São Paulo, domingo, 18 de abril de 2010

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Igreja e pedofilia
"O artigo de Olinto Pegoraro sobre o sacerdócio ("Por uma revisão da formação do clero", "Tendências/Debates", 14/4) deixa a desejar pela falta de argumentos. O autor não fundamenta seus pontos nem tenta estruturar os motivos por que o celibato sacerdotal é tão ruim.
Lança que "toda a estrutura de normas e disciplinas que sustentam o celibato dos padres não faz mais sentido para o mundo contemporâneo". Pergunto: é assim mesmo? Parece um pouco panfletário lançar qualquer problema no celibato sacerdotal. Certamente é uma pena que diversos desvios graves de conduta de alguns (poucos) membros do clero sejam usados contra o celibato.
Prefiro a clareza de ideias de Contardo Calligaris, que, apesar de ser pessoalmente contra o celibato, deixou claro nesta mesma Folha (Ilustrada, 1º/4) que acha "bizarro que o fim do celibato dos padres seja apresentado como remédio contra a pedofilia" -e, poderia dizer, como remédio para uma série de outras coisas.
Estou com Calligaris: o cancelamento do celibato é uma falsa solução."
VENEZIANO ARAUJO (São Paulo, SP)

 

"O doutor Olinto Pegoraro lançou luz, ao menos para mim, sobre a crescente dificuldade de o católico moderno, ético e com capacidade crítica manter-se alinhado com a igreja. Só lhe resta, com frequência crescente, traçar os seus próprios limites, desconsiderando aqueles estabelecidos pelo anacronismo da igreja.
Ao proteger seus pedófilos, quantos de seus pequenos fiéis a igreja prejudicou profunda e permanentemente? Gostaria que a Folha pesquisasse os argumentos do atual papa quando, anos atrás, colocou os "interesses da igreja" acima dos interesses de crianças indefesas.
A igreja é formada por homens, que, como tais, irremediavelmente falham. O que será necessário para que esses homens tenham humildade para assumir a falibilidade do papa e da igreja e rever dogmas arcaicos, por eles mesmos criados, como são os casos do celibato e da proibição do sacerdócio à mulher?
Se são Pedro foi casado e tão bem desempenhou seu papel junto à igreja, qual a justificativa para que outros homens e mulheres não possam fazê-lo?"
MARCELLO LUPORINI (Atibaia SP)

 

"Muita gente diz que padre tem que casar para não ser pedófilo. Só que casamento também não é coisa para gente doente. Infelizmente, padres que não têm uma vocação pura de amor a Deus e ao próximo se escondem na igreja, mas muitos desses também se escondem no casamento. Os crimes em Luziânia mostram que criminosos há em todo lugar e que a Justiça -não foi a igreja!- só fez asneiras ao tratar daquele caso."
ROZANE MATOS CARNEIRO (São Paulo, SP)

Progressão de pena
"Na reportagem "Ministro aponta falha da Justiça no caso Luziânia" (Cotidiano, sexta-feira), sobre as mortes em Luziânia (GO), o ministro Cezar Peluso, do Supremo Tribunal Federal, disse que a progressão da pena é um problema secundário e que a prioridade deve ser a defesa dos direitos dos detentos.
Como assim? E a defesa dos direitos das vítimas inocentes desses facínoras? Também é um problema secundário?
Isso sem falar no absurdo da tal "progressão" de pena, que, a meu ver, deveria significar o aumento da pena, e não a sua redução.
Além do mais, quando um determinado tribunal estabelece uma pena de, por exemplo, 20 anos de reclusão, ele quer dizer exatamente 20 anos, e não 10 ou 15.
E este ainda vai ser o nosso futuro presidente do Supremo Tribunal Federal. Que Deus nos acuda!"
ANTONIO CARLOS DE SOUZA (Ribeirão Preto, SP)

História
"Impossível calar-me sobre "Caldeira fervente" e "Síntese imperfeita", no Mais! de 11/4. Ótima divulgação historiográfica, onde prevalece o bom senso analítico da historiadora Laura de Mello e Souza.
O livro de Jorge Caldeira enriquece a pesquisa historiográfica. Comete, porém, a meu ver, erro grave ao desvalorizar os conceitos fundantes de Caio Prado Júnior. Sem o "sentido da colonização", no contexto da formação do capitalismo ocidental, e a acumulação "primitiva", de que se valeram Holanda, Inglaterra, França, Espanha e Portugal, torna-se ininteligível a cadeia de relações econômicas e sociais que se estabeleceu nas colônias. O sistema colonial explica o aparecimento dos estamentos diversos, inclusive "os empreendedores" de Caldeira. Tente-se abstrair os objetivos das exportações do açúcar, o trabalho e o tráfico de escravos, o ouro e vários produtos ausentes na Europa colonizadora e a explicação do Brasil fica vazia em sua base.
Caio Prado Jr. lançou, em 1942, a luz orientadora para a compreensão da sociedade e das nações formadas no bojo do "antigo sistema colonial"."
JOSÉ RIBEIRO JÚNIOR , professor aposentado de história do Brasil da Unesp, autor de "Monopólio e Colonização no Nordeste Brasileiro - 1750-1780" (São Paulo, SP)

Obed Zilwa-16.abr.99/Associated Press
Sul-africanos durante votação em prisão em Cape Town, em 99

Voto de presos
"Admitir que somente uma parcela dos prisioneiros processuais pode exercer o direito de voto -o que, a meu ver, lhes foi garantido com muito atraso- é descumprir a resolução do TSE e agredir o princípio da igualdade, que manda dispensar tratamento igual a pessoas iguais e em circunstâncias iguais ("SP não fará eleição na maior parte das prisões provisórias", Brasil, 16/4).
Os agentes públicos devem proporcionar as soluções adequadas para os problemas operacionais, de segurança e demais que existam. Unidades prisionais de alto risco devem receber segurança máxima nas eleições.
E o argumento de que esse voto pode ser objeto de pressão criminosa não vale apenas para os presídios."
AMADEU ROBERTO GARRIDO DE PAULA (São Paulo, SP)

 

"O TSE determinou que sejam instaladas seções eleitorais especiais em unidades de internação de adolescentes. Estamos diante de um paradoxo, pois tais menores, considerados irresponsáveis perante a lei penal, são plenamente capacitados para eleger nossos representantes. Assim se aperfeiçoa o sistema democrático!"
ARSONVAL MAZZUCCO MUNIZ , advogado (São Paulo, SP)

 

"Luiz Carlos dos Santos Gonçalves, procurador regional eleitoral de São Paulo, afirma que o Estado não pode descumprir a lei e impedir o voto aos presos provisórios, remetendo à análise de artigos constitucionais e ao argumento de que o crime organizado não teria ali um expressivo ganho de votos. Concordo com ele e vou além. Para que o voto seja efetivo, o TRE deve também propiciar propaganda eleitoral aos presos provisórios.
E, já que se trata de assunto de logística, de responsabilidade do TRE, por que não desenvolver logística para o voto em trânsito? Quantos cidadãos, por razões de rotina, trabalho, férias, lazer ou transferência domiciliar extemporânea, não deixam de votar em seus candidatos por ausência do domicílio eleitoral? Certamente essa população é maior do que a encarcerada provisoriamente.
Um Estado que se arvora em exportador e em modelo internacional de eficiência em tecnologia eleitoral certamente pode corrigir essa distorção, sob pena de essa distorção se constituir anomalia.
O acesso ao voto deve ser garantido não só àqueles que estão à disposição da Justiça mas também aos que trabalham para manter todo o sistema."
EDUARDO MUZZOLON (São Paulo, SP)


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