São Paulo, domingo, 23 de maio de 2010

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DESENHO

Alma Punk

por DANIEL LISBOA, EM NOVA YORK

Como o quadrinista de 27 anos conseguiu a façanha de conquistar o "mainstream"

Não é exagero dizer que, há quatro anos, este rapaz dificilmente estaria nesta ou em outra revista. Até 2006, Dash Shaw era mais um jovem buscando espaço na cena alternativa dos quadrinhos norte-americanos. Havia desenhado e publicado algumas histórias e os álbuns (ou "graphic novels") "The Mother’s Mouth" e "Love Eats Brains". Nada que rendesse fama ou dinheiro o bastante para ele deixar a vida pacata da cidade de Richmond, na Virgínia. Depois de se formar na School of Visual Arts de Manhattan, seguiu o caminho inverso de seus colegas.

Em vez de ficar em Nova York e correr atrás de um cobiçado emprego em um dos grandes estúdios da cidade, disse não ao Homem-Aranha e aos X-Men e voltou para Richmond. Lá, tinha dinheiro –pagava US$ 200 por mês de aluguel, baratíssimo se comparado aos valores de Nova York– e tempo –trabalhava apenas 20 horas semanais– suficiente para focar em seus projetos pessoais.

O resultado foi "Umbigo sem Fundo", de 2009 (Companhia das Letras), uma "graphic novel" de 720 páginas que fez a carreira de Dash deslanchar depois de apresentada a Gary Groth, chefe da editora especializada em quadrinhos Fantagraphics e um temido crítico da área nos EUA.

Voltou a viver em Nova York e, aguardando por esta entrevista em um restaurante mexicano do bairro do Soho, à primeira vista, passa imagem oposta à do autor de "Umbigo sem Fundo".

No lugar do homem aparentemente maduro, que escreveu uma obra gigantesca sobre uma família fragmentada e em crise, quem espera é um garoto de 27 anos tão tímido que mal olha nos olhos enquanto fala, e empurra com o dedo uma guacamole degustada com voracidade.

Apesar da pouca idade, o quadrinista desfruta de um privilégio de poucos, sobreviver apenas com suas criações e trabalhar como e quando quiser. "Criei uma situação na minha vida em que não trabalho com prazos. Se desenhar for uma atividade estressante, dolorosa, prefiro não fazê-la. E, se eu ficar duro um dia, volto para Richmond e arranjo um trabalho de merda qualquer."

Sua recente notoriedade veio por meio de um trabalho impresso, mas, no momento, Shaw gosta mesmo é de animações. E de "webcomics", quadrinhos publicados na internet. "Body World", disponível em capítulos no blog do cartunista (www.dashshaw.com), acaba de ganhar uma luxuosa versão impressa –por ora, lançada só no exterior.

"Com ‘webcomics’, você não precisa esperar pela impressão. Eu terminei ‘Body World’ há um ano e ele só foi impresso agora. ‘Umbigo’ demorou mais ainda. Na hora em que sai, você odeia. É trabalho velho, que te deixa sem graça."

Atualmente, o quadrinista trabalha na criação de animações e em uma nova "graphic novel". Mostra-se surpreso com o pedido de uma lista de suas HQs favoritas, sobre a qual não fala antes de fazer um aviso. "Se você for publicar isso, por favor, deixe claro que essa não é a melhor lista de todos os tempos. É só algo que saiu da minha cabeça."

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