São Paulo, domingo, 27 de fevereiro de 2011

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FINA

Procurando o tom

por CHRIS MELLO

Musa de valentino, a condessa Georgina Brandolini d'Adda não consegue se entender com seu ilustre inquilino joão gilberto para reaver o apartamento no Leblon onde passou a juventude


A franco-brasileira Georgina Brandolini d'Adda está acostumada a conviver com o assédio da imprensa. Ícone da moda, musa de Valentino e fashionista confessa, atraiu os holofotes novamente para si. Mas, dessa vez, o assunto não tem nada a ver com moda.
A condessa, como foi tratada pela imprensa, entrou com uma ação de despejo contra o cantor João Gilberto. Georgina pediu, por meio de ação judicial, que ele entregasse o apartamento em que mora há 15 anos no Leblon, zona sul do Rio. O motivo do processo judicial foi que o músico impedia a entrada de pessoas no imóvel para que fosse realizado qualquer tipo de serviço de manutenção e melhorias. "Não queria processar uma pessoa que tem valor, melhor que terminasse amigavelmente."
Mas o desentendimento entre as partes apenas se aprofunda. Segundo o advogado de Georgina, Paulo Roberto Moreira Mendes, João Gilberto tem driblado oficiais de justiça para não ser citado na ação.
"Depois de combinarmos que ele assinaria a ação, desapareceu. Nem sequer atendem o interfone no apartamento. Porteiros, administrador e garagistas estão instruídos a dizer que ele não mora lá. Este senhor pode ser excêntrico, mas não com o que não lhe pertence", diz o advogado. De acordo com Moreira Mendes, ao contrário do que desejava Georgina, o caminho será publicar ação via diário oficial e anúncios abertos para que se inicie o processo.
Mas o que seria comum para um reles mortal que quer seu apartamento de volta toma ares de ópera quando as partes envolvidas são o músico e a chamada condessa. Mas, afinal, quem é a condessa? "Me chame de Georgina Brandolini d'Adda. Não uso meu título como outras pessoas que adoram", diz uma mulher chique e incomodada, jogando um balde de gelo na curiosidade que a pergunta instiga.

Puro sangue
Discreta, ela é filha do príncipe francês Jean-Louis Faucigny-Lucinge. Nascida nos anos 50, no Rio, embarcava para Paris com 15 dias de vida. Foi criada no apartamento da família no Arco do Triunfo, onde conviveu com intelectuais, artistas e gente da moda. Ela se recorda dos bailarinos Margot Fonteyn e Rudolf Nureyev, que formaram a dupla mais prestigiada do balé no século 20, em festas históricas promovidas por seu pai, Jean-Louis.
Foi aos 18 anos que Georgina começou a frequentar o Rio. "Meu pai e eu ficávamos no apartamento do Leblon", explica. O apartamento do Leblon mencionado por ela como o de sua juventude carioca é, justamente, o disputado imóvel onde mora João Gilberto.
Mas, para não se pronunciar mais sobre o imbróglio, Georgina prefere se lembrar de um Rio anos 70, internacional, de boates como Regine's e Hippo. Uma época em que os Chagas, os Mayrink Veiga e Walter e Elizinha Moreira Salles eram o assunto da alta sociedade. Aliás foi a segunda mulher de Moreira Salles, Lúcia Curia, quem apresentou o estilista italiano Valentino a Georgina em um Carnaval no Rio. "Não queria fazer universidade e meu pai havia me colocado na Dior para fazer um estágio. Quando conheci Valentino, ele me pediu ajuda para abrir a loja de Paris e acabei trabalhando com ele por 22 anos", recorda-se.
O estilista, que tem uma estreita ligação com o Brasil iniciada bem naquela época, fez de Georgina, do relações-públicas Cacá de Souza, e da ex-mulher dele, Charlene Shorto, sua família. Até hoje o grupo é unido, mas Georgina sempre se sobressaiu. Teve sua linha de cashmeres, desenhou para a marca Antik Batik e, anos antes, a convite de Oscar de La Renta, trabalhou para a Maison Balmain.
"Criei o 'prêt-a-porter' da Balmain", recorda. Hoje, a Balmain está posicionada como uma das mais desejadas marcas fashion.
Circulando nas altas rodas, badalando, mas sempre trabalhando, em 1974, Georgina casou-se com o conde Ruy Brandolini D'Adda em uma comentadíssima cerimônia na França. "É que houve presenças ilustres como a do então presidente Valery Giscard d' Estaing e de Gianni Agnelli, presidente da Fiat, tio de meu marido e muito próximo dele", conta.
O casal passa a maior parte do tempo em Genebra, alternando entre Gstaad, Turim, Rio e Trancoso. Bianca é a filha mais nova. Ela é atriz, está no momento filmando com a diretora franco-argelina ?Yamina Benguigui e foi considerada pela ?Vogue Paris? uma das mulheres mais sexy da França. O namorado da garota é o jet-setter Lapo Elkann, curiosamente primo de Bianca e também integrante da família Agnelli. Georgina também é mãe de Coco Brandolini, que trabalha com moda e que lhe deu, em 2010, a primeira neta, Nina.
Amiga há muitos anos da família Jereissati, Georgina hoje representa o grupo Iguatemi no exterior. Foi ela quem, na mesma semana em que os jornais noticiaram o caso do apartamento, recepcionou a editora de moda americana Suzy Menkes no Brasil.
Mas a vida entre fashionistas parece não afetar seu estilo, calcado na absoluta discrição minimalista. Ama jeans e ternos de corte masculino, que para ela são "muito práticos." Raramente usa salto. "Mas às vezes tenho que colocar. A minha filha Bianca é tão alta que, se eu usar rasteiras, pareço sua empregada", declarou certa vez, para uma publicação americana, a condessa pé no chão.


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