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Semana do Leitor
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Kirk Douglas em "A Montanha dos Sete Abutres" (1951)
Diploma ou não
"Os argumentos dos ministros do STF para acabar com a
exigência do diploma de jornalista são inconsistentes e até hilários. Ao comparar o jornalista
a um "excelente chefe de cozinha que não tem curso superior
de culinária", Gilmar Mendes
abre precedentes para a defesa
do autodidatismo em todas as
áreas.
Um jovem brilhante que
estude com afinco as leis poderá, em nome da "liberdade de
expressão", advogar sem o devido diploma. E soou como provocação o argumento de que o
jornalismo deve seguir nos
moldes de cursos como culinária, moda ou costura. Sem nenhum demérito a estas profissões, por que ele não citou direito, economia, engenharia ou
medicina, já que nenhum dos
exemplos é de bacharelado?
E como ficam os que "acreditaram na ordem jurídica e se
matricularam em faculdades",
como argumentou o ministro
Marco Aurélio Mello?
Que os magistrados rasguem
seus diplomas e suas togas, não
o meu diploma!"
CARLOS VASCONCELLOS, jornalista e professor universitário (Petrópolis, RJ)
"Sou estudante do primeiro
ano de jornalismo e há alguns
meses passei a carregar um texto cujo autor é jornalista famoso, não formado: Gabriel García
Márquez. O texto "A Melhor
Profissão do Mundo" discute
exatamente este ponto: a necessidade de escolas para jornalistas. Para Márquez a desgraça das faculdades talvez seja
ensinar muito de útil para a
profissão, mas pouco da profissão propriamente dita.
Outros exemplos de um jornalismo sem diploma são os filmes "A Primeira Página" e "A
Montanha dos Sete Abutres". O
primeiro ridiculariza o jornalista formado em faculdade que
tenta cobrir a execução de um
preso ao lado de velhos lobos de
profissão. O segundo também
esconde nas entrelinhas a mensagem de que o verdadeiro jornalista é aquele que vai à rua -e
põe o recém-formado sempre
como aprendiz do veterano interpretado por Kirk Douglas.
Nada de errado na visão dada
nestes três exemplos. O problema é que a comunicação contemporânea exige mais zelo.
Não se lê tanto como antes. A
ideia dos jovens hoje sobre ética é distorcida -de ética jornalística então nem se fala. Uns
nem politizados são. Outros
nunca ouviram falar dos preceitos básicos do jornalismo,
como "ouvir o outro lado".
Um bom jornalista é composto da sede de Chuck Tatum
(personagem de Kirk Douglas),
da ousadia de Walter Burns
(personagem de Walter Matthau em "A Primeira Página") e,
equilibrando todo esse ímpeto
por notícia, a mentalidade, a
ética e a escrita de García Márquez.
Pronto, saiu do forno o
jornalista perfeito. Mas ele irá
nascer pronto ou criar-se sozinho, como um Pelé? Não. Daí a
necessidade do curso acadêmico, que deve ser reformulado,
como o próprio García Márquez diz. E isso deve ser feito o
quanto antes."
LEONARDO A. DA SILVA DIAS (São Paulo, SP)
"Alegrou-me o fim da exigência de diploma. Sou formada
em comunicação social e trabalhei nos classificados de um jornal em Londres, onde conheci
jornalistas sem diploma. Alguns, para entrar na profissão,
fizeram cursos de alguns meses
(que eu fiz). Na Espanha, fiz
pós-graduação em reportagem.
Mas, ao retornar, a falta do diploma impediu-me de iniciar
uma carreira.
Nas palavras de Ryszard Kapuscinski, jornalistas são "pessoas que têm algo especial, uma
curiosidade especial, que tratam sua profissão não só como
modo de ganhar a vida senão
como uma missão, com um entendimento de que com o que
fazemos ajudamos a outros".
Acredito que aqueles que desejam trabalhar na área de comunicação teriam muito mais a
oferecer à sociedade se fizessem uma faculdade de letras, de
economia, de história, de direito e, depois, um curso intensivo, uma especialização. Digo isso porque, se pudesse voltar
atrás, é o que eu faria."
CRISTIANE LORENÇO PERESI
(São José do Rio Preto, SP)
Intolerância
"Escrevo emocionado. Soube
há pouco da morte de Marcelo
Campos Barros em decorrência do espancamento ocorrido
na praça da República, no domingo da Parada Gay. Marcelinho foi meu colega de classe
durante todo o ginásio. Era
criatura doce e gentil, incapaz
maltratar uma mosca. Sua mãe,
dona Elisa, me mandava lanche
por ele para que eu tivesse o
que comer no recreio. Foi um
estudante brilhante e dedicado.
Fiquei estarrecido ao saber
da forma brutal da sua morte e
do paradoxo de ocorrer justamente no encerramento da Parada do Orgulho LGBT, evento
que tem como uma das molas
propulsoras a morte do adestrador Edson Neris, na mesma
praça da República e da mesma
forma: espancamento.
A Parada Gay e todas as nossas demais conquistas ficam diminuídas cada vez que um crime desses acontece. Essa tragédia é uma bofetada na face da
comunidade que luta por respeito e tolerância. Esse acontecimento funesto precisa repercutir de modo monumental para que os covardes sejam punidos. A impunidade e a indiferença são o combustível para
que coisas hediondas como essas continuem acontecendo
entre nós."
JORGE DE LIMA (São Paulo, SP)
Coisas do Brasil
"A respeito do editorial "Déficit de inteligência" (Opinião,
segunda-feira), cabe salientar
que não existe nenhum enigma
em relação à queda na formação de doutores no Brasil. A
questão é muito simples: desemprego.
Muitos, aliás, perderam o
emprego ao conquistarem o título de doutor. O motivo? Contenção de despesas das universidades, centros universitários
e faculdades privadas.
O Ministério da Educação
exige apenas um terço do quadro docente com titulação de
mestre ou doutor. Não bastasse
um número tão reduzido, a
preferência para completar essa exigência, obviamente, é pelo profissional mais barato, no
caso, o mestre. E como as universidades públicas não são capazes de absorver todos os
doutores que se formam anualmente, apresentar o título de
doutor no currículo apenas dificulta o profissional no mercado de trabalho.
Coisas do Brasil."
SILVIO LUIZ LOFEGO
(São José do Rio Preto, SP)
"Doutorei-me em letras (semiótica e linguística geral) em
1997, pela Universidade de São
Paulo. Foi a época mais produtiva da minha vida: seminários,
congressos, elaboração e apresentação de trabalhos, publicação de artigos, ótimos professores, tanto do Brasil como do exterior. Sou muito grata a todos.
É, eu era feliz... E eu sabia.
O que eu não sabia era o que
estava por vir: a demissão implacável dos doutores ao final
do semestre ou do ano letivo,
principalmente em cursos de
licenciatura na rede privada de
ensino superior.
Fico penalizada com o contribuinte brasileiro, entre os
quais me incluo. Afinal, bancar
cinco anos de estudo gratuito
numa universidade de reconhecimento planetário, além
de uma bolsa de estudos de
doutorado, do CNPq , ao longo
do curso todo, não é pouca coisa. E pensar que se fala tanto
na atualização continuada do
professor.
Será que voltarei a ser feliz?
Será que meus inumeráveis colegas deixarão de omitir que já
têm a titulação de doutor para
não serem demitidos? Haverá
alguma relação de causalidade
entre a sistemática demissão
dos professores doutores e a
desastrosa situação da educação brasileira?
Vale a pena uma profunda
reflexão e investigação a esse
respeito. Vocês não estão de
acordo?"
IDA KAPLANAS, professora universitária da
rede privada (São Paulo, SP)
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