São Paulo, domingo, 26 de Junho de 2011

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OÁSIS DE OSLO

por Mario Cesar Carvalho, de Oslo

Uma visita ao museu Astrup fearnley, na capital da noruega, revela as grandes atrações da mostra mais ambiciosa do brasil em 2011, em comemoração aos 60 anos da bienal internacional de arte de São Paulo.

Oslo costuma aparecer no topo da lista das enquetes debochadas que tentam descobrir qual é a cidade mais chata do mundo. Não é muito difícil adivinhar por quê. É a capital do país mais rico do mundo (a Noruega), tem o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) mais alto do planeta e um Estado de bem-estar social tão igualitário que, a olho nu, é difícil distinguir um bilionário de um pobretão. É tudo tão perfeito que criaram um museu para questionar a perfeição de um modo pouco usual: por meio da arte. Arte norte-americana e britânica, especificamente. É o Astrup Fearnley, museu do magnata Hans Rasmus Astrup, o número oito na lista dos maiores colecionadores do mundo da revista "Art Review". É dessa instituição que virá a exposição de arte mais ambiciosa a ser montada no Brasil em 2011, no aniversário dos 60 anos da Bienal. A mostra terá 219 obras de 51 artistas, num arco que vai de Matthew Barney a Richard Prince, de Jeff Koons a Felix Gonzalez-Torres, com peças avaliadas em US$ 200 milhões. A quantidade de obras de cada artista é do tipo nunca-antes-na-história-deste-país: 15 Cindy Sherman, 14 Richard Prince, 11 Damien Hirst, 13 Jeff Koons e 5 Bruce Nauman. Os noruegueses costumam achar que tudo que vem dos EUA é uma porcaria marcada pelo entretenimento e pelo consumismo, diz o curador do museu, Gunnar Kvaran. "É por isso que fizemos um museu com arte contemporânea americana. A cultura do choque aqui é muito mais importante do que na Inglaterra ou França. Lá eles têm museus enciclopédicos, que não temos aqui", explica, na sede do museu, um prédio discreto, em tijolo, vidro e aço, a uma quadra do porto. Kvaran, nascido na Islândia, é um defensor do Estado de bem-estar social que os escandinavos criaram ("não conheço nada melhor"), mas é contra a existência de um pensamento único. A estratégia do museu para levar adiante esse programa é, segundo Kvaran, descobrir novos artistas com valores que não lembram em nada os dos escandinavos. A lista é impressionante. De Matthew Barney, o museu tem "Transexualis (Decline)", uma instalação de 1991 que antecipa as questões que catapultaram o artista: o uso da biologia, do corpo, de fluídos corporais, misturados com vídeos. O museu tem uma relação tão próxima com Barney que foi ele próprio que selecionou as cinco obras que virão a São Paulo.

45 segundos

De Damien Hirst, comprou "Mother and Child Divided", de 1995, uma vaca e sua cria divididas ao meio e conservadas em formol, obra que expôs dois anos antes em Veneza.

"A diferença é que compramos em 45 segundos o que o Beaubourg demora um ano para comprar", define Kvaran. Seu orçamento, bancado por um empresário que tem negócios com navios, plataformas de petróleo, energia e finanças, não tem limites. O curador diz saber que essa busca pode virar um jogo perverso da novidade pela novidade, o que é legítimo para o mercado, mas pode tornar um museu estéril pela ausência de questionamento. O antídoto para o risco, segundo ele, é se pautar por valores estéticos. "Somos parte do establishment, mas nosso interesse é cultural. Não é um investimento."

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