São Paulo, domingo, 29 de agosto de 2010

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FINA

eu sou um animal

por FERNANDA EZABELLA,
DE LOS ANGELES

o passado caótico, o presente caleidoscópico e o novo filme de Drew Barrymore, a comédia "Amor à Distância"

Drew Barrymore está com pressa. Sai do banheiro abotoando as calças e dá um "hello" para a repórter no quarto do hotel, em Los Angeles. Ela tem um voo para pegar e um filme para divulgar.

Apesar da agitação, mantém o bom humor e o jeitão "riponga-relax" que a transformou numa das atrizes mais queridas dos EUA. A trancinha no cabelo bagunçado e o colete preto meio cigano ajudam a compor a personagem.

Mas ela não é dócil o tempo todo. Distribui palavrões em alto e bom som, principalmente para falar dos paparazzi que a perseguem na saída das baladas, onde uma nada sóbria Drew foi vista algumas vezes.

São leves resquícios de seu passado inglório. Após ficar famosa como a pequena Gertie de "E.T. - O Extraterrestre" (1982), aos seis anos, a atriz viu sua carreira promissora degringolar. Aos nove, saía com a mãe pelos bares de Nova York e Los Angeles; aos 11, abusava das drogas; dos 13 aos 15, passou por centros de reabilitação.

"Não finjo que sou uma puritana", diz sobre as noites em que sai para beber com os amigos. "Todo o mundo tem problemas em algum momento da vida. Ninguém passa ileso."

A volta por cima demorou alguns bons anos e veio aos poucos. Hoje, aos 35, é mais conhecida pelas comédias românticas, como "Nunca Fui Beijada" (1999) e "Como se Fosse a Primeira Vez" (2004), embora, nos bastidores, tenha virado uma respeitável produtora de Hollywood.

Os dois longas de ação da franquia "As Panteras", de 2000 e 2003, produzidos e coestrelados por ela, arrecadaram US$ 800 milhões pelo mundo.

No ano passado, a atriz deu mais um passo e estreou como diretora em "Garota Fantástica", em que ela e Ellen Page interpretam patinadoras. As críticas foram generosas, embora não se tenham traduzido em muitos ingressos vendidos.

Também em 2009, fez um dos papéis mais instigantes da sua vida no filme "Grey Gardens", a história de duas socialites excêntricas, tia e prima de Jackie O., que lhe rendeu um Globo de Ouro.

"Eu me esforço para não ficar estagnada", diz a californiana entre gestos e sorrisos.

Seu novo filme, "Amor à Distância", é uma comédia açucarada, com estreia no Brasil em setembro. E ela contracena com Justin Long, seu ex-talvez-atual-namorado, já que os dois vivem indo e vindo. Sua personagem mora em San Francisco; a dele, em Nova York -e a história segue os altos e baixos dessa relação quase impossível.

Você parece sempre de bom humor, com esse estilo meio "hippie". O que a tira do sério? Tenho um lado totalmente obscuro. Penso o tempo todo em mandar as pessoas se foderem. E, às vezes, mando mesmo. Sabe, quero ser boa para as pessoas, ser legal. Após uma experiência positiva, eu me sinto mais feliz. Eu realmente me sinto mal quando as coisas vão mal, [aquilo] fica comigo, é como veneno dentro do meu corpo. Mas, dito isso, sou um animal. E, quando me provocam, eu mordo de volta.

Mas o que a provoca? Infelizmente, no meu trabalho, às vezes, existe essa exploração [dos paparazzi]. Quero que eles se fodam. Eu não estou fazendo meu trabalho para isso, mas eu sei que é parte do jogo. Sabe, eu não saio, não caio na balada. Quer dizer, eu caio na balada, totalmente, divirto-me com meus amigos, bebo, danço. Mas eu não convido esse tipo de coisa para a minha vida. Quando acontece, fico muito nervosa.

Você foi uma criança bastante problemática. Como conseguiu encontrar um balanço e como é assistir agora a várias outras celebridades dando vexame? Não vou comentar nada sobre as outras pessoas, porque também não quero ouvir conselhos de quem eu não conheço. Todo o mundo tem problemas em algum momento da vida. Vai acontecer na infância ou na vida adulta, ninguém passa ileso. Se você tiver sorte, vai aprender alguma coisa. Eu acho que aprendi. Eu me disciplinei, trabalhei para cacete para tentar achar um equilíbrio na vida, ser rodeada de amigos e de criatividade. Tento viver uma existência honesta.

Você já está há 30 anos na indústria do cinema. Como vê essa passagem do tempo? Eu tento não ficar estagnada. Amava atuar quando era criança e, quando era adolescente, queria ser produtora. Agora, com meus 30 anos, estou dirigindo e escrevendo, fazendo papéis mais dramáticos.

Mudaria alguma coisa nesses 30 anos? Não, nada. Não que eu tenha orgulho de tudo o que tenha feito, de todos os filmes e todas as opções que eu fiz na vida, mas acredito que tudo isso tenha trabalhado em benefício de eu estar feliz agora.

"E.T. - O Extraterrestre" faz 30 anos em 2012. O que esse filme significa para você? Tudo. Foi o filme que mudou minha vida, foi a melhor experiência de todas. Como diretora, é a minha história favorita. Acho que é genuinamente um dos melhores filmes já feitos na história do cinema. É lindo e poético, triste e feliz ao mesmo tempo. É perfeito.

Você namorou um brasileiro por cinco anos. O que aprendeu sobre os nossos garotos? São muito impulsivos, apaixonados, tanto emocionalmente como fisicamente e até espiritualmente. E tem também a cultura, a mais "sexy" possível. Fui três ou quatro vezes ao Brasil. Gostaria de explorar mais outras praias, ilhas, lugares fora das grandes cidades.

Quando vai voltar a dirigir? Assim que possível. O meu próximo projeto é um drama. Vou atuar nos próximos meses em "Everybody Loves Whales". E depois vou achar algo para dirigir.

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