São Paulo, domingo, 30 de agosto de 2009

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NO RIO

Na Toca do Vinicius, bossa nova ainda é o ritmo do momento

por HELOISA SEIXAS

Na toca do vinicius

A loja, que é palco e museu informal da bossa nova, invade a calçada e para o trânsito em ipanema

Os gringos ficam malucos. Já houve vez em que eu estava lá dentro e ouvi três ou quatro línguas diferentes sendo faladas em torno de mim. Mas isso é a coisa mais comum. É sempre assim na Toca do Vinicius, mistura de loja, museu, palco e tribuna da música brasileira –sobretudo da bossa nova– fincada no coração de Ipanema. A Toca, como é chamada pelos íntimos, fica na rua Vinicius de Moraes, a velha Montenegro, renomeada exatamente em homenagem ao poeta.

A loja por si só é uma simpatia, com milhares de discos e livros (400 títulos só de CDs de bossa nova e mais de mil títulos de livros sobre música), mas seria apenas uma loja não fosse pelo acervo precioso guardado em seu mezanino, numa espécie de museu informal da bossa (que está em obras, mas vai reabrir em breve). Ali, estão cerca de 500 peças originais, entre elas manuscritos de Tom Jobim e a fita master do disco "Canção do Amor Demais", marco inicial do movimento. Esse disco, gravado por Elizeth Cardoso pelo selo Festa em 1958, era todo dedicado a composições de uma dupla então desconhecida –Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes– e, em duas de suas faixas, ouvia-se pela primeira vez o violão de João Gilberto.

CALÇADA DA FAMA

Outro acervo importante do pequeno museu são as placas de cimento em que foram gravadas as mãos de personagens brasileiros (não só da música) –a chamada Calçada da Fama de Ipanema. Já são 80 placas, eternizando as mãos de gente como o próprio Vinicius, além de Pixinguinha, Grande Otelo, Leila Diniz, Braguinha, Billy Blanco, Carlos Lyra, Roberto Menescal, Chico Buarque, Maria Bethânia, Gal Costa, Zico, Roberto Dinamite (os dois gravaram lado a lado e foi uma apoteose). As placas começaram a ser moldadas em 1969 (completaram-se exatos 40 anos no último dia 18 de agosto), no restaurante Pizzaiollo, que não existe mais, mas o projeto foi retomado pelo dono da Toca, Carlos Alberto Afonso, que tem planos de expor réplicas das placas, em fibra de vidro, na calçada em frente à loja (as originais continuariam no mezanino, em gavetas sobrepostas).

A calçada já é, aliás, uma extensão da loja, porque é ali, em plena rua, que se realizam os shows musicais organizados pela Toca, reunindo milhares de pessoas e parando o trânsito (quase sempre nos fins de semana). Já passaram por aquele palco a céu aberto grandes nomes da música brasileira, como Carlinhos Lyra, João Donato, Roberto Menescal, Wagner Tiso, Durval Ferreira, Leny Andrade, Os Cariocas e muitos outros. Alguns shows fazem os prédios tremer, como aconteceu quando o cantor Marcos Sacramento se apresentou acompanhado de Silvério Pontes e Zé da Velha. Ninguém ficou parado. A vizinhança não se importa com o barulho e sempre prestigia (porque Carlos Alberto convida todo mundo e se compromete a nunca deixar o show passar das 21h). O trânsito fica lento e, às vezes, um ou outro motorista buzina, mas a maioria passa devagarinho para curtir o show (já vi muitas vezes o pessoal dançando dentro dos ônibus).

A Toca do Vinicius é isso, um espaço de democracia musical: grande música tocada na calçada, de graça, para um público que se espalha em cadeiras de praia ou bancos de plástico, tudo isso ao cair da tarde, depois da praia. É a cara do Rio, não é? Aposto que o Vinicius ia adorar.

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