comandantes comandarem seus comandados. Quando a bagunça começou a pipocar, a solução foi dar um golpe e calar a boca de todos. Assim a indisciplina pôde prosperar amplamente, com cada general, comandante e coronel controlando sua base, livre para fazer o que quisesse, atacando a "sarna marxista" onde a visse ou imaginasse."
DANIEL FONSECA HORTA (Campinas, SP)

13 de Maio
"O fundador do engenho Lagoa Grande, Pedro Barrozo, afirmou, em 1623, a Matias de Albuquerque, governador da capitania de Pernambuco, que a ribeira do Guaytá "era lugar e paragem muito combatida e enfestada de negros de matos levantados". Referia-se ao quilombo do Mofumbo, onde hoje se dão maracatus rurais.
Da resistência africana diante do trabalho nos engenhos escravagistas plasmou-se rica e profusa cultura. Os festejos que agitavam as senzalas no Brasil de antanho hoje brilham nos "stages" do hemisfério norte.
Descendo dos palcos do mundo pós-moderno, com a infrene urbanização, os descendentes das senzalas foram retirados das zonas rurais e lançados pelo leviatã hobbesiano nas periferias do capitalismo. Vítimas do populismo e do clientelismo, caem por quatro anos no esquecimento da classe mais "honesta" do Brasil. Na República dos Bruzundangas, estes são os atores, e o povo, a plateia.
É bom lembrar que 16 milhões de brasileiros não conhecem plenamente nossa bandeira, pois não podem ler o lema positivista "ordem e progresso".
121 anos de abolição da escravidão, muita cultura e pouca educação. Fecham-se as cortinas da tragédia da nação."
ARLINDO BATISTA (Glória do Goitá, PE)

 

"No 13 de Maio, li todos os matutinos, mas nada de importante vi. Tudo na mesma. Porém, nesse dia, em 1881, nascia um dos maiores escritores da língua portuguesa, homem ligado nas tolices e besteiras da "bruzundanga". Há mais de cem anos ele escreve o que ocorre atualmente no país, o país das negociatas, dos pistolões, do dá-se um jeitinho de enriquecer ilicitamente.
Em homenagem a Lima Barreto, a Folha poderia publicar "Os Bruzundangas", para que os leitores percebam há quanto tempo nada muda no Brasil."
FRANCISCO FERRAZ (São José dos Campos, SP)

Símbolo maior
"O Parque Nacional do Itatiaia, no Estado do Rio de Janeiro, é o símbolo maior do Sistema Nacional de Unidades de Conservação, por ser o primeiro do Brasil e também da mata atlântica.
A proteção integral desse parque e investimentos para ampliar o turismo sustentável do país, com a participação da sociedade e dos parceiros locais, são fundamentais.
Chegou a hora da decisão: ou vamos implementar o parque como um modelo que funcionará em benefício de toda a sociedade e também das futuras gerações ou vamos entregá-lo para o usufruto de alguns privilegiados veranistas que ali se instalaram."
MARIO CÉSAR MANTOVANI, diretor de mobilização da Fundação SOS Mata Atlântica (São Paulo, SP)

 

"Sou proprietário de uma área dentro de um parque nacional na serra da Bocaina e entendo bem o drama de quem está na situação mostrada na reportagem.
O autoritarismo imposto a pessoas que lá residem desde muito antes da existência do parque e que, de uma hora para outra, se vêm totalmente limitadas no uso de suas terras me remete à pior das ditaduras, em que o confisco é prática natural.
As regras mudam com as diferentes equipes administrativas e muitas vezes não têm base teórica ou prática. Também não há uma justa indenização.
A área baixa do Itatiaia só recebe muitos visitantes em razão da infraestrutura que lá foi criada por iniciativas privadas, jamais pela administração da unidade, que normalmente trata mal os próprios turistas e não tem a mais vaga ideia de como prestar serviços.
Essas áreas do parque deveriam ser desmembradas para que se criasse nelas a possibilidade de integração entre turismo e preservação. Se houver somente a desapropriação, o Estado não conseguirá cuidar das terras, e o turismo tenderá a acabar por ali.
Por outro lado, se não houver uma regulamentação específica para a área, a ganância poderá causar estragos ambientais. O caminho mais sensato é o da preservação autossustentável, no qual a atividade comercial funciona com regras claras e eficientes, de mãos dadas com o meio ambiente.
Aliás, nos países desenvolvidos isso não é novidade."
ARNALDO SEVE BORGES (Rio de Janeiro, RJ)






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