São Paulo, domingo, 14 de dezembro de 2008

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CAPA:

fator BRUNI

por JOHN FOLLAIN

A residência parisiense da ex-supermodelo, que virou cantora e então esposa do presidente Nicolas Sarkozy, fica escondida na ponta de uma ruazinha quase isolada em uma área chique, próxima ao parque Bois de Boulogne, em Paris. Uma grande porta cor de ferrugem se abre para revelar o sobrado da década de 1950, com jardim protegido da visão de quem vem de fora por altos bambus. O terraço é margeado por vasos de terracota em estilo italiano contendo palmeiras e oliveiras, além de um jasmineiro e um pé gigante de magnólia. Desde que se casou com Sarkozy, em fevereiro, Carla não deixou sua casa; o presidente vive ali com ela. Nos fins de semana, eles promovem reuniões familiares no Palácio do Eliseu, a residência presidencial oficial.

Carla imediatamente aceita o buquê de flores que eu lhe ofereço e me leva para sua elegante cozinha. Sentando-se sobre um balcão, estica um braço para pegar um vaso do armário. Ela tira da geladeira uma garrafinha de cerveja mexicana Corona para ela e uma água Perrier para mim, diz "até mais tarde" aos dois assessores publicitários de sua gravadora e anda até a sala de estar. Senta-se com as costas muito retas sobre um pufe cinza, de frente para a porta envidraçada dupla, que dá para o terraço. De um lado, há um piano de cauda preto, e, atrás dela, vejo uma lareira moderna com um espelho dourado do século 18, do castelo no norte da Itália onde ela passava suas férias de verão quando era criança.

RUPTURA, "RUPTURE"

Carla nasceu em uma família musical e rica de Turim, no norte da Itália. Sua mãe, Marisa Borini, era pianista concertista, e Alberto Bruni Tedeschi, que ela pensava ser seu pai (falaremos disso mais adiante), era compositor, industrial fabricante de pneus e colecionador de arte.

Quando Carla tinha sete anos, a família fugiu para Paris. Os pais temiam ser seqüestrados pelos terroristas das Brigadas Vermelhas, que assolavam a Itália na época. Ela vê a mudança como a primeira ruptura de sua vida. Diz a palavra em francês -é a mesma palavra que Sarkozy emprega para descrever a nova aurora que promete à França. "Isso me ajudou, porque toda vez que tive de passar por uma grande mudança revivi na memória a nossa ida para Paris. Eu me acostumei às mudanças quando ainda era criança", diz.

Um ano depois de chegar a Paris, uma professora deu uma aula de violão em sua classe. Carla faz os gestos de quem dedilha um violão e canta "Oh, Susanna / Oh, don't you cry for me", e explica: "Foi isso o que ela tocou para nós. Eu não fiz minha lição de casa enquanto não acertei aquele trecho. Percebi ali que tinha encontrado minha porta de entrada na música."

Aos 19 anos, nova ruptura. Interrompeu o curso de arte e arquitetura na Sorbonne para começar a trabalhar como modelo. "Eu simplesmente levei meu passe de metrô a uma agência, era a única foto que tinha. Eles me aceitaram." Ela se tornou supermodelo, o rosto da Guess e da Versace, ganhando estimados US$7,5 milhões por ano, durante 12 anos de carreira. "Ser modelo me ensinou desde o início que eu e minha imagem somos duas coisas diferentes. Isso me ajuda muito hoje."

Em 1996, quando Alberto, o homem que sempre vira como pai, estava à beira da morte, sua mãe lhe disse que, na realidade, ela era filha de Maurizio Remmert, empresário e violonista italiano com quem Marisa tivera um caso durante seis anos. Carla afirma que essa revelação, mantida em segredo até janeiro deste ano, não foi traumática: "Para mim foi um alívio, uma dádiva. De qualquer maneira, o homem que me criou ainda está muito presente em minha vida. O que me perturbou foi que essa história toda veio à tona quando me casei, e, quando é relatada por outras pessoas, sempre soa um pouco sórdida. Mas é uma história linda." Carla tinha 19 anos quando conheceu Remmert, que foi informado de que ela era sua filha quando ela nasceu; Alberto também foi informado na mesma época.

VALSA DE HOMENS

Ela parou de trabalhar como modelo aos 29 anos, achando que sua carreira estava em baixa e frustrada por viver cercada de "menininhas", como diz, cada vez mais jovens. Sua carreira como cantora teve um início tão incomum quanto a de modelo. Inicialmente, ela não punha muita fé em sua voz, embora acreditasse muito no valor de suas letras. Quando fez uma gravação demo, teve medo de ser rejeitada por gravadoras pelo fato de ser ex-modelo. Então a enviou anonimamente ao selo independente parisiense Naive. Seu primeiro álbum, "Quelqu'un m'a Dit", vendeu 2 milhões de cópias.

Sua vida particular, ou aquilo que, em seu álbum mais recente, ela chama -usando os verbos no pretérito- de sua "capacidade de fazer os homens valsar", sempre alimentou as revistas de fofocas. Elas a descreviam como "femme fatale", acompanhando seus relacionamentos com Eric Clapton e Mick Jagger (esse último durou sete anos), os atores Vincent Perez e Charles Berling e o ex-primeiro-ministro socialista Laurent Fabius.

Sua paixão pelo filósofo francês Raphael Enthoven, casado, causou mais escândalo, já que ela estivera antes com seu pai, o publisher Jean-Paul Enthoven. Raphael se divorciou de sua mulher e teve um filho com Carla, Aurelien, que está com sete anos. "Antes de ter Aurelien, eu era uma mulher de espírito aventureiro, obcecada por fazer coisas e viajar", diz ela. "Meu filho me desacelerou, porque ele é mais importante do que eu. Para mim, feminilidade significa criar espaço para um filho ou um marido, e isso é algo que eu não fazia muito antes."

Carla se separou de Enthoven em maio de 2007. "Foi uma separação amigável. Separar-se como amantes já é suficientemente triste, mas, quando há um filho envolvido, é uma família que se separa."

ENCONTRO ÀS ESCURAS

Quando o publicitário e guru de relações-públicas Jacques Séguéla, que havia dirigido campanhas eleitorais do presidente francês François Mitterrand, convidou-a para um jantar em sua casa em Marnes-la-Coquette, nos arredores de Paris, em novembro passado, Carla aceitou imediatamente.

Ela estava "muito curiosa" para conhecer seu "par não tão desconhecido", o presidente de centro-direita Sarkozy, que se divorciara de sua segunda mulher, Cecilia, também ex-modelo, um mês antes. Seis meses depois de chegar à Presidência, Sarkozy dissera a vários amigos, entre eles Séguéla, que queria conhecer rostos novos, e o amigo achou que seria bom para ele conhecer Carla. Cada um sabia que o outro estaria lá e que eles seriam os únicos solteiros no jantar.

Carla estava sentada à direita do presidente. "Minha primeira impressão de Nicolas, e ainda tenho essa impressão, foi de um homem muito magnético, de rara inteligência e energia", diz. "A impressão que tive quando conheci o pai de meu filho foi de fraternidade e bondade; talvez por isso tenha sido fácil ter um filho com ele. Com meu marido, é magnetismo e complementaridade. Estou enfeitiçada por ele."

Carla já disse no passado que sempre deu o primeiro passo com seus amantes. No jantar, Sarkozy primeiro se desculpou gentilmente com a mulher de Séguéla, que estava sentada à sua esquerda, e então se voltou para Carla e conversou com ela a noite toda. Quer dizer que Sarkozy deu o primeiro passo? "Eu também dei. Foi mais ou menos amor à primeira vista." Quando a noite chegou ao fim, ela lhe perguntou se ele tinha carro, e ele a deixou diante de sua casa.

Carla recorda que quando Sarkozy a pediu em casamento, pouco depois de eles se conhecerem, ela brincou sobre o fato de ele já ter sido casado duas vezes. "O que é isso, é um tique, um hábito que você tem?", disse ela. "Mas compreendi que ele é um homem de compromissos. Ele opta por um caminho e o segue até o fim. Aceitei imediatamente."

FIM DAS PIADAS

Carla ainda está tateando em seu novo papel de primeira-dama. "Não devo mudar", diz. "Mas há uma coisa que aprendi sozinha nesse novo papel, e essa coisa é prudência. Antes, quando eu dava entrevistas, divertia-me muito fazendo piadas. Mas uma piada fica muito diferente quando é impressa num jornal."

Houve mais expressões de espanto no dia de sua chegada em solo britânico, quando dois jornais publicaram em suas primeiras páginas uma foto de Carla nua, de corpo inteiro, feita 15 anos antes por Michel Comte, que seria leiloada pela Christie's (a foto foi arrematada por 46 mil libras). Até que ponto isso a incomodou? "Não me incomodou. Eu tive medo de que pudesse prejudicar meu marido, mas não sinto vergonha de meu passado. Tenho orgulho de tudo o que fiz."

"Era uma foto que foi feita originalmente para uma campanha de combate à Aids", prossegue. "É verdade que, quando eu era uma modelo jovem, não tinha problemas em fazer fotos de nu, desde que fossem artísticas. Nunca fiz fotos de 'soft porn', não tenho corpo para isso", conclui, rindo.

Mas Carla já fez algo "político". Ela conquistou os franceses -de acordo com uma pesquisa de opinião feita em junho, tem a aprovação de 68% dos eleitores. Os analistas políticos se dividem sobre até que ponto ela ajudou a melhorar a imagem de Sarkozy, mas muitos concordam quanto ao chamado "efeito Carla": seu marido se tornou mais sereno e sensível.

Por mais mudanças que tenham acontecido em sua vida, Carla não tem dúvida de que essa última é para valer. Os parisienses podem especular sobre quanto tempo vai durar seu amor por Sarkozy, mas ela já declarou que seu casamento é "para sempre".

Quando me levanto para partir, ela se inclina para a frente, aproximando-se do gravador, e canta três palavras, numa imitação ofegante de Marilyn Monroe: "Bye bye, baby..." Então, a primeira-dama, ou a cantora, ou a ex-supermodelo, ou simplesmente Carla -os rótulos são muitos- põe-se a rir.

A íntegra deste texto foi publicada pela revista "Luxx", do jornal "The Times".

Tradução de Clara Allain



A modelo
por John Casablancas

A beleza de Carla Bruni é um conjunto. Não vem do fato de ela ter a boca assim, o nariz assado. Ela é bela de uma maneira imensamente feminina, sensual e sofisticada. Muito sedutora, porém nunca vulgar. Cheia de classe. Ela parece um gato de raça e sempre foi uma categoria à parte no mundo das modelos. Além de ter todos os atributos físicos para ser uma top, ao mesmo tempo era uma socialite, freqüentava círculos de qualidade intelectual e social superiores em todos os sentidos, o que a destacava da realidade das outras modelos. Ela era mais interessante, mais inteligente, mais culta do que a média. E, como conseqüência, mais cativante.
Fui apresentado a ela em meados dos anos 90 pela holandesa Karen Mulder, outra das "supermodels" daquela geração. Vi Carla desfilando as coleções de Paris e Milão e quis levá-la de qualquer maneira para a minha agência, Elite. Por mais que tivesse insistido, nunca consegui representá-la. Naquela época, ela trabalhava com a agência Marilyn, se não estou enganado. Ela recusou os dois convites que fiz, mas suas negativas eram sempre tão simpáticas e agradáveis que não me senti frustrado. Eu tentei demonstrar que muita coisa poderia ser feita pela sua carreira, ela agradecia e escapava. Como um gato.
Na verdade, como vinha de família riquíssima e de ótimo nível cultural, a vida de Carla Bruni sempre foi excepcional, desde muito antes de ela ser modelo.
[Depoimento a Ana Ribeiro]


O pai brasileiro
por Barbara Gancia

"Lunedì, 8 Dicembre, 2008 - Crudo di Gamberi 2008 con purè di Broccoli; Zuppetta di Lenticchie di Puy con Polipo e Bacon; Gnocchi di Palmito Pupunha con Fonduta al Pomodoro fresco; Sorbetto di Carota e Succo d'Arancia".

Mesmo quem não domina o italiano é capaz de depreender que o cardápio descrito acima aparenta simplicidade, mas expõe um repasto relativamente intricado, em que os ingredientes básicos, como as lentilhas (lenticchie) e o tomate (pomodoro), acabam ganhando identidade própria, seja por meio do registro em capitulares, seja pelo tratamento que lhes foi dado. Cenouras e laranjas estão na lista de compras de qualquer dona-de-casa, mas quase ninguém serve "Sorvete de Cenouras com Suco de Laranja" (arancia) no jantar.
Pois o homem que propôs e executou a delicada refeição do dia 8 de dezembro é o espelho vivente do menu que criou. Bem antes de ganhar notoriedade na imprensa como "o pai biológico de Carla Bruni", Maurizio Remmert, 61, era retratado em publicações especializadas como um profissional da área do comércio exterior que se revelara um exímio cozinheiro.
Segundo alguns mestres nacionais como Jun Sakamoto, sua técnica supera a de chefs famosos. E a cozinha de Maurizio, que ele diz não haver igual em nenhum restaurante do país, possui equipamentos (que ele chama de "hardware") de fazer inveja aos físicos do Projeto Manhattan. Tal qual um Oppenheimer de colher de pau, na confecção de seus purês ele usa um termocirculador alemão que, em laboratórios químicos, é utilizado para testes.
Conheço Maurizio desde os anos 70, quando ele chegou recém-casado ao Brasil. Nossas famílias são da mesma cidade na Itália, Turim, e estabelecer contato conosco foi uma coisa natural a fazer ao desembarcar em São Paulo.
De lá para cá, já vi Maurizio "estar" jogador de pólo (quase virou profissional), "estar" músico como a filha famosa (gravou vários discos na Itália como violonista clássico), "estar" nadador (com tempos próximos aos de atletas olímpicos), "estar" piloto de planador (sobreviveu para contar aos netos) e agora o vejo "estar" um disciplinado mestre-cuca, que não admite em sua cozinha a entrada de três ingredientes de fazer a festa dos cozinheiros de meia-pataca: o açúcar, a manteiga e o creme de leite.
Nunca soube que Maurizio executasse nada pela metade; a toda atividade extra-curricular que abraça ele dedica empenho máximo. É o tipo de camarada que faz tudo em profundidade, não diria sem uma ligeira pitada de neurose.
Talvez seja por isso que ele e sua segunda mulher, Márcia de Luca, fundadora do Ciymam (Centro Integrado de Yoga, Meditação e Ayurveda), vivem em casas separadas.
Talvez seja por isso que ele é capaz de subir pelas paredes quando fala de sua nova notoriedade como "o pai biológico de Carla Bruni".
"Não sou uma pessoa pública e insisto em continuar não sendo", diz. "Na semana passada, estava em Lima a trabalho e, quando me dei conta, percebi a presença de dois jornalistas da 'Caras-Venezuela' na porta do hotel". Para um nativo de Turim, cidade de temperamento extra-sisudo onde a expressão "vida privada" é levada ao pé da letra, o assédio da imprensa representa um martírio.
Mas a situação já foi bem pior. Como na véspera do casamento de Carla e Nicolas, quando o amigo Jun Sakamoto teve de improvisar a retirada de Maurizio de seu restaurante pela porta da cozinha a fim de evitar uma matilha de repórteres de um tablóide inglês.
Ou como quando uma jornalista de outro tablóide britânico deu as caras no escritório que a empresa de Maurizio mantém na Suíça e pediu seu telefone, como quem não quer nada. "Para você ter uma idéia do grau de dissimulação dessa gente, a mulher foi acompanhada de uma criança e disse ser minha amiga", desabafa. Adivinhe se ela não saiu de lá com o número particular do senhor Remmert?

A primeira-dama
por João Batista Natali

Carla Bruni-Sarkozy inaugurou um novo estilo como primeira-dama na França. Trouxe na biografia uma fileira de ex-amantes e escapou do bom-mocismo da dona-de-casa que à noite serve uma sopinha fumegante ao marido -como já foi retratada em foto Madame Yvonne, mulher do general e ex-presidente Charles de Gaulle (1890-1970). Carla é uma mulher independente, e é por isso que os franceses gostam dela.
Ela também choca por sua condição de ex-esquerdista ao lado de um presidente francês de centro-direita. Como ao reagir ao primeiro-ministro da Itália, o politicamente incorreto Berlusconi, para quem Barack Obama era "excessivamente bronzeado". Ela afirmou ter feito muito bem em deixar de ser italiana, sua nacionalidade de origem. Primeira-dama não critica governantes estrangeiros. Mas foi uma boa gafe diplomática.
Bruni perdeu milhares de euros em receitas diretas -por questões de segurança, não faz mais em shows de lançamento de seus CDs- mas ganhou lucros indiretos com a condição de celebridade. Como ex-modelo e cantora, jamais teria tanto espaço na mídia quanto o obtido na visita oficial em março, com o marido, ao Reino Unido e à rainha Elizabeth. Ou então em razão da opção filantrópica de atuar no Fundo Mundial contra a Aids, doença que vitimou seu irmão.
Carla Bruni é uma primeira-dama discreta. Não freqüenta a agenda diária do marido, embora esteja com freqüência presente no palácio presidencial do Elysée. Ela não foi encarregada de nenhuma missão importante pelo marido, como a libertação, na Líbia, negociada pela mulher anterior de Sarkozy, Cecile, de ex-enfermeiras búlgaras injustamente acusadas de infectar pacientes com o HIV. Carla é, na prática, tão "inútil" quanto Jacqueline Kennedy.
Mas ela pouco se importa. É linda e irradia a imagem de mulher independente. E nem liga para as fotografias que circulam pela internet com sua magnífica nudez. No fundo, é isso que os franceses querem.

A cantora pop
por Lúcio Ribeiro

Com um currículo de "peguetes" que incluem Eric Clapton e Mick Jagger, não seria de estranhar que Carla Bruni um dia deixasse de ser inspiração para outros músicos e fosse ela mesma cantar suas canções. A estréia veio com o álbum "Quelqu'un m'a Dit", em 2002. Cantado em francês (ela vive desde os cinco anos na França), o disco deu um susto no país, que logo se rendeu aos sussurros gravados pela modelo italiana: vendeu mais de 1 milhão de cópias, foi número 1 na França e na Bélgica e esteve no top 5 até do Chile; por aqui, a faixa-título emplacou na novela "Belíssima", em 2005, embora o disco só tenha sido lançado em 2007.
Baseado na "chanson", que experimentava um retorno às paradas locais graças a nomes como Benjamin Biolay e Vincent Délerm, "Quelqu'un m'a Dit" (alguém me disse) é um disco charmoso, cheio de clichês franceses -canções acústicas, clima intimista. Das 12 músicas, Bruni assina 11, incluindo aí "Le Plus Beau du Quartier", um cartão de visitas da moça: "Olhe pra mim / eu sou a mais bonita do bairro / sou a bem-amada / quando ele me vê, se sente enfeitiçado". A França estava enfeitiçada.
Em 2007, saiu "No Promises", um projeto audacioso: apenas poemas em inglês, musicados por Carla, e bem menos afrancesado: guitarras à la Jack Johnson, baixo pronunciado, gaita, descontração total. A versão de "Ballad at Thirty-five", de Dorothy Parker, é desconcertante de bonita na levada de Bruni, assim como "I Felt My Life with Both My Hands", de Emily Dickinson. A crítica não recebeu tão bem esse CD quanto o primeiro, mas o (forte) sotaque de miss Bruni torna o disco deliciosamente "cafona" e irresistível.
Um ano e um casamento fulminante depois, Carla Bruni voltou ao francês em "Comme Si de Rien n'Etait" -o título do disco já parece debochar de seu novo status: "Como se nada tivesse acontecido". "Tu Es Ma Came", em que compara o amor ao vício em cocaína, mostra que a hoje primeira-dama continua gostando de uma polêmica.

A elegante
por Lúcia Flecha de Lima

Carla Bruni é uma mulher linda, elegante. Faz sucesso por ela mesma, sua notoriedade é anterior ao casamento com Nicolas Sarkozy. E, claro, ser primeira-dama da França também não atrapalha.
Não a conheço pessoalmente, tenho acompanhado suas aparições públicas como todos, pela TV, pelos jornais. Sempre a vejo muito bem-vestida, mesmo tendo de optar por sapatos baixos, para não ficar mais alta que o marido, baixinho. Você tem de ter muito porte para suportar uma sapatilha sem parecer uma mulher atarracada. E, sinceramente, Carla Bruni é que confere a Sarkozy um destaque que ele não teria sozinho.
Sei que já a compararam com a princesa Diana, mas não vejo nenhuma semelhança. Nem na maneira de se comportar, nem no modo de se vestir. Se houver comparação possível, é o fato de que, neste momento, Carla Bruni é a mulher que mais chama a atenção mundialmente, como Diana foi um dia. Mas, ainda assim, ela não atrai um décimo da atenção que Diana recebia.
Outra semelhança é com o fato de Diana também ter usado sapatos mais baixos para não ficar mais alta do que o marido. Mas isso só no comecinho do casamento, porque depois que as coisas desandaram ela falou: "O quê? Estou abrindo mão dos meus saltos altos por quê?"
Se fosse comparar fisicamente, diria que quando vejo Carla Bruni me lembro de Audrey Hepburn. O que não é pouco, eu só queria aquele pescoço...
Se você me perguntar quem tem potencial para ser a princesa Diana do futuro eu diria que é a Michelle Obama. Essa é uma mulher de quem vai ser interessante acompanhar a vida.
[Depoimento a Ana Ribeiro]

A herdeira
por Helio Hara

Há os que nascem e crescem entre castelos e iates, compras de luxo e convidados como Pierre Cardin e Maria Callas. A fortuna da família Bruni-Tedeschi, iniciada no fim do século 19 com nada glamourosos cabos elétricos, já na segunda geração financiava a aquisição de propriedades em Paris, arte e antigüidades. Um certo refinamento que fazia Alberto Bruni-Tedeschi pensar na família Agnelli (Fiat), da mesma Turim, como "um bando de caipiras".
Do avô Virginio, de Alberto, industrial e compositor de óperas que a criou como pai, e de Marisa Bonomi, sua mãe, Carla herdou a paixão pela música. Alberto iniciou a carreira de compositor aos 12 anos. A mãe, concertista, dividia-se também entre paixões e metas paralelas.
Quando Carla nasceu, a família já diversificara os negócios e, graças à fabricação de pneus, acumulava uma das maiores fortunas da Itália.
Nos anos 70, quando os Bruni-Tedeschi trocaram Turim por Paris para escapar das ameaças de seqüestro pelas Brigadas Vermelhas, Alberto vendeu a empresa, o que permitiu à família comprar mais castelos e casas. A partir daí, o tempo foi dedicado a prazeres como as obsessivas visitas a antiquários.
Entre internatos na Suíça, viagens e aparições em colunas sociais, Carla, a irmã Valeria (atriz em mais de 60 filmes) e o irmão Virginio (morto em 2006 em conseqüência da Aids) entenderam que riqueza e beleza são fortes combustíveis para quem é determinado.


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