São Paulo, domingo, 26 de Junho de 2011

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FINO

Sopa de letrinhas

por Rita Siza, do porto

Autor de "máquina de fazer espanhóis", o português valter hugo mãe, que também é cantor, vem para a festa literária de paraty contar por que só escreve em minúsculas

O escritor português valter hugo mãe está em sua cidade natal, o Porto, vindo de Paris e a caminho de Lisboa. De lá, irá para Londres e, depois, Brasil. Tantas viagens são para palestras e para o lançamento de seu livro "a máquina de fazer espanhóis" (em letras minúsculas, da mesma forma como faz questão de escrever seu nome e de vê-lo escrito). No início de julho, ele estará no Brasil pela sexta vez, para falar na Flip sobre seu último romance. Encontramo-nos, pontualmente, às 16h30, no café da estação de comboios do Porto -e não na central de trens, como se diz no Brasil, porque afinal a conversa foi entre dois portugueses, uma a fazer perguntas, outro a dar respostas. A sua "máquina de fazer espanhóis" é um livro (duro, triste) que presta homenagem àqueles que têm uma "relação esquisita" com os outros e com o tempo: no caso, os velhos. "É uma espécie de paradoxo porque aos velhos o que mais falta é o tempo, mas, ao mesmo tempo, o que mais lhes sobra é o tempo. Estão encurralados num impasse", explica. A capa do livro, da autoria de Lourenço Mutarelli, é a única diferença da versão brasileira para a edição portuguesa, já com cinco tiragens. A obra não foi "traduzida", uma opção da editora que agradou ao escritor. "A padronização absoluta não me interessa", diz ele. Mas não se pense que, nas coisas da língua, valter hugo mãe é um purista absoluto. "É apenas um prurido", nota. Só não lhe peçam para trocar "gosto de ti" por "gosto de você", coisa que jamais admitiria. "Esse já é um prurido que eu não consigo ultrapassar", confessa.

Inveja

E valter hugo mãe nem é muito de frescuras. Escritor, editor, músico, vocalista e ilustrador, acha que a única coisa que sabe fazer "mesmo bem" é escrever, mas nem por isso deixa de fazer todo o resto. "É tudo uma certa inveja", explica, "vejo os outros, gosto dos outros, quero ser como os outros e tento." E por que só minúsculas? Fiz a pergunta que, suspeitava, valter hugo mãe já respondeu um milhão de vezes. "Um milhão e 300 mil vezes", corrige. E a resposta é sempre a mesma? "Ah, essa é excelente, essa nunca me tinham feito", comenta. "Não. Vou variando, vou acrescentando, vou respondendo melhor." A explicação, que tem a ver com "aproximar o texto da sua natureza", não cabe toda aqui, mais uma razão para lhe repetirem a pergunta quando o encontrarem, aí no Brasil.

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