São Paulo, domingo, 27 de fevereiro de 2011

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15 Minutos

Edifício Master

por ALICE GRANATO

Débora Bloch e Luiz Fernando Guimarães moram no mesmo prédio. Parceiros das antigas, estarão juntos 
outra vez na próxima novela das seis. Bastou a Débora descer um andar, e antecipamos esse encontro de titãs

Débora Bloch e Luiz Fernando Guimarães são vizinhos. Moram no mesmo prédio, no Jardim Botânico, no Rio de Janeiro. Como se imagina, nenhum dos dois frequenta a reunião de condomínio, encontram-se no entra e sai do elevador e costumam se visitar para bater papo e fumar um cigarrinho. "Temos bom senso para não invadir o espaço do outro", diz Luiz. Amigos e parceiros de palco, televisão e humor há 25 anos, a dupla de atores volta agora a contracenar na próxima novela das seis, "Cordel Encantado", que estreia em abril na Rede Globo. Em um ritmo de gravações intenso – já foram do Vale do Loire, na França, ao Canindé de São Francisco, em Sergipe –, encontraram-se para um bate-papo a pedido de Serafina. A princípio, ia ser na casa da Débora, que teve um probleminha técnico com uma obra (ao instalar uma prateleira, furaram o cano do ar condicionado da sala) e, graças à boa vizinhança, foi só descer um andar para a casa do Luiz. Engraçados por natureza, os dois falaram sério – sobre profissão, amizade e, claro, histórias divertidas da trajetória juntos. "Eu sou a segunda mulher dele", brinca Débora. "A primeira foi a Regina Casé. Depois ele casou comigo e me traiu com a Nanda [Fernanda Torres]. Mas eu sabia que um dia ele voltaria pra mim" (risos). A dupla está também no ar com a reprise de "TV Pirata," que os levou a 
fazer teatro juntos.Tiveram grandes encontros nas peças "Cinco Vezes Comédia" e "Fica Comigo Essa Noite", que ficou cinco anos em cartaz por todo o Brasil. Sentados à mesa de jantar do Luiz, a conversa fluiu assim:

Débora: A melhor coisa que tem, muito mais fácil, né, Luiz?
Luiz Fernando: Você já tem intimidade. Se bem que no nosso ramo às vezes você não conhece a pessoa e, em dois segundos, está beijando na boca em cena. Mas com amigo a gente sabe como o outro funciona. E é bom para ver a pessoa. Talvez isso seja a melhor coisa para a amizade.

Um pelo outro
LF: Débora é detalhista, eu sou o cara do esboço. Ela está com um leque na mão direita e não sabe se mantém ou se muda para a esquerda. Não passo por isso. Se alguém fala "ficou feio", mudo e pronto. Temos visões diferentes que se completam.
Débora pausa para pensar nas características de Luiz.
LF: Acho que a minha é: objetivar para acabar aquilo, ir embora para casa e conviver com a vida real [risos].
D: Como pessoa, ele é impaciente, quer resolver. Como ator, tem uma capacidade de desconstrução, de não fazer o óbvio. Bota vírgula onde não se espera. A espontaneidade, contudo, é o mais forte. As pessoas têm a impressão de que ele chegou lá e fez intuitivamente. Mas ele sempre vem com a cena estudadíssima.

LF: Na época da peça "Fica Comigo Essa Noite", em São Paulo, a gente tinha permuta com uma churrascaria e comíamos desgraçadamente. Passamos o resto da temporada tentando emagrecer. A gente tomava aqueles shakes de manhã, de tarde e de noite. Andávamos em parque, íamos a academias. Foi semitrágico.
D: A gente entrava até em aula para glúteo [risos].

Bigode nela
D: Na "TV Pirata", o Luiz usava um bigode colado e a gente tinha cenas de beijos. Eu ficava cheia de pelo na boca e falei para ele fazer mais trucado. Aí ele me agarrava ainda mais.
LF: Ficávamos horas no cenário, na cama, e resolvemos fazer uma peça juntos. Agora estamos com essa vontade de novo.

Diversão e trabalho
LF: Eu não dou risada de nada. Quase não rio de peça. As pessoas falam "nossa, você é tão sério!". Rir me atrapalha o pensamento, e também não ouço direito quando estou rindo. Em compensação, rio muito por dentro.
D:No entanto, a gente ri o dia todo com você, né, Luiz? Ele é sério mesmo, mas precisa se divertir para que fique divertido. Isso eu aprendi com você.

LF: Queria ver a Débora fazendo uma guerreira. Dessas que vêm montadas em dinossauros, um "Avatar". Adoro filme de aventura americano!
D: Eu amaria ver o Luiz fazendo Hamlet, ele faria muito bem Shakespeare, textão.
LF: Para você ver como a gente pensa complemente diferente [risos].

De luiz para débora
Quando está fazendo TV, você representa para quem?
D: Para você [risos].
LF: E se eu não estiver em cena? Eu ensaio para o pessoal da técnica, coisa de teatro. A câmera para mim não é nada.
D: O ator que faz para a câmera está representando sozinho.
O Amir Haddad [diretor teatral] me ensinou que o mais importante é a história que você está contando –no sentimento, não na forma. Na TV é muito fácil cair num padrão. Se bobear, acaba indo naquilo que já sabe que funciona e se repete.

De débora para luiz
Você pensa em parar de atuar?
LF: Toda hora. Tenho um espírito muito vagabundo. Quando não estou trabalhando, tenho muita coisa para fazer, a vida nunca fica triste. Representar é a coisa de que mais gosto na vida, não tenho cansaço da profissão, mas do entorno. Achava que, se saísse um pouco do ar, as pessoas me esqueceriam. Mas elas não esquecem.


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