São Paulo, domingo, 13 de dezembro de 2009 |
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CAPA Decifrando a esfinge Marieta Severopor HERMÉS GALVÃO O ENIGMA MARIETA Há nove anos, ela é a estrela de um dos mais populares programas da TV brasileira. Há muito mais tempo, é uma das figuras mais reservadas do meio artístico. Marieta Severo, 63, é uma esfinge que Serafina acaba de decifrar Você nunca vai encontrar Marieta Severo sentada no restaurante mais manjado da cidade, nem mostrando faqueiro em revista. Questão de escolha. Marieta não anda por aí, está na dela. Há 63 anos na dela e há nove como protagonista de "A Grande Família", programa que semanalmente muda a antena da classe A para a TV aberta. "Tenho consciência de que estou no melhor espaço da televisão. É um misto de sorte e critério." Poucas atrizes brasileiras se deram o direito de preservar a intimidade e defendê-la com tanta destreza. Nada pensado, nem dolorido, apenas natural. "Eu me exponho de corpo e alma no trabalho e manifestações de carinho ou admiração das pessoas, quando estou disponível, não me incomodam." Mas existe aí um não querer falar que desconcerta e inibe os que chegam perto querendo saber, logo, quem é Marieta na vida privada. "Meu olhar de reprovação é um exercício de transparência que saiu do meu controle", diz. "Tenho convicção de que quanto menos dados o público tiver sobre a minha vida, melhor. Quero ser uma página em branco para que vejam em mim apenas uma personagem da ficção." Então, vamos começar do zero, riscar todas as impressões e tentar decifrá-la. Ou ser devorado por ela. Que mistérios, desejos e ideias Marieta guarda para si? Talvez, seus amigos mais íntimos e os amigos desses amigos saibam alguma coisa a seu respeito. Mas nós, o país inteiro, quase nada. "Sou contida por temperamento, não sou dada", explica. "O ser humano sempre teve curiosidade pela vida alheia, até de maneira mórbida, mas isso não quer dizer que a gente tenha de atender a esse anseio. Não é das curiosidades mais saudáveis do homem." Fala do presente como se fosse o futuro, trabalha como se não houvesse amanhã; tem horror a remontagens, reprises, remakes e releituras. Muda de canal sempre que aparece na tela, mesmo quando vale a pena vê-la de novo. "Não sou saudosista, Deus me livre ter que rever algo que fiz lá atrás. Mesmo porque aquela morreu, já não sou eu." Mas tive que perguntar. Custou-me um bocado, quase um sermão. Daqueles de mãe. "É um namoro que todo mundo sabe que existe, mas para mim não é assunto, não tem nada de novo, nem é útil para ninguém. As coisas que tento falar são para alguém que vai ler e se interessar, e o jeito que namoro não tem nada de construtivo para ninguém. É igual ao de qualquer pessoa." Recado dado, assunto encerrado. "Não fica nem bem uma mulher de 63 anos ficar falando de namoro. O que meus netos vão dizer?", fala, às gargalhadas. Aderbal é o curador do Teatro Poeira, a casa de espetáculos que Marieta fundou com a comadre Andréa Beltrão em 2005, palco de peças estreladas pela dupla e dirigidas por ele, como "Sonata de Outono" e "As Centenárias", que, em breve, volta ao cartaz. "Aderbal tem uma relação profunda e determinante com o Poeira. Batemos muita bola com ele, somos um grupo." Fechado? "Todas as minhas relações são de muito tempo. Gosto do tempo nas coisas, gosto quando falo: 'minha amizade já tem 20 anos'. Sou muito lenta, meu coração não é rápido, mas quando as coisas acontecem, é de maneira definitiva e depurada. Isso vale para tudo." Vale para seu namoro também? "Vale." Ainda bebe, adora cerveja. E com cigarro, que fuma desde os 13 anos entre idas e vindas (voltou a parar), a combinação perfeita. "Esse vício é tão desgraçado que, até hoje, tenho vontade. De vez em quando, fumo uns três, quatro por noite." Apesar disso, corre atrás de uma rotina saudável, ela, carioca, fruto da geração que experimentou tudo e todos. "Não que eu não tenha pirado, não que não tenha usado, mas foi tudo de forma muito comedida." Outros tempos, outras ondas, mas Marieta ainda é "prafrentex". Dirige um carrão, sozinha, "não é blindado, não tenho segurança, nem vidro preto, nada. Não acredito nisso, o melhor é desencanar e ir", adora a madrugada, não perde o noticiário das 2h, está em forma e se veste de maneira desencanada –o que seu neto Francisco, de 13 anos, chamaria, no bom sentido, de "sinistro". "Sempre me cuidei, a vida toda. É impossível ser atriz e não se cuidar. As pessoas vão ao teatro para me ver, não posso estar um trubufu", diverte-se. Longe disso, existe nela uma sensualidade veterana. "Não busco estar sexy de jeito nenhum." Mas você é, Marieta. "Sou?". É. "Existe uma sensualidade natural, que brota, que é sua, e é linda. Se é nesse sentido, então ótimo. Adorei saber, mas digo que nunca fui uma mulher bonita. Nunca tive motivo físico para ser mais vaidosa do que precisei ser. Não me sinto, com o tempo, perdendo nada. Vejo mulheres que foram belíssimas e penso: meu Deus, como deve ser doloroso para elas perder esse trunfo." Indecifrável à primeira vista, mas nada misteriosa, ela é apenas guardiã de seus segredos. Marieta é um mito produzido por nós –em sua modesta opinião, "apenas uma atriz que corre atrás". A estrela que o Brasil não quer levar para a cama, mas que sempre teve sentada no sofá, no lugar mais sagrado da casa. Marieta é família, estrela do lar; poderia ser a sua comadre, a minha mãe, a avó perfeita para nossos filhos, aquela tia penteada que traz os melhores presentes de suas viagens exóticas. Marieta é todas as mulheres do mundo, Leila Diniz e dona Nenê, e aquela música do Chico, a Beatriz. "Será que é uma estrela, será que é divina a vida da atriz...". Está decifrada Marieta Severo. Devore-a. TESÃO PELA SOGRA Tudo começa quando chego ao estúdio para acompanhar a gravação de um programa. A história era uma daquelas ideias provocadoras que sempre pautaram nossos roteiros. Incentivada pela inquieta Marilda (Andréa Beltrão), Nenê (Marieta Severo) resolvia mudar seu penteado completamente. Quantas donas de casa não pensaram nisso, mas não tiveram coragem para ir adiante? Não foi o caso de Nenê. E lá vem ela descendo a ladeira, voltando para casa, desfilando seu novo "look". Mas no caminho ficava o ponto de táxi da rua. E quem estava lá, conversando com os outros motoristas e contando proezas de macho? Agostinho (Pedro Cardoso), claro. Nenê passa por ele, e sem perceber que se tratava de sua sogra, o taxista faz uma gracinha. Nenê se vira, percebe que foi cantada pelo genro, Agostinho se dá conta da besteira que fez, e está formada a confusão do episódio. Cheguei ao estúdio e estava um climão. Todos me olhavam de uma maneira estranha. Percebi que o problema era comigo. Quando entrei na sala dos atores, a coisa despencou de vez na minha cabeça. Pedro Cardoso estava incomodado com o tema do programa. Achava um absurdo o genro olhar para a sogra daquele jeito. E o pior é que ele já tinha convencido até a Marieta a formar fileiras naquele motim. Estúdio parado, climão formado, e Pedro me pergunta à queima roupa: você tem tesão na sua sogra? Eu penso na minha sogra, coitada, que tinha entrado de gaiata naquele navio, e respondo que não. Não tinha tesão nela. Mas minha sogra não era a Marieta. A resposta foi suficiente para dividir os amotinados. As nuvens negras se dissiparam, o episódio foi gravado e tudo terminou bem como num final de "A Grande Família"." Claudio Paiva, 52, é cartunista e roteirista Texto Anterior: POP UP: A iraniana Golshifteh Farahani conquista Hollywood |
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