|
Índice
Semana do Leitor
leitor@uol.com.br
Paulo Whitaker - 17.jan.10/Reuters
|
|
Modelos durante desfile na São Paulo Fashion Week
Magreza na moda
"Parabenizamos a Folha pelos textos sobre a excessiva magreza na SPFW (Cotidiano,
20/1). Trabalhando há dez anos
com pacientes com transtornos alimentares, preocupa-nos
o padrão que a moda tem exigido das modelos. As adolescentes, de um modo geral, são bastante suscetíveis aos apelos
dessa moda. Associar a excessiva magreza ao glamour parece
uma fórmula catastrófica: se
essa associação não leva necessariamente a um transtorno
alimentar, no mínimo comprometerá o desenvolvimento da
adolescente e trará prejuízos
clínicos e psicológicos importantes. Falamos tanto das adolescentes que desfilam como
das que assistem aos desfiles.
As primeiras são submetidas
a imposições por vezes impossíveis (medidas, peso, manequim...), que fazem com que
desenvolvam condutas "autorizadas" (jejuns, prática excessiva de exercícios etc.) colocando
em risco a sua vida. As segundas fazem o mesmo, voluntariamente, tentando atingir os
mesmos objetivos.
O maior absurdo é ninguém
se responsabilizar pelo que vemos, como foi bem apontado
nos textos. Atribui-se ao mercado essa demanda. Mas quem
é o mercado? Talvez seja mais
adequado perguntar: quem sofre com tudo isso? Quem paga
essa conta?
Se cada vez mais a plateia repudia esse padrão esquálido,
por que não mudar? Compete
então a todos nós -pais, profissionais da saúde, educadores,
jornalistas, estilistas-, enfim o
mercado, mudar o padrão.
Acreditamos que o ponto de
partida seja estilistas, fashionistas e agentes admitirem sua
responsabilidade na promoção
de uma moda doentia, esquelética e andrógina."
ANA PAULA GONZAGA e CYBELLE WEINBERG
da Clínica de Estudos e Pesquisa em Anorexia e Bulimia (São Paulo, SP)
Iguais?
A quem servem os tribunais superiores? A balizar pelos
últimos acontecimentos, que culminam com a suspensão
de parte da demarcação de reservas indígenas (Brasil,
21/1), esta seria uma pergunta apenas retórica. O que me
move a fazê-la é a dificuldade de aceitar os desígnios dessa
justiça que só beneficia o "andar de cima" e faz do trabalho
sério de instâncias inferiores uma terra arrasada, onde só
se permite vicejar os prepostos dos "sinhozinhos". Pierre
Bourdieu cunhou o conceito de violência simbólica, o
exercício do poder que reproduz as estruturas de domínio.
Violência, portanto, não é só a que nos ameaça diuturnamente em qualquer lugar; a violência imaterial que medra nos desvãos do Judiciário viola nossos princípios morais
com a mesma intensidade e desnuda a pretensa concepção de que, aos olhos da Justiça, somos todos iguais."
RAQUEL MOURÃO BRASIL (Goiânia, GO)
Lixo urbano
"Bem que o prefeito poderia abrir uma exceção na tal Lei
Cidade Limpa e, aproveitando o impacto das últimas enchentes, mandar espalhar diversas faixas pela cidade alertando os ignorantes para os riscos de jogar lixo nas ruas
-inclusive os motoristas mal-educados que jogam de tudo
pela janela do carro."
HAROLDO LOPES (São Paulo, SP)
"Como pode, em plena "era sustentável", uma escola pedir 800 copinhos descartáveis (Cotidiano, 21/1)? As
crianças usarão quatro copinhos por dia? Não seria mais
educativo pedir uma caneca que durasse o ano inteiro?"
KIKA HIPOLITO (São Paulo, SP)
Haiti
"No artigo "O Haiti não está
só" ("Tendências/Debates",
21/1), o secretário-geral da
ONU, Ban Ki-moon, comparece como sempre: discursando
demais, mas dizendo pouco.
Na minha visão, para capitanear a ONU é preciso sobretudo estar movido por uma louca
paixão: paixão por gente! Nada
a ver com essa retórica de bula,
desligada do verdadeiro coração da gente simples.
Ban e seus 192 países apenas
deixaram escapar uma visita filosófica, cheia de dedos diplomáticos calçados em luvas,
quando a situação haitiana pede mão na massa. A urgência do
arrependimento mundial pode
muito bem esperar.
Gostaria de poder ter lido
uma alma doada de maneira
mais sincera, alinhada com a
vontade grandiosa, que não vi
pular do papel para a imensidão concreta do problema.
Apenas uma razão assiste a
Ban. O Haiti "não está só". É verdade. Temos Darfur e outros,
aquiescidos mansamente pelas
demais nações. Unidas!
Faltou e falta à ONU botar
para funcionar. Exigindo mais,
conclamando melhor. Conformação? Nem pensar!
A ONU dos meus sonhos é
atirada, voluntariosa, corajosa,
franca, pidona e lucidamente
maluca.
Há que existir algo melhor
que o alinhadíssimo inumano e
vil, abaixo de um dólar ao dia.
Não se pode confundir protocolo diplomático com nações
que não veem e não ouvem.
"Pequenos milagres", como
disse o secretário-geral, só
atendem a pedidos pífios e discursos mornos. O mundo precisa de mais.
A malemolência dessa esperança esboçadamente institucional não restitui as vidas varridas para baixo dos escombros
nem reconstrói as que restaram vagando, pedindo água, comida e moradia antes sonegados 192 mil vezes por um mundo endinheiradamente mágico.
Darfur e suas cabeças aos
postes parecem agora algo
pequeno.
O Haiti espera a providência
não divina, mas humana."
LUCIA HELENA DE LIMA (São Paulo, SP)
E na Suíça...
"Moro em Genebra, Suíça, há
seis meses.
E Genebra é reconhecida por
ser uma das cidades mais caras
do mundo -segundo a "Forbes", está em oitavo lugar.
Pois bem, para usar o eficientíssimo e pontualíssimo sistema público de transporte da cidade quantas vezes quiser, pago, por mês, 70 francos suíços,
ou R$ 120 pela cotação de quinta-feira. Pago isso por mês! E
uso quantas vezes quiser! E não
estou falando de meia tarifa ou
de tarifa subsidiada.
Para usar as estradas suíças,
de pistas duplas e em excelente
estado, quantas vezes quiser,
pago, por ano, 40 francos suíços, ou R$ 70. Veja bem: por
ano. Sim, 365 dias. Quantas vezes quiser.
Para fazer uma ligação telefônica por celular pré-pago daqui para o Brasil pago, por minuto, 25 centavos de franco, ou
R$ 0,43. "Helloooooo!!", em um
celular pré-pago! E aqui se ganha em franco.
Não é difícil entender por
que a cidade está coalhada de
brasileiros."
RONALDO MARTINS (Genebra, Suíça)
Índice
|