São Paulo, domingo, 27 de fevereiro de 2011

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FINO

O bom e velho Romário

por JOHANNA NUBLAT

Ao completar um mês e meio de mandato, o deputado Romário revela suas impressões sobre o novo trabalho, elege as musas do Congresso e retoma o velho estilo que o celebrizou nos campos, de chegar chegando

"O prazer foi meu, nossa, que orgulho!", diz um sorridente ascensorista da Câmara ao entregar o deputado Romário no andar do gabinete 411 –número escolhido pelo próprio, em clara referência à camisa 11 que o consagrou nos estádios.
Aos 45 anos, o ex-craque experimenta o jogo da política há um mês e meio, aboletado na cadeira de deputado federal pelo PSB-RJ –foi eleito com 146.859 votos. Ainda desconfortável com os formalismos e achando que no Congresso "nada anda muito rápido", Romário chegou daquele jeito que o consagrou nos campos e fora deles –chegou chegando.
Nem bem acabou de assumir a 1ª vice-presidência da Comissão de Turismo e Desporto, já falou em chamar o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, para explicar denúncias de irregularidades na composição societária do Comitê Organizador Local da Copa do Mundo de 2014, no critério de divisão dos lucros do torneio. As suspeitas motivaram um pedido de CPI feito pelo também deputado Anthony Garotinho (PR-RJ). Romário considera "muito boa" sua relação com Teixeira, mas avisa: "Agora ele tem de entender que represento no mínimo 150 mil pessoas que me colocaram aqui".
Apontado pelo presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), como candidato a destaque no mandato que se inicia, Romário credita à "fama mundial" uma responsabilidade maior do que a de seus pares. Considera "bem justo" o salário que ganha (R$ 26.700 mensais, além de 13º e 14º salários, auxílio moradia, cota telefônica, passagens aéreas), "nada" se comparado ao que recebia no futebol.

Qual foi sua primeira impressão ao pisar na Câmara?
Achei que seria difícil entender como as coisas funcionam, mas já consegui. Dificuldades existem para todos os 513 deputados, e para mim não vai ser diferente. É difícil realizar aquelas coisas que falei para os eleitores, mas eu vou lutar. Existem alguns projetos que tramitam aqui há anos. Criar uma lei, pelo que entendi, é mais difícil do que alterar coisas que já existem.

Tem deputado que chegou apresentando vários projetos...
Não quero ser leviano, sabe? Não estou aqui para mostrar cem projetos. Vou tentar, dentro do meu limite, fazer pelo menos um. Mas, entre começar um e ajudar nos que estão prontos, eu vou nesses.

Em algum momento pensou "o que estou fazendo aqui"?
Estou feliz por ter feito a escolha certa, e principalmente pelo que aconteceu recentemente [evento idealizado por Romário que reuniu portadores da Síndrome de Down, incluindo sua filha Ivy). As pessoas com deficiência me veem como um cara que pode ajudar. Não vou ser nenhum Jesus Cristo, mas posso mesmo fazer um montão de coisas. Lamento apenas que nada aqui ande muito rápido. O senador [Paulo] Paim [PT-RS] lançou um projeto direcionado às pessoas com deficiência. Tem mais de dez anos, e ainda não foi colocado em prática.

Verdade que pretende propor a convocação de Ricardo Teixeira para explicar denúncias feitas pelo deputado Anthony Garotinho?
As denúncias são sérias e têm de ser apuradas. Se a defesa não for convincente, sou a favor da CPI.

Como é sua relação com Teixeira?
Muito boa. Nós nunca fomos amigos, mas sempre nos respeitamos. Agora ele tem de entender que represento no mínimo 150 mil pessoas que me colocaram aqui.

Romário vai ser uma "pedra no sapato" na preparação da Copa?
Se as respostas do Ricardo Teixeira forem convincentes, não vai ter nenhum problema. E estou torcendo para que não tenha, porque a gente também tem de ser grato –ele foi um cara muito importante para trazer a Copa.

O que acha da bandeira do casamento gay, levantada pelo deputado Jean Wyllys (PSOL)?
O Jean é um cara muito inteligente. Nossa eleição pode mudar a ideia de que jogador não pode ser um grande deputado e participante de BBB só consegue fazer reality show. Eu sou a favor da felicidade. Se as pessoas se casam e são felizes, independente do sexo, é o que vale.

Muita gente associa o trabalho dos congressistas à corrupção. Como vê isso?
Nesse um mês e meio, posso confirmar: mais da metade [dos parlamentares] tem um ideal, um objetivo.

Hoje tem muita mulher no Congresso. Como ídolo, o assédio deve ser grande, não?
Até preferiria que as pessoas que batessem fotos comigo fossem mais mulheres do que homens, mas infelizmente no momento tem 60% de homem. Cadê essas mulheres que tanto falam?

Tem algumas musas na Casa...
Tem três meninas deputadas que são bonitas. Uma é paulista (Bruna Furlan, PSDB). Tem a de Manaus [Rebecca Garcia, PP] e a do Rio Grande Sul [Manuela D'Ávila, PCdoB].

Considera-se de centro, esquerda ou direita?
Não tenho uma resposta exata para te dar. Eu me colocaria como um político que está nessa Casa para lutar, desculpe a expressão, pra caralho.

Lula, Dilma, Serra ou Marina?
Simpatizo muito com o Lula, mas o Lula não está mais, né? Apoiei a Dilma e acredito nela. Muito.


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