São Paulo, domingo, 25 de outubro de 2009

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ENTREVISTA

Carolina Herrera abre primeira loja no Brasil

por ALCINO LEITE NETO, em Nova York

DEMOCRACIA DA ELEGÂNCIA

PRESTES A ABRIR SUA PRIMEIRA LOJA NO BRASIL, A ESTILISTA DE ORIGEM
VENEZUELANA CAROLINA HERRERA DIZ QUE O DINHEIRO NÃO COMPRA A
ELEGÂNCIA E QUE AS DITADURAS POLÍTICAS ESTÃO "FORA DE MODA"

Campeã de vendas no Brasil com seus perfumes, a estilista Carolina Herrera se prepara para abrir a primeira loja de sua grife de roupas no país. A inauguração deve ocorrer no próximo mês, no shopping Cidade Jardim, em São Paulo. "Estou muito contente, sou fascinada pelo Brasil", disse a estilista à Serafina, em seu escritório, em Nova York.

Embora tenha nascido na Venezuela, Herrera é sobretudo um ícone da moda americana. Ela se mudou para Nova York nos anos 80. Era uma época fervilhante em Manhattan. Considerada então uma das mulheres mais bem vestidas do mundo, a venezuelana transitava com a mesma desenvoltura pelos salões requintados, pelo frenético clube Studio 54 ou pela Factory, a "fábrica" de arte de Andy Warhol, de quem se tornou amiga.

Em 1981, fez seu primeiro desfile em Nova York e adotou a moda definitivamente como profi ssão. Uma
de suas clientes mais célebres foi Jaqueline Kennedy Onassis. Hoje, Herrera comanda uma das marcas
mais famosas da moda.

O estilo da grife reflete muito o da própria designer: sofisticado, imponente e interessado em adaptar as inovações constantes a uma base clássica e atemporal. O objetivo é um só: dotar as mulheres de um máximo de elegância -tema no qual Herrera é especialista.

Na entrevista a seguir, feita durante a semana de moda nova-iorquina, no último mês, ela afi rma que a elegância não tem a ver com a riqueza. "Há mulheres que são elegantes sem ter dinheiro. E há mulheres que têm muito dinheiro e não conseguem ser elegantes", diz. Para ela,
uma pessoa elegante pode até mesmo vestir roupas baratas. "Já vi muitas mulheres elegantes que vestiam
alguma coisa da Zara", revela.

Herrera, 70, casou-se duas vezes. É mãe de quatro fi lhas -entre as elas Carolina Adriana, que hoje é sua colaboradora, além de musa da grife. A estilista continua viajando com frequência à sua terra natal, embora não veja com bons olhos a situação política da Venezuela. "Ditaduras estão fora de moda", decreta.

O que é ser elegante, hoje?
É a combinação de várias coisas. Não é apenas o que a mulher está usando. É uma atitude, inclusive uma atitude mental, é o jeito como você vive, como fala, o que lê, quais são as flores que escolhe.

Para ser elegante, é preciso seguir
a moda?

Não. Às vezes, coisas um pouco demodês podem ficar muito bem em uma pessoa, compondo com sua elegância. Uma pessoa elegante é o oposto da "fashion victim" (vítima da moda).

É preciso ter dinheiro para se vestir bem?
Não, ao contrário. Há mulheres que são elegantes sem ter dinheiro. E há mulheres que têm muito dinheiro e não conseguem ser elegantes. A elegância não tem nada a ver com o dinheiro nem com a beleza. Ela faz parte da criatividade da mulher, da capacidade que esta tem de projetar a sua personalidade.

O fato de nascer em uma classe social abastada assegura a elegância a uma mulher?
Não. Você pode ter belos vestidos desde que nasceu, mas isso não garante que será uma pessoa elegante quando crescer. Há mulheres que vêm de lugar nenhum e são fantásticas e elegantes.

Uma mulher que só pode comprar roupas baratas conseguirá, mesmo assim, ficar elegante?
Certamente. Se ela, por si só, já for elegante, vai sempre encontrar nessas lojas as coisas que precisa para ficar bem.

Mesmo em lojas fast fashion, como a Zara e a H&M?
Na Zara? Mas é claro! Eu já vi mulheres muito elegantes que vestiam alguma coisa da Zara (ri).

Na atual situação econômica, a sra. acha que as mulheres vão preferir peças mais clássicas que a de design inovador?
As mulheres, na realidade, quando saem para comprar algo, sempre pensam no clássico. Apenas um pequeno número delas compra coisas muito diferentes, de vanguarda. As mulheres mais elegantes são sempre clássicas, embora possam usar uma ou outra peça vanguardista. Não é o fim do mundo ser clássica
e escolher algo para si que não seja
muito complicado de usar.

A sra. acha que a crise vai afetar a maneira como as mulheres consomem moda?
Todo mundo foi e será afetado. Evidentemente, muitas lojas na avenida Madison e em outros lugares estão fechando, mas eu sou otimista. Creio que a moda em si mesma será pouco atingida, porque está muito ligada a certo instinto feminino. Nós, mulheres, sempre queremos comprar algo novo, alguma coisa de moda, porque nos
sentimos melhor ao fazê-lo. O que vai acontecer agora é que nós, estilistas, teremos que ser mais realistas e desenhar roupas que as mulheres queiram realmente comprar. Mas o luxo continuará existindo, por uma razão muito simples: há pessoas que gostam de
coisas caras.

Michelle Obama é uma mulher elegante, na sua opinião?
Ela tem o seu próprio estilo.

Como seria esse estilo?
Ela veste o que acha que vai bem nela. Às vezes, realmente lhe cai bem; outras vezes, não. Mas isso, afinal, é algo que ocorre com qualquer mulher. No caso de Michelle Obama, na maioria das vezes, ela costuma acertar. Acho que ela está bem do jeito que é.

A sra. vai com frequência à Venezuela. O que pensa da situação do país atualmente?
Adoro a Venezuela, embora não goste da situação política do país. Enquanto todo mundo vive numa democracia, na Venezuela, nós não vivemos, o que é muito demodê. Ditaduras estão fora de moda. Mas
não quero falar sobre política.

A sra. já teve oportunidade de se encontrar com o presidente Hugo Chávez?
Eu? De jeito nenhum. Não gosto de ditadores.

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