São Paulo, domingo, 27 de julho de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FINA

Silvia Amélia Chagas

por TOM CARDOSO

A lenda da baronesa de Waldner, que VIVE DISCRETAMENTE EM PARIS E teria inspirado "AQUELA canção do Roberto" nos anos 70

No começo da década de 70, um jornalista e um cantor travaram uma batalha fratricida pelo coração da mulher mais bonita e elegante do Rio de Janeiro. As armas foram escolhidas. Tarso de Castro, o jornalista, valeu-se do reconhecido e infalível charme, o mesmo com que laçara Leila Diniz, Ana Maria Magalhães e Norma Bengell. Já o cantor, Roberto Carlos, muniu-se do talento para escrever canções de amor, o que lhe conferia uma certa vantagem. Com o olhar pidão de sempre, decerto cantou sua nova canção no ouvido da musa inspiradora. "Se um outro cabeludo aparecer na sua rua/ E isso lhe trouxer saudades minhas/ A culpa é sua...".

Mas nem o rei Roberto, nem Tarso, o cabeludo, a fisgaram. O escolhido foi um barão. E francês. A moça e o jovem Gérard de Waldner, herdeiro de uma das mais tradicionais famílias da França, casaram-se em 1973, em Paris, onde vivem felizes até hoje e, provavelmente, para sempre. Tarso foi chorar as mágoas com Paulo Francis e Jaguar, seus colegas de "O Pasquim". Roberto Carlos seguiu se apaixonando e escrevendo canções de amor, sem jamais esquecer "os detalhes tão pequenos" daquela tórrida paixão.

Silvia Amélia Chagas valia por uma guerra inteira. Era linda, rica e bem-nascida, neta de Carlos Chagas, o renomado médico sanitarista que combateu no Brasil a tripanossomíase (conhecida popularmente, por sua causa, como Doença de Chagas). Foi a alegria de todos os colunistas sociais de sua época, de Jacinto de Thormes a Ibrahim Sued, que a transformou em "A Pantera". "Não havia no Rio de Janeiro uma mulher que chegasse aos pés de Silvia Amélia. Ela sabia disso. Era cortejada por todos os grandes partidos da cidade, inclusive por meu irmão [o economista Roniquito de Chevalier], mas nunca se deslumbrou, não levantava o nariz para ninguém", diz a atriz e jornalista Scarlet Moon de Chevalier.

Discreta, só por alguns anos se entregou a badalações e à vida boêmia da Ipanema dos anos 70 -exatamente no intervalo do fim do primeiro casamento com o empresário Paulo Marcondes Ferraz e a vida de baronesa em Paris, quando Tarso e Roberto (e metade dos homens da zona sul carioca) queriam tê-la nos braços.

ENTREVISTA PELO CORREIO

Silvia Amélia, 64, não gosta de falar do passado. É ela própria quem atende à ligação da reportagem de Serafina, de sua mansão no oitavo distrito, uma das regiões mais elegantes de Paris. Estava de malas prontas para mais uma viagem pelo sul da França, onde a família Waldner tem uma série de propriedades, incluindo um suntuoso castelo, o mesmo onde o príncipe Charles foi flagrado nu por um paparazzo, em 2004 -o ex-marido de Diana é afilhado da baronesa Louise de Waldner, sogra da ex-Pantera de Ibrahim.

A conversa com a baronesa durou alguns segundos. Silvia Amélia pediu para que o repórter enviasse as perguntas pelo correio -não o de e-mail, mas o convencional. Prometeu, sem muita segurança, que, quando chegasse de viagem, as responderia. Despediu-se educadamente, sem antes ouvir:

- Foi para a senhora que Roberto Carlos compôs "Detalhes"?

- Não.

O próprio Roberto e o historiador Paulo César Araújo, autor da biografia proibida pelo rei, negam que "Detalhes" tenha nascido do efêmero caso de amor. Há controvérsias. A canção, de 1971, foi feita na mesma época em que o cantor e a socialite eram vistos quase todas as tardes na suíte presidencial do Copacabana Palace. Se Roberto não escreveu a canção para Silvia Amélia, quem seria a homenageada? Para a mãe, Lady Laura, é que não foi. E o cabeludo, que vivia aparecendo pela bandas da Vieira Souto, onde moravam os Chagas, provavelmente era Tarso. Desde os tempos de colunista da "Última Hora", ele anunciava, otimista: "Estou a 200 metros de Silvia Amélia". "Hoje, fiquei apenas a 50 metros." "Hoje, estou a 10 metros."

PASSA ANEL

Nem um casal de periquitos australianos, comprado por Tarso com o salário de editor de "O Pasquim", foi suficiente para bater os versos de Roberto. O jornalista, porém, passou a ficar a dois palmos de distância de Silvia Amélia assim que o cantor, ocupadíssimo com as turnês e gravações, começou a faltar aos encontros no Copacabana Palace. Tarso e a Pantera passaram a ser vistos juntos em quase todas as boates da zona sul. Na Flag, porém, durante um show de Nara Leão, o jornalista perdeu a musa para sempre. Tudo por causa de um grande mal-entendido, como conta Hildegard Angel, na época assistente de Nina Chaves, colunista de "O Globo".

"Durante o show, lotado de gente, Silvia Amélia pediu para o Tarso guardar no bolso o seu anel de diamantes. O Tarso foi embora e esqueceu de devolver a jóia. Como era muito brincalhão, ele chegou ao Antonio's (reduto da boemia carioca) falando para todo mundo que iria penhorar o anel para pagar suas dívidas. Eu era muito nova, tinha 20 anos, fiquei sabendo da conversa do Tarso por uma fonte e publiquei a nota, com o seguinte título: 'Tarso passa o anel'. Ele ficou furioso, viramos inimigos mortais", conta Hildegard.

Mais furioso ficou o pai de Silvia Amélia, Carlos Chagas Filho, ex-presidente da Academia Pontifícia de Ciências do Vaticano, que já não aprovava as noitadas da filha por Ipanema, muito menos ao lado de um jornalista de "O Pasquim". O jeito foi enfiá-la no primeiro avião para Paris. Tarso ficou sem a Pantera e sem anel.

A vida de baronesa não é menos divertida. Silvia Amélia se tornou uma das estrelas do jet-set europeu. Foi nomeada mais de uma vez a "mulher mais bem vestida da Europa". Em 2004, para alegria dos amigos Yves Saint-Laurent e Valentino, a revista "Figaro" a elegeu "A Mulher do Ano".

"A nobreza européia é fascinada por Silvia Amélia, uma típica mulher brasileira, alegre, divertida, mas ao mesmo tempo discreta, incapaz de abrir sua casa para revistas. Um mito silencioso", diz o empresário Ricardo Amaral, amigo de longa data.

Não adianta nem tentar me esquecer...

"Não havia no Rio uma mulher que chegasse aos pés de Silvia Amélia e ela sabia disso"
(Scarlet Moon)

"A nobreza européia é fascinada por ela, uma típica mulher brasileira, alegre e divertida"
(Ricardo Amaral)

Texto Anterior: TERETETÉ: Anedotas do showbiz americano, por Teté Ribeiro
Próximo Texto: POP UP: Avaf, por Camila Yahn
Índice



Clique aqui Para deixar comentários e sugestões Para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É Proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou imPresso, sem autorização escrita da Folhapress.