São Paulo, domingo, 24 de janeiro de 2010

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Semana do Leitor

leitor@uol.com.br

Paulo Whitaker - 17.jan.10/Reuters
Modelos durante desfile na São Paulo Fashion Week

Magreza na moda
"Parabenizamos a Folha pelos textos sobre a excessiva magreza na SPFW (Cotidiano, 20/1). Trabalhando há dez anos com pacientes com transtornos alimentares, preocupa-nos o padrão que a moda tem exigido das modelos. As adolescentes, de um modo geral, são bastante suscetíveis aos apelos dessa moda. Associar a excessiva magreza ao glamour parece uma fórmula catastrófica: se essa associação não leva necessariamente a um transtorno alimentar, no mínimo comprometerá o desenvolvimento da adolescente e trará prejuízos clínicos e psicológicos importantes. Falamos tanto das adolescentes que desfilam como das que assistem aos desfiles.
As primeiras são submetidas a imposições por vezes impossíveis (medidas, peso, manequim...), que fazem com que desenvolvam condutas "autorizadas" (jejuns, prática excessiva de exercícios etc.) colocando em risco a sua vida. As segundas fazem o mesmo, voluntariamente, tentando atingir os mesmos objetivos.
O maior absurdo é ninguém se responsabilizar pelo que vemos, como foi bem apontado nos textos. Atribui-se ao mercado essa demanda. Mas quem é o mercado? Talvez seja mais adequado perguntar: quem sofre com tudo isso? Quem paga essa conta?
Se cada vez mais a plateia repudia esse padrão esquálido, por que não mudar? Compete então a todos nós -pais, profissionais da saúde, educadores, jornalistas, estilistas-, enfim o mercado, mudar o padrão.
Acreditamos que o ponto de partida seja estilistas, fashionistas e agentes admitirem sua responsabilidade na promoção de uma moda doentia, esquelética e andrógina."
ANA PAULA GONZAGA e CYBELLE WEINBERG
da Clínica de Estudos e Pesquisa em Anorexia e Bulimia (São Paulo, SP)

Iguais?
A quem servem os tribunais superiores? A balizar pelos últimos acontecimentos, que culminam com a suspensão de parte da demarcação de reservas indígenas (Brasil, 21/1), esta seria uma pergunta apenas retórica. O que me move a fazê-la é a dificuldade de aceitar os desígnios dessa justiça que só beneficia o "andar de cima" e faz do trabalho sério de instâncias inferiores uma terra arrasada, onde só se permite vicejar os prepostos dos "sinhozinhos". Pierre Bourdieu cunhou o conceito de violência simbólica, o exercício do poder que reproduz as estruturas de domínio.
Violência, portanto, não é só a que nos ameaça diuturnamente em qualquer lugar; a violência imaterial que medra nos desvãos do Judiciário viola nossos princípios morais com a mesma intensidade e desnuda a pretensa concepção de que, aos olhos da Justiça, somos todos iguais."
RAQUEL MOURÃO BRASIL (Goiânia, GO)

Lixo urbano
"Bem que o prefeito poderia abrir uma exceção na tal Lei Cidade Limpa e, aproveitando o impacto das últimas enchentes, mandar espalhar diversas faixas pela cidade alertando os ignorantes para os riscos de jogar lixo nas ruas -inclusive os motoristas mal-educados que jogam de tudo pela janela do carro."
HAROLDO LOPES (São Paulo, SP)

 

"Como pode, em plena "era sustentável", uma escola pedir 800 copinhos descartáveis (Cotidiano, 21/1)? As crianças usarão quatro copinhos por dia? Não seria mais educativo pedir uma caneca que durasse o ano inteiro?"
KIKA HIPOLITO (São Paulo, SP)

Haiti
"No artigo "O Haiti não está só" ("Tendências/Debates", 21/1), o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, comparece como sempre: discursando demais, mas dizendo pouco.
Na minha visão, para capitanear a ONU é preciso sobretudo estar movido por uma louca paixão: paixão por gente! Nada a ver com essa retórica de bula, desligada do verdadeiro coração da gente simples.
Ban e seus 192 países apenas deixaram escapar uma visita filosófica, cheia de dedos diplomáticos calçados em luvas, quando a situação haitiana pede mão na massa. A urgência do arrependimento mundial pode muito bem esperar.
Gostaria de poder ter lido uma alma doada de maneira mais sincera, alinhada com a vontade grandiosa, que não vi pular do papel para a imensidão concreta do problema.
Apenas uma razão assiste a Ban. O Haiti "não está só". É verdade. Temos Darfur e outros, aquiescidos mansamente pelas demais nações. Unidas!
Faltou e falta à ONU botar para funcionar. Exigindo mais, conclamando melhor. Conformação? Nem pensar!
A ONU dos meus sonhos é atirada, voluntariosa, corajosa, franca, pidona e lucidamente maluca.
Há que existir algo melhor que o alinhadíssimo inumano e vil, abaixo de um dólar ao dia.
Não se pode confundir protocolo diplomático com nações que não veem e não ouvem.
"Pequenos milagres", como disse o secretário-geral, só atendem a pedidos pífios e discursos mornos. O mundo precisa de mais. A malemolência dessa esperança esboçadamente institucional não restitui as vidas varridas para baixo dos escombros nem reconstrói as que restaram vagando, pedindo água, comida e moradia antes sonegados 192 mil vezes por um mundo endinheiradamente mágico.
Darfur e suas cabeças aos postes parecem agora algo pequeno.
O Haiti espera a providência não divina, mas humana."
LUCIA HELENA DE LIMA (São Paulo, SP)

E na Suíça...
"Moro em Genebra, Suíça, há seis meses.
E Genebra é reconhecida por ser uma das cidades mais caras do mundo -segundo a "Forbes", está em oitavo lugar.
Pois bem, para usar o eficientíssimo e pontualíssimo sistema público de transporte da cidade quantas vezes quiser, pago, por mês, 70 francos suíços, ou R$ 120 pela cotação de quinta-feira. Pago isso por mês! E uso quantas vezes quiser! E não estou falando de meia tarifa ou de tarifa subsidiada.
Para usar as estradas suíças, de pistas duplas e em excelente estado, quantas vezes quiser, pago, por ano, 40 francos suíços, ou R$ 70. Veja bem: por ano. Sim, 365 dias. Quantas vezes quiser.
Para fazer uma ligação telefônica por celular pré-pago daqui para o Brasil pago, por minuto, 25 centavos de franco, ou R$ 0,43. "Helloooooo!!", em um celular pré-pago! E aqui se ganha em franco.
Não é difícil entender por que a cidade está coalhada de brasileiros."
RONALDO MARTINS (Genebra, Suíça)






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