São Paulo, domingo, 26 de Junho de 2011

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POP UP

CINE INDIE BRASILEIRO

por Ivan Finottio

Filha do cineasta Julio Bressane, noa bressane conta em documentário a história da produtora Belair, que durou pouco após provocar os militares nos anos 70

Entre janeiro e maio de 1970, Rogério Sganzerla e Julio Bressane participaram de uma espécie de corrida maluca cinematográfica. Eles fundaram a produtora Belair e dirigiram três filmes cada um nesses cinco meses: "A Família do Barulho" (Bressane),"Carnaval na Lama" (Sganzerla), "Barão Olavo, o Horrível" (Bressane), "Copacabana, Mon Amour" (Sganzerla), "Cuidado, Madame" (Bressane) e "Sem Essa Aranha" (Sganzerla). Após esse recorde mundial de produtividade, os dois tiveram que se mandar do Brasil, acusados pelos militares de serem financiados pela guerrilha. Acabaram na França, onde, em vez de filmes, fizeram filhas, que receberam nomes tão criativos quanto seus roteiros: Tande (Bressane), Sinai (Sganzerla), Noa (Bressane) e Djin (Sganzerla). Pois coube a uma dessas meninas, Noa, hoje com 32 anos, recuperar essa história no documentário "Belair", que acaba de estrear em dez salas cults de São Paulo, Rio, Porto Alegre e Belo Horizonte. Sinai Sganzerla, outra das moças, foi pesquisadora do filme. Noa comandou cerca de 30 entrevistas, inclusive com seu pai. Foi sua mãe, a filósofa Rosa Maria Dias, que plantou a ideia. "Ela queria fazer um livro, mas o projeto dela virou meu documentário", diz Noa. Sganzerla, morto em 2004, comparece em entrevistas de arquivo. Sua mulher, Helena Ignez (mãe de Djin e Sinai), é a musa dos filmes -suas cenas de minissaia em Copacabana são um retrato precioso da época. "Belair" resgata o estilo doidão da produtora, abusando de cenas longas, experimentações e pouca explicação. Co-dirigido por Bruno Safadi, foi editado pelo marido de Noa, Rodrigo Lima. Durante a montagem, ela engravidou: a filha, Eva, está com dois anos. Apesar de estar estreando no cinema, Noa está na Globo há 11 anos e é umas das diretoras do remake da novela "O Astro". Seu pai, talvez o cineasta mais difícil do país, a estimulou a trabalhar na emissora que, vez por outra , é apontada como vilã da criatividade. "Ele acha que a Globo é a indústria da imagem do Brasil, e que eu e minha irmã temos de estar onde está a indústria." Pai coruja... Mas Bressane não foi sempre tão previsível, como atestam os nomes que escolheu: Noa vem de Noa Noa, da região do Taiti. "Meu pai estava fascinado com a história do [pintor francês Paul] Gauguin, que viveu lá." Já o nome da irmã, Tande, tem a ver com a ideia das batidas do coração por uma tribo indígena. Seu próximo projeto é uma ficção. "Um road movie nordestino, inspirado no mito de Billy, the Kid." Intitulado "Áspero, Magro e Soez", o filme baseia-se num conto do escritor argentino Jorge Luis Borges. Essa taitiana carioca não é mesmo nada convencional. Aprendeu com o pai.

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