São Paulo, domingo, 23 de maio de 2010

Próximo Texto | Índice

ÍCONE

A mulher mais desejada do mundo

por RUY CASTRO

Em compensação, ninguém gostava de Raquel Welch

Raquel Welch –você sabe: a estrela; a lindona; a gostosa; a arrogante; a hostil aos homens– acaba de lançar nos EUA um livro para mostrar como, aos 69 anos, aparenta 49 ou, incrivelmente, 39. Chama-se "Raque– Beyond the Cleavage" (Além do decote) e conta, entre outras, que ela faz uma hora e meia de ioga por dia, dispensa sal, açúcar e cafeína, come claras de ovos pela manhã e sequer belisca depois das 6h da tarde. Mas, se você pensa que, seguindo seus ensinamentos, abaterá algumas décadas da sua biografia e parecerá jovem como ela, tire o cavalo da chuva. Para isso, você precisaria ter sido Raquel Welch durante toda a sua vida. E Raquel Welch só há –ou houve– uma. Sabe-se lá como.

Olhe para esta foto. É Raquel em "Myra Breckinridge" ("Homem e Mulher até Certo Ponto"), de 1970. É quase impossível descrevê-la neste que talvez tenha sido seu maior ano. Aos 29 anos, era a mulher mais famosa do mundo e a mais desejada pelos homens. Era também a mais invejada e odiada pelas mulheres –porque, de repente, tornara-se o padrão inatingível com que os homens passaram a medir suas esposas ou namoradas. Os soldados americanos no Vietnã levavam sua foto na mochila, mas isso não era vantagem –porque essa foto era encontrada no bolso até dos vietcongs capturados!

Já no trailer de seu primeiro filme, em 1966, "Mil Séculos Antes de Cristo", ela era apresentada como "a fabulosa Raquel Welch". E era mesmo: de biquíni de pele de mamute e cílios postiços, não havia homem da caverna (ou do século 20) que resistisse. Depois, vieram "A Viagem Fantástica" (a viagem era pelo interior do corpo humano; dentro de um macacão colante, ela era atacada pelos anticorpos, que se grudavam aos seus peitos como mãos), em 1966, e "A Mulher de Pedra" (em que seduzia Frank Sinatra) em 1968, e, principalmente, o caótico, incompreensível, desastroso "Myra Breckinridge". Neles, Raquel nem precisava representar– bastava exibir o rosto perfeito e o corpo escultural.

Escultural demais. Corria na época que Raquel era um milagre da medicina – que fora literalmente esculpida pela cirurgia plástica e, segundo o respeitado maquiador George Masters, era "de silicone dos joelhos para cima". (Ele, que a maquiou, devia saber.) Os colegas a achavam um porre: esnobe, destratava todo mundo e os irritava com seu jeito de falar, copiado de Katharine Hepburn. E os homens a desejavam, claro, mas também não gostavam dela. Talvez por Raquel ter dito à "Playboy" que achava ridícula "essa obsessão masculina por glândulas mamárias" –como se as suas não fossem responsáveis por 66,6% (33,3% cada) de seu sucesso.

Em "Myra", ela encontrou uma rival à altura: Mae West, que, do alto de seus 77 anos, ignorou-a e só a chamava de "Hei, você". Até que Raquel foi tomar satisfações: "A senhora me respeite, ouviu? Sou uma atriz!" Ao que Mae respondeu: "Não se preocupe, queridinha. Guardarei o seu segredo".

Próximo Texto: FINA: Na TV e no cinema, a vida ávida de Mariana Ximenes
Índice


Clique aqui Para deixar comentários e sugestões Para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É Proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou imPresso, sem autorização escrita da Folhapress.