São Paulo, domingo, 25 de Setembro de 2011

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FINA

Sob o signo d'osgemeos

Por chico felitti

A pintora Nina Pandolfo imprime sua feminilidade em telas e paredes, mas refuta o título de grafiteira,que deixa para o marido Otávio, da dupla osgemeos

Nina Pandolfo não quer ter filhos agora, aos 34 anos. É que a chance de sua roleta genética lhe dar gêmeos é muito grande. "Tenho tias gêmeas. Meu marido é gêmeo." O marido é Otávio Pandolfo, um dos irmãos grafiteiros univitelinos conhecidos da rua às altas-rodas das artes plásticas por osgemeos. A resistência de Nina a ter dois (ou mais) filhos de uma vez se dá porque a prole exigiria alguma autoanulação, o que pode tirar seu foco do trabalho. Focar é o que ela faz agora: lança em 3 de outubro um livro com fotos de suas pinturas e grafites ao redor do mundo. Nina já pintou meninas fofas de olhos arregalados na parede de um castelo medieval na Escócia. Adornou com animaizinhos um túnel abandonado na periferia de Berlim que, por acidente, figurou como cenário de "Palermo Shooting" (2008), filme do diretor Wim Wenders. Mas ela sente que coisas grandes vão acontecer é neste ano. "Estou numa fase criativa." Criativa a ponto de pintar com o gato Raquim, 11, pendurado no ombro, se surgir inspiração no meio de um chamego. O gato se acama no colo enquanto ela dá entrevista. É por conta dele que Nina vai diariamente ao ateliê, na mesma rua onde mora, na Aclimação. Acaba "dando uma trabalhadinha". Atualmente, o tempo é dedicado a quadros 3D, com bonecas dentro de uma vitrine, parecendo flutuar no ar que sai de um motorzinho acoplado embaixo da obra. "Vendo as minhas obras, sim. Felizmente, hoje vivo disso e só disso." Ela nunca pensou que arte de rua pudesse dar sustento. Até porque começou no ofício com teatro grátis. "Atuava para pessoas esperando ônibus."

Tintas femininas

Foi em 1992 que Nina conheceu a pintura de muros, para fazer companhia ao então namorado Otávio. Passavam os fins de semana procurando paredes que dessem boas telas. Ela deixava seu nome em alguns bairros de São Paulo, mas não levava aquilo a sério. "Eu era diferente, gostava de pintar coisas meigas em vez das do universo hip-hop. E de cores." A paixão colorida a impedia de usar preto, que não entra na paleta até hoje. Ela usa o verbo "pintar" mesmo quando fala de grafite. "Comecei usando pincel ainda criança." Mas não quando fala de manicure. "Juro que tento fazer as unhas. Mas só consigo às sextas, porque trabalho menos com solvente no fim de semana e consigo manter por três dias." Já é uma vitória. Não que o esmalte de unha seja sua faceta mulherzinha. É no esmalte de parede que ela dá as caras. "O primeiro muro que pintei foi com um cavalinho e corações." O povo da arte de rua não entendeu. Ainda diz ser um pouco incompreendida, mas "a gente aprende a ser do jeito que é e a levar adiante". Quando era criança, Nina brincava de Barbie, mas dispensava a casinha da boneca. "Ia para o jardim, no meio das plantas dos tatus-bola." É assim que ela se sente, às vezes, uma boneca num jardim selvagem.

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