São Paulo, domingo, 31 de janeiro de 2010

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MODA - TENDÊNCIAS

Tecidos e brilhos dominam as passarelas brasileiras

por VIVIAN WHITEMAN

INVERNO SEM ROSTO

Temporada brasileira de desfiles foca nos tecidos e nas misturas de materiais sem fixar uma imagem feminina de peso para o outono/inverno 2010

Os estilistas da São Paulo Fashion Week e do Fashion Rio, as duas maiores semanas de moda do Brasil, até tentaram dar uma cara ao inverno que se aproxima, mas ficaram só na vontade. Lembranças do velho estilo militar, um charminho rocker, um certo minimalismo aqui, um tempero oriental acolá. Tudo tão diluído e misturado que a temporada acabou assim: sem fixar nenhuma imagem feminina de peso.
Com a derrocada econômica dos EUA, grande potência século 20, uma nova geografia socioeconômica mundial começa a despontar . E a moda, com sua capacidade de espelhar o mundo, está numa fase , digamos, "apocalíptica". Nada de fim do mundo, nem de alarmismo. Entre os criadores brasileiros, vem surgindo um movimento inquietante, de reorganização e de recomeço. Sinal dos tempos.
Boa parte das coleções apresentadas nesta temporada de inverno apresenta reflexos desse sentimento de epifanias pessoais e transição. Alexandre Herchcovitch, por exemplo, está em fase de mutação. Seus homens e mulheres vestem o uniforme do luxo à moda europeia. Mas o segredo está nos detalhes: no desfile feminino, cristais coloridos à brasileira, os sapatos pesados de quem fez estrada no underground e uma imagem guerreira, de bandeirantes determinadas a abrir novas trilhas comerciais e criativas no mercado mundial. No masculino, a maquiagem recria o rosto da morte, a grande finalizadora de ciclos, o motor da vida.
Reinaldo Lourenço inaugurou uma nova fase em sua carreira, sempre focada no decorativo, com uma trip de iluminação religiosa. Fábia Bercsek botou uma fogueira na passarela e recriou em ritual fashion a morte santa de Joana D'Arc. A Huis Clos imaginou uma mulher diáfana, quase apagada, feita de transparência, brilho e movimento. A Osklen voltou para uma Ipanema ancestral, virgem e inabitada, construindo silhuetas que lembravam pedra, plantas e bancos de areia. A Neon criou caçadoras que se transformavam em bichos, numa síntese antropofágica da exuberância tropical e bem-humorada da grife. E Lucas Nascimento, estreante do Fashion Rio e grande aposta da nova  safra de talentos brasileiros, botou suas moças-lagartas em casulos maduros, prestes a libertar borboletas.
Nessa salada de revelações, rituais e viagens na linha do tempo da indumentária, o destaque sobrou para o que vem antes da imagem: a matéria-prima. O próximo inverno será feito de brilho e textura. Couro, pelúcias e rendas, veludos brilhantes e amassados, aplicações de pedrarias e bordados, sobreposições, transparências e vazados, o que vale é experimentar. Até o feltro e a madeira viraram material de trabalho nas mãos dos "escultores" de roupas. A peça-chave da estação, seguindo esse espírito de renovação total, é a tela em branco da moda: o vestido, uma das primeiras peças de vestimenta inventadas pelo homem.
Pausa para trocar de pele. O rosto da mulher 2010 ainda não aparece no espelho: deve se revelar aos poucos, um traço por temporada, a partir de análises, recombinações, revisões e novas construções sociais e históricas. A moda está morta, viva a moda!

BIG BANG REMIX
Moda em tempos de explosão primordial: a criação é feita de brilho e de múltiplos materiais e texturas. Pedraria, veludos, lurex, efeitos tie-dye, couro, madeira, metal, pelúcia, rendas variadas, paetês de todos os tamanhos, franjas, plumas, resina, tricô e o que mais der para misturar. O trabalho fashion do momento é criar novas harmonias .

SOB REFORMA
A arquitetura serve de base para a construção de novas silhuetas, cheias de curvas, dobras, vãos e espaços vazados. As cores acompanham o espírito da construção e disfarçam os tecidos de concreto, gesso e areia. Entre as novidades decorativas estão as tachas de marceneiro, esculpidas em madeira.

JOGOS DE OLHAR
Ilusão de ótica: parece tricô, parece bordado, mas é estampa. Os padrões brincam com o cérebro, moda para confundir. Exercite os seus neurônios em xadrez, pode ser pied-de-coq, tartã ou de tabuleiro. Não se acanhe: leve o jogo às últimas consequências e saia por aí toda estampada.

MARAVILHA MUTANTE
O vestido é um e é muitos. A temporada abre os braços para todos os modelos, vitrines para um arsenal de materiais e tecidos. A cartela de cores vai do preto aos amarelos e laranjas, da noite ao sol do meio-dia. Se o frio apertar, a equação é simples: acrescente meia-calça (maxicolorida, estampada ou trabalhada) ou legging e um mantô ou um casaco para arrematar.

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