São Paulo, domingo, 15 de fevereiro de 2009 |
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Tereteté Orgulho e Preconceitopor Teté Ribeiro, de Washington Bonitinho e talentoso que só ele, Dustin Lance Black, 35, é o roteirista do filme "Milk - A Voz da Igualdade", que entra em cartaz no Brasil dia 20 indicado para oito Oscars (um inclusive para ele, de roteiro original). Dustin é gay e conhece o preconceito -vem de uma família mórmom cheia de militares. Aliás, a religião de seus pais foi a inspiração do primeiro grande sucesso do roteirista, a série "Big Love", da HBO, que conta a história de uma família mórmom polígama em Utah (mas alto lá: nem todo mórmom se casa com várias mulheres). Conversei com Dustin Lance Black em Los Angeles depois de votada a proposta oito, emenda feita à Constituição da Califórnia que baniu o casamento gay no Estado. O assunto de "Milk" ganhou mais relevância depois que a Califórnia baniu os casamentos gays? Talvez, mas eu preferia que o filme não fosse tão relevante e que os gays pudessem se casar à vontade. É inacreditável que essa história, que se passa 30 anos atrás, tenha um tema tão atual. Essa proposta oito tirou um direito civil conquistado, isso é muito grave, inaceitável. Os gays -eu inclusive, obviamente- continuam cometendo os mesmos erros. Continuamos não nos unindo e não lutando o suficiente pelos nossos direitos. Você teve o apoio dos seus pais em relação à sua sexualidade? De jeito nenhum. Cresci em San Antonio, no Texas, uma comunidade superconservadora. Mas o maior agravante é que minha família é mórmom e militar. Então meu background não podia ser menos acolhedor. Provavelmente alguns parentes mandaram dinheiro para a campanha a favor da proposta oito. E quando saiu do armário? Foi bem tarde, só assumi minha sexualidade nos últimos anos de faculdade. Eu era muito reprimido durante a infância. Mas, na adolescência, minha família saiu do Texas e se mudou para o norte da Califórnia, então comecei a ter contato com pessoas menos preconceituosas. Na Califórnia, o diretor de um programa de teatro em que eu fazia estágio me contou a história do Harvey Milk. Fiquei fascinado por um homem abertamente gay ter sido aceito e eleito para um cargo público, virou meu ídolo imediato. Não tenho como medir o impacto de "Milk" na luta pelos direitos dos gays, mas você ganhou na loteria dos filmes com o diretor e o elenco que conseguiu, não? Eu nunca poderia imaginar que ia dar no que deu. Era um projeto muito solitário, só eu escrevendo e o Cleve Jones, que trabalhou com o Harvey Milk, como consultor. Não tinha nenhum grande nome interessado. Aí, um dia, o Cleve Jones disse que gostaria de oferecer para um amigo com quem ele tinha morado na juventude. Fiquei com frio na barriga, mas não podia dizer não. Ele viu a expressão de terror na minha cara e falou: "Sossega, querido, meu amigo é o Gus van Sant". E, por sorte, ele disse sim, por causa dele a gente conseguiu o Sean Penn, por causa do Sean conseguimos filmar nas ruas de San Francisco. Por que você não quis fazer nenhum papel no filme? Eu apareço, assim como o Gus van Sant. É uma cena de um segundinho, eu passo com um namorado negro e o Gus aparece dirigindo um carro em uma outra cena. A gente não resistiu (risos). E aquele é seu namorado de verdade? Não, infelizmente ainda não encontrei um parceiro ideal. Por sinal adoro brasileiros. Você não tem nenhum amigo para me apresentar? Hummm, quem sabe depois que o filme estrear no Brasil? Pode espalhar a notícia, estou solteiro e não acho a menor graça nisso. Texto Anterior: NO RIO: Carioca Trabalhador, por Heloisa Seixas Próximo Texto: Vintage: Joãosinho Trinta Índice |
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