São Paulo, domingo, 28 de novembro de 2010

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FINO

Em casa com o rei

por PATRÍCIA FAVALLE

Depois de um quarto de século à frente de seu programa de tv, Larry King pendura os suspensórios para dedicar mais tempo à sua sétima mulher

Dizem que Hollywood é a terra dos sonhos, onde tudo pode acontecer. Nada de extraordinário, então, que Lawrence Harvey Zeiger, o Larry King, 77, decida abrir as portas de sua mansão em Los Angeles para uma reportagem, pela primeira vez, justamente para a equipe de Serafina.
Ícone da cultura ianque, ele está há 25 anos à frente de seu "Larry King Live", programa de entrevistas da rede de TV paga CNN. Foi líder de audiência durante boa parte desta longa jornada (comparado a programas de TV a cabo no mesmo horário), mas viu os números despencarem no primeiro trimestre de 2010, quando registrou a sua pior marca: 771 mil espectadores.
A oscilação do público foi a gota d'água para decidir fazer o que vinha ameaçando há muitos anos: pôr fim ao espetáculo –e deu a notícia ao vivo. Enquanto comandou o "Larry King Live", inquiriu todos os presidentes que ocuparam a Casa Branca nesse período, bem como figurões do naipe do diretor Quentin Tarantino, Marlon Brando –encontro que rendeu até selinho de despedida–, Michael Jackson, Paul McCartney e Ringo Starr (a quem preferiu chamar de George Harrison). Oficialmente longe das câmeras a partir do dia 16 de dezembro, o senhor de cabelos brancos e postura altiva se esforça para adotar uma rotina menos frenética. "Não será fácil, pois sou uma criatura de hábitos metódicos", diz.
Nascido num clã judeu no bairro do Brooklyn, em Nova York, em 1933, Larry conquistou fama na WAHR, pequena estação de radio de Miami. Sua transmissão inaugural aconteceu em 1957, ocasião em que seu holerite não ultrapassava os US$55.
Estrearia na CNN em 1985, e foi lá que eternizou o estilo direto e recheado de irreverência, sem se prender aos scripts. "Gosto de improvisar." Mas nem sempre a estratégia funcionou, como na polêmica que criou ao questionar Debra Tate, irmã de Sharon Tate, assassinada por seguidores de Charles Manson, se não teria sido a morte dela "encomendada" pelo diretor Roman Polanski (de "O Pianista"), seu marido à época.
Sentado num dos confortáveis sofás do living de sua mansão, vestindo calças pretas e camisa cinza, óculos e cinto com tachas douradas, na companhia do cachorrinho Biscuit "King", Larry parece à vontade. Sua informalidade contrasta com a rigidez do mármore visto no hall e nas escadarias semicirculares que levam ao piso superior. O décor é imponente e conta com um piano de cauda que Paul McCartney tocou em "jam session" caseira. Além de lustre de cristal Baccarat, obras de arte, muranos e pilhas de tacos de beisebol.
Nas estantes que se estendem às áreas sociais, ao lado dos troféus e dos livros, há retratos dos filhos. Aqui vale abrir um parêntese sobre o perfil Don Juan do anfitrião, que tem acentuada queda por beldades de silhuetas esguias e vastas cabeleiras loiras, exibidas na coleção de casórios desde os 18 anos, quando se uniu a Freda Miller. Um ano depois, já separado, engatou novo romance com Annette Kaye. O matrimônio não deu certo, e a coelhinha da Playboy, Alene Akins, conquistou o coração do "galã". Num breve intervalo, o apresentador conheceu Mary Francis, mas logo se viu disposto a reatar com Akins, com quem teve Andy, 49, e Chaia, 43. Sharon Lapore foi a eleita seguinte, mas a estabilidade não sobreviveu à crise dos sete anos. Num relacionamento a jato, King subiu ao altar com a executiva Julie Alexander, porém, nem chegaram a compartilhar da mesma morada. A próxima da lista foi Deanna Lund, que rapidamente deixou o território livre para Shawn Southwick, atual primeira-dama, 26 anos mais jovem.
Linda, loira, alta e mórmon, Shawn é atriz, cantora e empresária, e mãe dos caçulas Cannon e Chance, de 10 e 11 anos, filhos de King, e Danny, 28, de uma união anterior. Shawn já emprestou os contornos à bonequinha Barbie, em uma dessas homenagens que os fabricantes fazem às celebridades, e inventou um moderno sistema de aplique de cabelo em 1993, chamado de "Luxurious Hair Extension".
Na antessala integrada ao quarto do casal, em meio aos retoques do make-up, ela não esconde a admiração que sente pelo companheiro, detalhe que anunciou com uma pontinha de satisfação, calando os maldosos sobre a boataria de um possível divórcio: "O melhor de Los Angeles é Larry King –e não há aposentadoria que mude isso!". Envaidecido pelo mimo, o dono do pedaço se apressou em mostrar os outros cantinhos do "sweet home" –e durante o tour falou sobre carreira, política, família e projetos futuros.
Das mais de 50 mil entrevistas que fez, quais foram as inesquecíveis? Diria que foi com Nelson Mandela, pois acredito que ele seja a maior figura do século 20. Sofrer o que ele sofreu é quase impensável. Ele é um homem excepcional.

Como o senhor descreve o atual panorama político–econômico dos Estados Unidos?
Turbulento.

Turbulento?
Definiria como uma espécie de "contrafluxo". Temos um presidente que está começando, e também temos republicanos e democratas... Nunca vi tanta hostilidade como existe na América de hoje. Isso é triste.

O pior da crise já passou?
Não, acho que estamos no meio dela. A crise não vai passar enquanto a economia for mantida nesse estado de desordem e os empregos faltarem. Temos que encontrar formas para sair dessa situação.

O equilíbrio de forças mudou?
Sim, a China será a próxima potência a ditar os rumos, mas tenho dúvidas se isso será bom ou ruim. Espero que os chineses desenvolvam um sentido real de democracia e que não existam mais prisioneiros políticos.

O senhor tem acompanhado o processo eleitoral na América Latina?
Sinto que o populismo está ocupando o lugar da velha esquerda...

Como analisa o futuro dos jornais diante da concorrência da internet?
Não sei se estão em extinção, mas serão cada vez menos importantes. As formas tradicionais jamais desaparecerão. Mas os jornais como conhecemos hoje serão diferentes daqui a cinco anos. O rádio se manterá constante, porque ele acompanha você, fala com você.

Como analisa a atuação de Barack Obama?
Algumas coisas são positivas. Ele conseguiu aprovar leis importantes, está acabando com a guerra no Iraque, enfrentou o problema do Afeganistão, conseguiu captar a atenção do público e fez uma ótima campanha. Porém, até aqui, como líder, ainda deixa a desejar. Mas as pessoas devem se recordar que Bill Clinton, em 1992, foi eleito por uma minoria. Em 94, perdeu no Congresso e acharam que ele estava acabado. Dois anos depois, se reelegeu e, quando encerrou o cargo, foi considerado o presidente mais bem–sucedido da história.

Imagina que Obama terá força política para outro mandato?
Pelo que tenho visto, diria que sim, ele tem força e competência para isso.

Qual o seu plano imediato?
Curtir a vida "adoidado".

Parece fácil

Por Elio Gaspari
Larry King, o historiador inglês Eric Hobsbawn e o ator Fred Astaire têm um ponto em comum. Quando perguntaram a Astaire qual era o segredo de sua dança, ele respondeu: "Tem que parecer que é fácil."
Quem vê uma entrevista de King ou lê um capítulo de Hobsbawn fica com a sensação de que, com um pouco de esforço, poderia fazer igual. No caso de Astaire a coisa é mais complicada, fica-se com a impressão de que, para ele, aquilo foi fácil.
Larry King está saindo de cena sem que se saiba a sua opinião a respeito de coisa alguma. Esse é o maior triunfo de um entrevistador. Seu programa chama-se "Larry King ao Vivo". Como diz o Boni, criador do padrão da TV Globo, "quem sabe, faz ao vivo".
Em 25 anos de entrevistas diárias, poucos foram os casos em que parecia não saber do que estava falando. Ele diz que nunca se preparou para uma entrevista. Pode ser.
Dois detalhes da cena de Larry King ficam como uma lição de um jornalista que virou celebridade mas procurou demarcar a distância entre ele, um profissional da curiosidade, e o convidado. King sempre está sem paletó, com as mangas da camisa arregaçadas, coisa de quem está trabalhando. Entre ele e o entrevistado sempre há um enorme microfone dos anos 50, inteiramente inutil, porém essencial para que o espectador veja que aquilo não é um bate-papo de notáveis.
Talvez o seu segredo tenha sido estabelecer-se numa posição em que não aparece como um confrontador, nem como um levantador de bola para o convidado. Parece fácil.

QUIZ
Esporte? Beisebol. Sou fanático pelo Dodgers.
Dia inesquecível? O nascimento dos meus filhos.
Estilo? Não sei nada sobre isso!
Drinque? Café gelado.
O melhor de Los Angeles? É minha cidade preferida. Então, eu diria que o melhor daqui é tudo.
O pior de Los Angeles? A chuva.
Comida? Lamb Chops (costelinhas de carneiro).
Trilha sonora? Frank Sinatra.
Livro de cabeceira? A biografia de Mickey Mantle, ex–jogador de beisebol do Yankees, escrita por Jane Leavy.
O que o deixa feliz? Não sei como definir a felicidade, a não ser pela ausência da infelicidade.
Um lugar no mundo? Brasil e Itália. Eu gostaria de visitar Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro.
Sonho de consumo? Ter mais tempo para a minha família.
O passo seguinte? Farei especiais para a CNN, talvez um por ano. Mas não estou pensando no amanhã, quero apenas viver o agora.

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