|
Índice
leitor@uol.com.br
Olhos no futuro
"Eliane Cantanhêde, em sua
coluna de 25/3, antecipa aos
leitores trechos do livro "Luta,
Substantivo Feminino", da
série "Direito à Verdade e à
Memória".
Destaco um deles: "De Dulce
Chaves Pandolfi, professora da
FGV-RJ. Da ALN, foi presa em
1970 e serviu de "cobaia" para
aulas de tortura. "Eu não conseguia ficar em pé nem sentada.
As baratas começaram a me
roer. Só pude tirar o sutiã e tapar a boca e os ouvidos".
Dia 31 de março próximo o
golpe militar de 1964 faz aniversário. Os atos narrados por
mulheres nesse livro chocante,
devastador, foram praticados
por um Estado "legítimo" de direito contra pessoas que defendiam seus pensamentos e o direito meu e de outros de poder
estar escrevendo agora.
Se certos ou errados, a história julgará, mas jamais poderão
justificar, em hipótese nenhuma, a prática de tortura. Como
nação livre e democrática, devemos uma resposta à sociedade e uma manifestação de carinho e respeito para com essas
mulheres e outras anônimas.
Queremos e devemos ocupar
um lugar de destaque no plano
global, interferindo de forma
construtiva contra as inúmeras
atrocidades que são cometidas
em todos os cantos, seja em regimes totalitários, seja em mascaradas democracia. E não podemos, com a desculpa de uma
anistia ampla, geral e irrestrita,
apagar o passado da memória
dessas mulheres.
O Brasil terá pilares fortes de
sustentação das suas instituições se for capaz de olhar para o
seu passado em busca da verdade que lhe possa conduzir com
segurança para o futuro."
ROBERTO GONÇALVES SIQUEIRA
(São Paulo, SP)
Governos
"Essa ideia de comparar o
que um governo fez com o que o
outro fez é infantilidade. É o
mesmo que discutir sobre
quem é mais importante na
construção de um prédio:
quem construiu os alicerces ou
quem levantou as paredes.
As realizações dos governos
de um país ao longo da história
são cumulativas, embora cada
um deles tenha suas características próprias. Daí a importância da alternância de poder e de
visão administrativa.
Certa vez, Isaac Newton, ao
ser elogiado, disse: "Não tenho
nenhuma vantagem sobre outros cientistas que vieram antes de mim. Se consegui ver um
pouco além no horizonte da
ciência, foi porque subi em ombros de gigantes". Belo exemplo
para os homens públicos de hoje, que vivem se autoelogiando
e olvidam as boas realizações
dos antecessores."
TERCIO SARLI (Campinas, SP)
Drogas
"Sou pai de família e, após ler
o texto "Descriminalizar drogas
une gestão Lula e FHC" (24/3),
fiquei extremamente preocupado com os rumos que a discussão vem tomando no Brasil.
Tive um amigo que aos 15
anos começou a usar a "inofensiva" maconha. Depois passou a
usar cocaína e, há uns dois
anos, passou para o crack. Para
sustentar o vício, começou a
furtar bens de valor de sua casa.
Neste mês, aos 30 anos de idade, cometeu suicídio.
Gostaria de perguntar aos
que defendem a descriminalização das drogas se eles já viram de perto o estrago que essas substâncias fazem na vida
de uma pessoa? Se têm ideia do
que o crack pode fazer com
uma pessoa. Se soubessem ou
se tivessem casos na família,
nunca defenderiam a descriminalização das drogas. Ao contrário, lutariam para aumentar
as penas dos traficantes e para
dificultar ao máximo o acesso
às drogas e buscariam aumentar as verbas para o tratamento
de viciados."
CRISTIANO REZENDE PENHA (Campinas, SP)
Ações afirmativas
"As palavras do professor Kabengele Munanga ("Os perigos de uma crítica maniqueísta", 26/3) são uma opinião
sensata sobre um assunto que é debatido, na maioria das
vezes, visando apenas defender interesses de uma parcela
da sociedade -não muito grande, diga-se de passagem-
que é beneficiada com a exclusão da maioria das universidades públicas. Sou aluna de universidade pública e afirmo que este não é um lugar onde a maior parte da população está representada. Um lugar onde, por exemplo, brancos estudam e negros tiram cópias xerox para estudantes."
TAÍS ROSA DE LIMA (São Paulo, SP)
Sem
"A charge do "mestre" Angeli de 24/3 é perfeita. Mostra o
quanto somos insensíveis. Só nos indignamos depois que o
estrago está feito. Infelizmente, Isabella está morta. Olhemos agora para as ruas de todo o Brasil e contemos quantas crianças estão largadas. Sem casa, sem família, sem
amigos, sem tios, irmãos, pais ou avós. Sem cobertor, sem
pijama quentinho, sem beijo de mãe, sem amor, sem proteção. Sem sabonete, sem escova de dentes, sem comida,
sem roupa, sem banho. Sem educação e sem escola. Sem
passado, sem futuro. Nosso mundo é só marketing.
Após a morte da Isabella, fui a São Paulo e vi uma menina de uns 12 anos dormindo preguiçosamente em uma das
calçadas do centro da cidade. Chorei sozinho dentro do
carro, pensando no conforto de que minha filha dispõe.
Acabei não escrevendo a este "Painel", pois faço parte
dessa escória que só reclama e nada faz. Mas Angeli traduziu com simplicidade e profundidade algo que eu gostaria
de ter dito e não disse."
FABIO FERRARI (Tatuí, SP)
Juízes
"Domingo passado, dia 21/3.
A maioria dos brasileiros gozava seu descanso semanal remunerado após uma semana
com jornada de 8 horas e carga
semanal de 44 horas. Se fizeram horas extras, receberão
(ou deveriam receber) a contraprestação salarial.
Após a semana em que laborei em média 13 horas por dia
(incluindo o sábado), meu filho
entra em meu gabinete (sim,
também trabalho em casa) e
me convida para jogar bola.
Respondo que tenho de fazer
duas sentenças. E ouço a seguinte frase: "Tá bom, fique
com seus "filhos de papel", você
gosta mais deles do que de
mim" (meu filho tem 6 anos).
No dia seguinte, vejo opiniões
contrárias às férias de 60 dias
dos juízes.
Ou é pura má-fé ou desconhecimento profundo da nossa
realidade de trabalho."
PAULO NUNES DE OLIVEIRA , juiz da 3ª Vara
do Trabalho (Campina Grande, PB)
"No artigo "Ainda sobre as férias dos juízes" (26/3), dois juristas defendem o privilégio de
gozar dois meses de férias por
ano com a justificativa de que o
juiz leva trabalho para casa.
Ora, esse não é o ônus de todo
profissional que trabalha com a
cabeça e não apenas com os
braços? O professor não tem
que preparar aulas, corrigir
provas, atualizar seus conhecimentos lendo livros, revistas,
jornais? E o médico, não tem
que estudar diagnósticos, preparar-se para o ato cirúrgico,
fazer cursos de especialização?
A atividade judicante não é
mais digna ou trabalhosa do
que a "ensinante" ou "medicante". Por que, então, o privilégio?
Estranho que Judiciário, cuja
função é promover a justiça,
possa defender privilégios em
causa própria. Sem considerar
a exagerada disparidade de
proventos entre um ministro
de Justiça e um humilde funcionário público."
SALVATORE D"ONOFRIO , professor titular de
literatura da Unesp
(São José do Rio Preto, SP)
Índice
|