São Paulo, domingo, 30 de janeiro de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TERETETÉ

Tá tudo errado

por TETÉ RIBEIRO

O estilista paulistano Lorenzo Merlino, que não desfila mais na São Paulo Fashion Week, afirma que falta muito para a moda brasileira competir no mercado mundial

Por que você saiu da SPFW? Desfilei por cinco anos, de 2003 a 2008, me ajudou muito, divulgou meu nome, meu trabalho, minha marca, mas não me ajudou comercialmente. Estar no SPFW ou no Fashion Rio e fazer um bom desfile não quer dizer que vai ter uma procura maior pelas suas roupas. Muitas multimarcas assistem a os desfiles e não compram nada. Aí, de que adianta?

Em 2008, sua coleção foi apreendida pela polícia depois de seu último desfile na SPFW por conta de uma dívida trabalhista. Isso fez você brigar com o Paulo Borges, criador do evento? Não, imagina, eu gosto muito dele, é uma pessoa essencial para a moda brasileira, um visionário. Não temos mais relação comercial, mas ficou o respeito. Eu saí da semana de moda porque me parecia a decisão mais acertada para o meu negócio, não foi pessoal.

Como sua grife sobreviveu? Fiz três apresentações independentes desde que saí da SPFW que me renderam mais mídia que as semanas de moda. Estou bem, minha marca está saudável, acabei de fazer uma parceria com a VR que vende muito e tenho meu ateliê, em que faço peças mais exclusivas, sob medida. Não afetou em nada o meu negócio. O que é, no mínimo, estranho, não?

Na época você causou tanto espanto no meio da moda quanto a Ana Paula Arósio quando saiu da novela da Globo... Quase (risos). Minha saída foi muito noticiada, teve muita especulação, acharam que eu tinha enlouquecido. Mas tem alguma coisa errada nisso tudo, neste ano quatro marcas importantes deixaram de desfilar e uma marca que ninguém nunca ouviu falar, a Ghetz, vai desfilar pela primeira vez. Como assim?

Você tem muitas críticas à indústria da moda brasileira. O que está errado? Tudo. Para ser uma indústria digna desse nome, todas as fases precisam funcionar, e isso não acontece. Não tem para quem vender a moda que se faz no Brasil. Não existem grandes lojas de departamentos, como a Harrods inglesa ou a Bloomindales americana. E as que existem vendem marcas internacionais.

O que o Brasil precisa? Boas multimarcas voltadas para a moda brasileira. Há algumas, bem populares, como Renner, Riachuelo, Le Postiche, que fazem parcerias interessantes com estilistas, já fiz algumas. Essa popularização é positiva, mas não basta. Faltam lojas de departamento que comprem coleções inteiras. Há muitas grifes fora do Brasil que vendem exclusivamente nessas lojas, produzem pensando nelas. Esse sistema é muito deficiente aqui. Algumas marcas que desfilam na SPFW têm apenas um ponto de venda. Não dá para entender como elas sobrevivem como negócio.

Qual o mistério dos preços tão altos da roupa brasileira? Não sei explicar. Temos uma carga tributária ridícula de tão pesada, e os impostos são aplicados em cascata e em todas as fases da produção. Começa no fio, aí tem o tecido, a confecção, a representação, a comercialização. São muitas etapas, e o produto só vai encarecendo. O tecido brasileiro também é extraordinariamente caro. Uma malha brasileira é mais cara que uma seda importada da China, mesmo depois de todos os impostos da importação. Tem alguém no setor têxtil ganhando muito dinheiro, mas não são os estilistas, pode ter certeza.

Texto Anterior: FINO: Polemista oficial do governo Lula vira babá em Veneza, em nome do filho, por Vaguinaldo Marinheiro Próximo Texto: CINEMA: Um escritor cult, uma atriz especialista em papéis de piriguete, uma ex-prostituta e voilà, por Reinaldo Moraes
Índice



Clique aqui Para deixar comentários e sugestões Para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É Proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou imPresso, sem autorização escrita da Folhapress.