São Paulo, domingo, 28 de junho de 2009

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Semana do Leitor

Alan Marques - 22.ago.06/Folha Imagem
Raio atinge o Congresso, na Esplanada dos Ministérios



Meninas invisíveis
"Mais uma vez assistimos à culpabilização da mulher -neste caso, de meninas, o que é pior ("Pagar menor por sexo não é crime, diz STJ", Cotidiano, 24/6). O que o STJ disse, ao final das contas, é que essas meninas já estavam "na vida" e, portanto, a exploração já estava consumada.
Seja lá o que for, trata-se de adolescentes que demandam atenção e proteção do Estado. Desconhecer que os clientes estavam cometendo um ato ilícito é dizer que a lei, no caso, o Estatuto da Criança e do Adolescente, só tem aplicação na proteção a uma certa infância pura e idealizada. Significa que, para as demais crianças e adolescentes, mesmo em evidente estado de exploração, não há o que fazer. É deixar que a vida se encarregue delas. No caso em tela, o fato de se tratar de sexo entre adultos e menores de idade surge como mero incidente, afinal, a vida já se incumbiu de emancipá-las. O mais "engraçado" nisso tudo é que fazer sexo pode, o que não pode, ao que parece, é registrar a cena. Então "tudo bem" se for escondido. Durma-se com um barulho desses."
ROBERTO CHATEAUBRIAND DOMINGUES (Belo Horizonte, MG)

"É aviltante a decisão do STJ de não tipificar como crime de pedofilia o abuso sofrido por duas adolescentes em troca de R$ 80. E é igualmente inaceitável considerar que a ausência do hímen possa significar uma referência negativa e perversa contra a dignidade de qualquer jovem. Causa preocupação que profissionais de direito desconheçam o Brasil profundo, miserável, patriarcal e arcaico, que ainda submete as mulheres e as condena a serem objeto de usufruto masculino, na eterna condição de abusadas -iniciação que se dá, muitas vezes, na própria família e invariavelmente termina numa esquina ou beco qualquer."
ÂNGELA LUIZA S. BONACCI (São Paulo, SP)

"Excelente o artigo da deputada Maria do Rosário ("Meninas invisíveis", 23/6). Excelente, triste e vergonhoso. Será que o nosso presidente, que se vangloria de emprestar US$ 10 bi ao FMI e faz todas as concessões para conseguir um assento no Conselho de Segurança da ONU, não sentiu vergonha ao lê-lo? E o ungido presidente do Senado, não se envergonha de preocupar-se só com a "cozinha" daquela Casa?"
EDSON SANT" ANNA (São Paulo, SP)

"Revoltante a decisão do STJ sobre os homens que pagaram para fazer sexo com menores. Parece que damos passos para trás no processo civilizatório."
ROSE MARIE INOJOSA (São Paulo, SP)

Congresso
"É lendária a frase "À mulher de César não basta ser honesta, ela deve parecer honesta". Os eleitores brasileiros sonhamos que no mundo político do nosso país haja o lema: "O político brasileiro não precisa parecer honesto, basta apenas que seja honesto". Mas isso é sonhar com uma lenda."
HOMERO JOSÉ ROCHELLE (Piracicaba, SP)

"Quando adolescente, por força do vestibular, tive que decorar para que servia o Senado. Hoje, eleitor de algumas décadas, a dúvida ainda me incomoda: para que serve o Senado?"
PAULO BALDIN (Santos, SP)

"Lendo na Folha o sempre brilhante Janio de Freitas, acerca da devassidão no Senado, lembrei-me da máxima de Max Nunes: "Já foi o tempo em que a união fazia a força. Hoje, a União cobra impostos, e quem faz a força é você". É uma tristeza constatar essa anomalia no meio público, pois, em qualquer esfera de poder, as consequências são danosas e não raro irreversíveis."
TITO SALES GOULART (Curitiba, PR)

"A atual crise do Senado não deveria ser novidade para os brasileiros. Elas são corriqueiras e têm raízes históricas. Basta lembrar que, no Império, o Parlamento era composto por gente da elite e mandava e desmandava, criando leis em benefício próprio. O senador era escolhido pelo imperador e tinha cargo vitalício; só participava do processo eleitoral quem possuía determinada renda; o povo vivia à margem das discussões parlamentares. Com os anos, essa prática aprimorou-se e tornou-se extremamente nociva. O resultado é o que vemos todos os dias: escândalo atrás de escândalo. Mudar esse cenário não é impossível, mas exige força de Hércules."
PAULO FERNANDO SIQUEIRA (Mococa, SP)

"É impossível apontar a última denúncia de mau uso dos recursos públicos pelo Congresso: anões, vampiros, agaciéis, zoghbis, renans, sarneys. Eles se renovam. Por mais indignados que fiquemos, precisamos pensar soluções institucionais para aperfeiçoar o Legislativo. Um ponto de partida é a sociedade lembrar que o Legislativo tem atribuição constitucional de fiscalizar e julgar as contas do Estado. É o Legislativo que julga em última instância as execuções orçamentárias do Executivo e do Judiciário -e, claro, os seus próprios gastos. Eis aqui um "elo perdido" do arranjo democrático: a independência entre os Poderes . Enquanto o Legislativo possuir a atribuição "casada" de definir o seu próprio orçamento e julgar as suas próprias contas, não haverá limite para o mau uso dos recursos públicos pelo Congresso. Há um claro conflito de interesse na prática. Nesse sentido, uma solução seria dar independência plena ao Tribunal de Contas da União.
Hoje, o entendimento de que a indicação política de seus ministros compromete a independência daquela corte é praticamente consensual. É preciso apresentar uma emenda à Constituição que despolitize o TCU, para que seja um poder autônomo de fato.
É imperativo que os ministros do TCU ingressem na carreira por concurso público e que seu presidente seja definido internamente pelo órgão. Com as devidas adaptações, o órgão poderia ter uma estrutura semelhante à do Ministério Público da União, que possui uma independência real.
A independência entre os Poderes é alicerce da teoria democrática."
LUCÍDIO BICALHO, mestre em ciência política pela UnB (Brasília, DF)

USP
"Gostaria de apontar uma curiosidade: para a Folha, a USP se resume às humanidades. Acompanhei os artigos, entrevistas e reportagens sobre a greve e vi que 95% dos pontos de vista eram de cientistas sociais, historiadores, filósofos, educadores, comunicadores... Isso se deve a uma suposta "alienação" de físicos, químicos, biólogos, oceanógrafos...? Não.
Há diversas vozes articuladas nessas áreas, com opiniões importantes para os leitores. Suspeito de que essa tendenciosidade se deva a dois fatores: 1) há uma cultura de sobrevalorizar as humanidades na intelectualidade brasileira; 2) faz parte do trabalho de boa parte dos estudantes e profissionais das humanidades esse "ativismo profissional", com o engajamento de 100% do seu tempo em greves, manifestos, discursos, assembleias. A consequência é um nível de decibéis muito mais alto pela turma das humanidades que pelo resto (a maioria!) dos intelectuais e da comunidade acadêmica."
LUÍS RAUL WEBER ABRAMO, professor do Instituto de Física da USP (São Paulo, SP)

Jornalismo e direito
"Congratulo-me com o nobre causídico José Paulo Cavalcanti Filho pela lucidez do artigo "Ser ou não ser (diplomado), eis a questão" (25/6), no qual discorreu sobre a decisão do STF sobre a não obrigatoriedade da de diploma de jornalismo para exercer a profissão.
Porém em pior situação se encontram cerca de quatro milhões de bacharéis em direito, devidamente diplomados e qualificados por universidades reconhecidas e fiscalizadas pelo MEC, mas impedidos de exercer a profissão por um órgão fiscalizador da profissão, num flagrante desrespeito à Constituição.
Um bom advogado se faz ao longo dos anos de militância forense. A proliferação de cursos jurídicos de baixa qualidade não dá direito à egrégia OAB de usurpar atribuições do MEC."
VASCO VASCONCELOS (Brasília, DF)


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