São Paulo, domingo, 25 de janeiro de 2009

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FINA

A poderosa chefona

por ADRIANA MAXIMILIANO, DE WASHINGTON

Quem é a presidente do congresso dos EUA, a mulher maternal que terá papel decisivo no governo de Barack Obama

Nancy Pelosi se casou, aos 23 anos, com o primeiro namorado. Era o fim de 1963 e ela praticamente passou o resto da década de 60 grávida. Em seis anos, teve cinco filhos. Não chegou a entrar para o livro dos recordes por isso, mas deve ter passado perto. Hoje, com o oitavo neto a caminho, a democrata de 68 anos faz parte de outro tipo de livro, o de história: nunca nos Estados Unidos uma mulher teve tanto poder nas mãos.

Entre as tarefas diárias de Nancy Pelosi está a de "manter a casa em ordem". Não a dela, mas o Congresso americano. No dia 6 de janeiro, em Washington, ela foi eleita para seu segundo mandato como presidente da Câmara dos Representantes. Primeira mulher no cargo, com a reeleição Nancy deu adeus a um período cheio de conflitos, marcado pelas farpas públicas trocadas com seu arqui-inimigo, o ex-presidente George W. Bush. Agora, a chefe da casa rema a favor da corrente, com um presidente democrata, Barack Obama, e maiorias democratas na Câmara dos Deputados e no Senado, um privilégio de que poucos homens puderam gozar na política americana recente.

"Minha avó me leva a lugares divertidos, como o Capitólio (o Congresso americano) e uma fábrica de chocolate. Você sabia que ela toma sorvete de chocolate no café da manhã?", diz Madeleine Prowda, 8, uma das netas da chocólatra Nancy, num vídeo do site da presidência da Câmara dos Representantes.

Diferentemente de outras mulheres superpoderosas, Nancy Pelosi faz questão de manter a imagem de mãe e avó ligada à sua figura política. Em seus discursos e na biografia "Know Your Power: A Message to America's Daughters", lançada em julho do ano passado, ela repetiu inúmeras vezes seu lema: "Ter cinco filhos em seis anos é o melhor treinamento para presidente da Câmara dos Representantes. Isso me fez craque em multitarefas e mestre do foco, da rotina e da programação".

Ela é o retrato da feminista moderna, que não abre mão de nada. Caçula e única menina de sete irmãos, Nancy Patricia D'Alessandro foi criada numa família católica, de ascendência italiana, em Baltimore. Saiu de lá aos 18 anos para estudar numa universidade só para moças, em Washington, e se casou poucos meses depois de se formar, com um jovem californiano da mesma idade, Paul Pelosi. Enquanto suas contemporâneas queimavam sutiãs e tentavam conseguir um espaço no mercado de trabalho, Nancy criava os cinco filhos na Califórnia. Ninguém acreditava que ela seria mais do que uma dona-de-casa. Mas, quando todas as crianças estavam na escola, Nancy começou a fazer trabalho voluntário para o Partido Democrata. O marido, que rapidamente ficou multimilionário ao investir no mercado imobiliário, deu força.

Somente quando a filha caçula, Alexandra, estava prestes a entrar na faculdade, em meados dos anos 80, Nancy pensou em se candidatar para um cargo no Congresso. Antes, consultou a menina, que foi curta como qualquer adolescente: "Mãe, vai viver sua vida!".

Aos 46 anos, foi o que ela fez. Filha e irmã de ex-prefeitos de Baltimore, Nancy conseguiu uma vaga no Congresso e descobriu que tinha sangue político fervendo na veia. Virou um fenômeno em arrecadação de verba para o partido e, em 2002, foi eleita a primeira mulher líder da minoria democrata na Câmara. O cargo de presidente da Câmara veio em 2007, quando os democratas voltaram a ser maioria no Capitólio, graças à impopularidade de Bush e à guerra do Iraque.


PÉROLAS E DOÇURA

No novo mandato que se inicia, as prioridades de Nancy são a aprovação de um pacote econômico e o fim da guerra. Mas as funções da presidente da Câmara dos Representantes vão desde determinar a ordem de votação dos projetos de lei até suceder o presidente dos Estados Unidos, em caso de morte, impeachment ou renúncia dele e do vice.

A ideia de ter Nancy Pelosi na Casa Branca arrepia de medo os republicanos. Eles a consideram liberal demais e uma católica de araque, que defende abertamente o aborto e o casamento gay. Já os aliados preferem a palavra "progressista" e dizem que ela é firme e doce quando tem que ser, como uma boa mãe.

No mês passado, Nancy ficou em 24º lugar na lista das cem pessoas mais poderosas do mundo, divulgada pela prestigiosa revista "Newsweek". A fortuna do casal Pelosi foi avaliada em cerca de US$ 19 milhões, o que a coloca no posto de 17º membro mais rico do Congresso americano. E não é só. No quesito moda, Nancy também está bem colocada, apesar de esse ser um assunto irrelevante em Washington. Os poucos jornalistas de moda da capital americana dizem amém quando a democrata passa, porque, de tempos em tempos, suas coleções de terninhos Giorgio Armani, lenços Hermès e pérolas enormes rendem longos e elogiosos artigos. Deu no "Washington Post": "Ela dá a impressão de que se preocupa com o visual, mas não há indicação de que seja obcecada por isso, o que é uma admirável qualidade".

É Paul Pelosi quem compra as roupas da mulher. Nancy não gosta de perder tempo em shoppings, como uma boa feminista. Ela também garante que parou de cozinhar assim que começou a trabalhar. Só abre uma exceção para fazer musses de chocolate, seu maior vício. Mas Nancy não engorda, apesar de jamais fazer qualquer exercício além de subir e descer escadas com seus escarpins pelo Capitólio. Sua receita de beleza é singular e só funciona com ela: muito chocolate.

A dieta começa com o sorvete no café da manhã e termina com uma musse na banheira depois do jantar, como ela contou numa entrevista para a revista "Harper's Bazaar": "Uma coisa que eu faço diariamente é tomar um banho de espuma com um livro e uma musse de chocolate. Durante todo o dia, eu penso que à noite estarei fazendo minhas palavras cruzadas ou lendo um livro, dentro da banheira, e comendo meu chocolate".


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