São Paulo, domingo, 27 de junho de 2010

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ÍCONE

O cineasta escreve sobre sua musa da juventude, Judy Garland

por DOMINGOS OLIVEIRA

DEPOIS DO ARCO ÍRIS

No mês do aniversário de nascimento e morte de Judy Garland, uma homenagem à atriz que viveu numa montanha-russa bipolar

Eu me apaixonei por Judy Garland aos 12 anos. Se fosse possível revivê-la e jogá-la no colo, largaria Priscilla (Rozembaum, minha mulher) e me casaria com ela. Juro
Nascida em 10 de junho de 1922, caipira de Minnesota (EUA), morreu em Londres em 22 de junho de 1969. Começou a atuar aos dois anos com seu pai (homossexual), sua mãe e duas irmãs mais velhas. Em 45 anos de carreira, fez mais de 35 filmes. "O Mágico de Oz" (1939) foi o que a tornou famosa, aos 17 anos, como Dorothy, cantando "Somewhere Over the Rainbow" pelo caminho de tijolos amarelos.
Apesar do sucesso, Judy era atormentada pela instabilidade financeira e muito insegura em relação ao seu físico. Tentou o suicídio algumas vezes e morreu de overdose aos 47 anos, deixando três filhos, entre eles, a atriz e cantora Liza Minnelli, 64.
Seu grande erro foi nunca ter vindo ao Brasil me conhecer. Meu amor poderia tirá-la da bebida e do vício em anfetaminas e barbitúricos. Eu a poria no colo afirmando que o sofrimento dela era também meu, "que não passava um instante sem pensar nela, que tudo o que bebia e comia tinha gosto dela, que a vida era ela a toda hora e em toda parte..." (Gabriel García Márquez).
Eu não poderia, entretanto, garantir fidelidade. O que, provavelmente, a faria me atirar pedras. É que eu tinha também uma paixão semelhante, embora mais branda, por Vivien Leigh, Ingrid Bergman, Katharine Hepburn, Grace Kelly, Marilyn Monroe, Claudia Cardinale, Sophia Loren, Romy Schneider, Jane Fonda, Nara Leão e por outras das quais eu me esqueci.
E quando Judy cantava "O Hino de Batalha da República", até Deus saía da frente. Ela tinha um rouco na voz (como Maysa) que me mata até hoje. Uma rouquidão que dizia o quanto ela precisava de um amor para destruir. O quanto poderia ser feliz, se fosse, e não foi jamais.
Oh, Judy! Ela era aquele tipo perigoso de mulher que toca a corda da ambição salvadora dos homens. Vi um documentário outro dia sobre ela. Não era uma pessoa fina. Resplandecia inteligência, porém, longe de qualquer lucidez. Era dessas pessoas dependentes, não sei bem de quê, de alguma coisa que Deus tem e, malvadamente, não quer dar. Enfim, uma dessas deusas mortais que vivem para morrer. E seus últimos anos são galerias de horrores e glórias. Fracassos retumbantes, sucessos inacreditáveis, amores loucos, violência, doença, saúde e trabalhos cancelados. Ela jogava alto.
Morreu com uma dívida de milhões de dólares. Seu corpo foi levado para Nova York, e uma fila de 22 mil pessoas passou diante do caixão. James Mason (1909-1984), um dos atores mais elegantes do cinema, falou no funeral: "Foi o seu amor pela vida que a fez suportar tudo. O meio a entediava. Ela queria o pináculo. Se estava feliz, não estava apenas feliz, estava em êxtase. Quando estava triste, estava mais triste do que qualquer outra pessoa".
Viver plenamente é isso aí. Se pássaros voam acima do arco-íris, como naquela canção de "O Mágico de Oz", por que ela não poderia voar?

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