São Paulo, domingo, 28 de março de 2010

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Olhos no futuro
"Eliane Cantanhêde, em sua coluna de 25/3, antecipa aos leitores trechos do livro "Luta, Substantivo Feminino", da série "Direito à Verdade e à Memória".
Destaco um deles: "De Dulce Chaves Pandolfi, professora da FGV-RJ. Da ALN, foi presa em 1970 e serviu de "cobaia" para aulas de tortura. "Eu não conseguia ficar em pé nem sentada.
As baratas começaram a me roer. Só pude tirar o sutiã e tapar a boca e os ouvidos".
Dia 31 de março próximo o golpe militar de 1964 faz aniversário. Os atos narrados por mulheres nesse livro chocante, devastador, foram praticados por um Estado "legítimo" de direito contra pessoas que defendiam seus pensamentos e o direito meu e de outros de poder estar escrevendo agora.
Se certos ou errados, a história julgará, mas jamais poderão justificar, em hipótese nenhuma, a prática de tortura. Como nação livre e democrática, devemos uma resposta à sociedade e uma manifestação de carinho e respeito para com essas mulheres e outras anônimas.
Queremos e devemos ocupar um lugar de destaque no plano global, interferindo de forma construtiva contra as inúmeras atrocidades que são cometidas em todos os cantos, seja em regimes totalitários, seja em mascaradas democracia. E não podemos, com a desculpa de uma anistia ampla, geral e irrestrita, apagar o passado da memória dessas mulheres.
O Brasil terá pilares fortes de sustentação das suas instituições se for capaz de olhar para o seu passado em busca da verdade que lhe possa conduzir com segurança para o futuro."
ROBERTO GONÇALVES SIQUEIRA (São Paulo, SP)

Governos
"Essa ideia de comparar o que um governo fez com o que o outro fez é infantilidade. É o mesmo que discutir sobre quem é mais importante na construção de um prédio: quem construiu os alicerces ou quem levantou as paredes.
As realizações dos governos de um país ao longo da história são cumulativas, embora cada um deles tenha suas características próprias. Daí a importância da alternância de poder e de visão administrativa.
Certa vez, Isaac Newton, ao ser elogiado, disse: "Não tenho nenhuma vantagem sobre outros cientistas que vieram antes de mim. Se consegui ver um pouco além no horizonte da ciência, foi porque subi em ombros de gigantes". Belo exemplo para os homens públicos de hoje, que vivem se autoelogiando e olvidam as boas realizações dos antecessores."
TERCIO SARLI (Campinas, SP)

Drogas
"Sou pai de família e, após ler o texto "Descriminalizar drogas une gestão Lula e FHC" (24/3), fiquei extremamente preocupado com os rumos que a discussão vem tomando no Brasil.
Tive um amigo que aos 15 anos começou a usar a "inofensiva" maconha. Depois passou a usar cocaína e, há uns dois anos, passou para o crack. Para sustentar o vício, começou a furtar bens de valor de sua casa.
Neste mês, aos 30 anos de idade, cometeu suicídio. Gostaria de perguntar aos que defendem a descriminalização das drogas se eles já viram de perto o estrago que essas substâncias fazem na vida de uma pessoa? Se têm ideia do que o crack pode fazer com uma pessoa. Se soubessem ou se tivessem casos na família, nunca defenderiam a descriminalização das drogas. Ao contrário, lutariam para aumentar as penas dos traficantes e para dificultar ao máximo o acesso às drogas e buscariam aumentar as verbas para o tratamento de viciados."
CRISTIANO REZENDE PENHA (Campinas, SP)

Ações afirmativas
"As palavras do professor Kabengele Munanga ("Os perigos de uma crítica maniqueísta", 26/3) são uma opinião sensata sobre um assunto que é debatido, na maioria das vezes, visando apenas defender interesses de uma parcela da sociedade -não muito grande, diga-se de passagem- que é beneficiada com a exclusão da maioria das universidades públicas. Sou aluna de universidade pública e afirmo que este não é um lugar onde a maior parte da população está representada. Um lugar onde, por exemplo, brancos estudam e negros tiram cópias xerox para estudantes."
TAÍS ROSA DE LIMA (São Paulo, SP)

Sem
"A charge do "mestre" Angeli de 24/3 é perfeita. Mostra o quanto somos insensíveis. Só nos indignamos depois que o estrago está feito. Infelizmente, Isabella está morta. Olhemos agora para as ruas de todo o Brasil e contemos quantas crianças estão largadas. Sem casa, sem família, sem amigos, sem tios, irmãos, pais ou avós. Sem cobertor, sem pijama quentinho, sem beijo de mãe, sem amor, sem proteção. Sem sabonete, sem escova de dentes, sem comida, sem roupa, sem banho. Sem educação e sem escola. Sem passado, sem futuro. Nosso mundo é só marketing.
Após a morte da Isabella, fui a São Paulo e vi uma menina de uns 12 anos dormindo preguiçosamente em uma das calçadas do centro da cidade. Chorei sozinho dentro do carro, pensando no conforto de que minha filha dispõe.
Acabei não escrevendo a este "Painel", pois faço parte dessa escória que só reclama e nada faz. Mas Angeli traduziu com simplicidade e profundidade algo que eu gostaria de ter dito e não disse."
FABIO FERRARI (Tatuí, SP)

Juízes
"Domingo passado, dia 21/3.
A maioria dos brasileiros gozava seu descanso semanal remunerado após uma semana com jornada de 8 horas e carga semanal de 44 horas. Se fizeram horas extras, receberão (ou deveriam receber) a contraprestação salarial.
Após a semana em que laborei em média 13 horas por dia (incluindo o sábado), meu filho entra em meu gabinete (sim, também trabalho em casa) e me convida para jogar bola.
Respondo que tenho de fazer duas sentenças. E ouço a seguinte frase: "Tá bom, fique com seus "filhos de papel", você gosta mais deles do que de mim" (meu filho tem 6 anos).
No dia seguinte, vejo opiniões contrárias às férias de 60 dias dos juízes.
Ou é pura má-fé ou desconhecimento profundo da nossa realidade de trabalho."
PAULO NUNES DE OLIVEIRA , juiz da 3ª Vara do Trabalho (Campina Grande, PB)

 

"No artigo "Ainda sobre as férias dos juízes" (26/3), dois juristas defendem o privilégio de gozar dois meses de férias por ano com a justificativa de que o juiz leva trabalho para casa.
Ora, esse não é o ônus de todo profissional que trabalha com a cabeça e não apenas com os braços? O professor não tem que preparar aulas, corrigir provas, atualizar seus conhecimentos lendo livros, revistas, jornais? E o médico, não tem que estudar diagnósticos, preparar-se para o ato cirúrgico, fazer cursos de especialização?
A atividade judicante não é mais digna ou trabalhosa do que a "ensinante" ou "medicante". Por que, então, o privilégio?
Estranho que Judiciário, cuja função é promover a justiça, possa defender privilégios em causa própria. Sem considerar a exagerada disparidade de proventos entre um ministro de Justiça e um humilde funcionário público."
SALVATORE D"ONOFRIO , professor titular de literatura da Unesp (São José do Rio Preto, SP)


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