São Paulo, domingo, 29 de agosto de 2010

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FINA

Bebel do Brasil

POR ALICE GRANATO,
DO RIO DE JANEIRO

Filha de João e Miúcha, sobrinha de Chico e prima de Carlinhos, a cantora Bebel Gilberto chega a Hollywood na trilha do filme "Comer, Rezar, Amar" e volta ao país com a Turnê de seu novo cd, "all in one"

Tarde quente do verão europeu, no bar de um dos hotéis mais festejados de Barcelona, qual é o som? Bebel Gilberto. O mesmo acontece poucos dias depois em Milão --e é assim também em Londres, em Paris, nos Estados Unidos (seu principal mercado) e, é claro, em muitos lugares no Brasil. Bebel está ainda na trilha sonora do filme "Comer, Rezar, Amar" (adaptação do best-seller de mesmo nome), com Julia Roberts e Javier Bardem no elenco, que chega ao país em outubro.

Filha de João Gilberto e Miúcha, sobrinha de Chico Buarque, melhor amiga de Cazuza e prima por tabela de Carlinhos Brown (casado com sua prima Helena), Bebel, 44, não se acomodou com a fama da família. Há mais de duas décadas em Nova York, a cantora soube conquistar seu espaço e ganhou projeção internacional. Em turnê com o álbum "All in One", lançado pela Verve no final do ano passado, ela virá ao Brasil em novembro para transformá-lo em DVD.

No início do ano, casou-se com o engenheiro de som Didiê Cunha, em Trancoso, na Bahia, e acaba de comprar um apartamento em Nova York, que tem um estúdio no andar superior e, no inferior, um jardim, onde ela cultiva plantas e, nos dias quentes, toma banho de mangueira.

Nascida em Manhattan, passou parte da infância em São Paulo e, depois, mudou-se para o Rio de Janeiro, cidade na qual mais se sente "em casa" e de onde falou à Serafina, em dois encontros no bairro do Leblon, nos quais tomou cappuccino.

ALL IN ONE: Comecei o disco na Jamaica, no Réveillon de 2008-2009, que passei com meu marido. Apaixonada, você vê a folha balançando e já pensa em música. Entre os dias 30 e 31, escrevi a letra de "All in One" em Ocho Rios, depois de duas champanhes à beira do mar. Fiz um scan da letra escrita à mão, que está no CD. Uma música para o Didier: tudo em um.

CRIAÇÃO: Componho na cabeça. É quase como se um espírito baixasse. Pode vir a letra sozinha, a melodia ou as duas. É um método sem controle. Adoro que me deem letra para fazer música ou fazer melodia em cima de harmonia. E o que mais amo é quando vem a música inteira. "Port Antonio" foi assim!

DANIEL JOBIM: Eu toco com ele por seu talento, não pelo peso de eu ser quem eu sou e de ele ser quem é [neto de Tom Jobim]. Uma vez, no estúdio, disse a ele que não queria nada muito jazz, pelo amor de Deus. Ele respondeu: "Olha, Bebel, se não fosse o jazz, seu pai não teria saído de Juazeiro e você não teria nascido em Manhattan". Morremos de rir. Ele começou a tocar "Bim Bom". Foi o que gravamos naquele dia.

"BIM BOM": Se eu fosse pensar no peso de gravar músicas do meu pai, passaria isso para o meu jeito de cantar. Não pensei em fazer um tributo a ele gravando "Bim Bom". Levei como brincadeira. A gravação foi ficando tão fofa, leve, não tinha como agredir. Meu pai é muito fechado, mas acho que gostou.

MIÚCHA E JOÃO: São da geração de 1960, aquela coisa sem método, de não podar a criatividade da criança. Nunca me levaram para uma aula de música. De tanto escutar os dois cantarem e tocarem um para o outro, tive aula espontânea. Queria ter mais disciplina, mas sou o reflexo do que eles eram. Minha mãe me ensinou a ter a banda como uma família. Puxei meu pai no lado mais perfeccionista. Paro a cada acorde, ouço uma nota do baixo diferente.

MEMÉLIA: Minha avó [materna, que morreu em maio deste ano, aos cem anos] era muito firme, não tinha manha. Ao mesmo tempo, conseguiu me mimar e me dar todo o amor e a segurança necessários. Morei com ela e meu avô [o historiador Sergio Buarque de Hollanda] dos cinco aos oito anos em São Paulo, na rua Buri. Nunca a vi reclamando de nada. A única coisa que me consola na sua morte é que ela não estava mais confortável aqui.

NESTE MUNDO: Nasci em Nova York. Sou completamente carioca, mas tenho a praticidade nova-iorquina. Se eu disser vou ligar, eu ligo; se eu marcar, eu vou. Não tem essa de passar reto, fingir que não vê. Posso ficar 20 anos sem ver uma pessoa, mas, se eu reencontrá-la, vou falar com ela, pois já fez parte da minha vida um dia.

EM OUTRO: Sou católica, filha de Omolu com Iansã, tomo banho de sal grosso, faço mapa astral, jogo tarô, adoro videntes e energizadores, acendo incenso, tenho budas pela casa. Sou devota de Santo Antônio, de Nossa Senhora, que minha avó adorava, e da Nossa Senhora Desatadora dos Nós, minha imagem preferida.

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