São Paulo, domingo, 31 de Julho de 2011

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FINA

Lulina

por Marcus Preto

fofura e psicodelia
Esses sãos os principais elementos da obra da cantora e compositora recifense Lulina, que faz versos de ficção com toques de realismo fantástico

É como se, em vez de Rita Lee, Wanderléa tivesse sido a vocalista dos Mutantes –só que quatro décadas depois. Lulina e seu universo musical acontecem mais ou menos nesse terreno. Entre a fofura e a psicodelia. A sacanagem e a doçura.
Cantora, compositora, escritora e publicitária, a artista pernambucana criou para si um planeta bem particular: a Lulilândia. E compôs seu roteiro em forma de trilha sonora. É um reino encantado, com príncipes e tudo mais. Só que com mecanismos muito mais críveis do que aqueles que povoavam as histórias que nossas babás contavam.
O príncipe de Lulina, por exemplo, é um pé-rapado e não vem a cavalo. Muito menos branco. Submisso, fica em casa, encarregado de preparar a comida enquanto ela está no botequim. Limpa o banheiro, lava a roupa suja, briga com as crianças. E, no final do dia, sempre quer discutir a relação. Mas dá a ela múltiplos orgasmos: "São 13, no total", ela contabiliza na música dedicada a ele.
Esse é só um dos personagens de Lulilândia, entre tantos que foram apresentados pela artista em "Cristalina", seu primeiro álbum, lançado há dois anos. Há ali também os humanos que acreditam que sangue de ET tem poder, "a hemodiálise de aliens". A morta que conversa com minhocas e a margarida pisada por um cabra safado e ficou despetalada.
É assim mesmo. Nada é previsível ou convencional nas redondezas da Lulilândia. Nem na poesia de Lulina.
Antes de lançar "Cristalina", com o mapa da Lulilândia, a cantora já tinha produzido nove álbuns caseiros, de nomes inacreditáveis como "Nublada em Surto" (2004), "Bolhas na Pleura" (2004), "Meus Dias 13" (2010) e o duplo "Aceitação do 14" / "Aos 28 Anos Dei Reset na Minha Vida" (2007/2008).
Ainda que toscamente gravados –quase sempre no microfoninho do computador, dentro do quarto–, todos têm conceitos bem definidos, capas elaboradas e canções autorais. Segundo seus cálculos, ela já criou mais de 300. "Mas a maioria é uma merda", diz.
Boa parte delas foi escrita ainda em Recife. O resto, em São Paulo, onde mora há oito anos. Ela está hoje com 32 e se lembra de quando pisou na cidade pela primeira vez. "Vim para o Tim Festival de 2002 e senti que 'Vixe Maria, quero morar aqui'", diz. Conseguiu estágio de um mês em uma agência de publicidade e, quando ia acabar, foi contratada. Está lá até hoje.
Outro dia, Lulina imprimiu em folhas avulsas, tamanho A3, uma série de frases suas que sacam algum humor de típicas situações de desgraça. Amassou todas e jogou em uma cesta de papel. Chegou ao bar e disse para os amigos: "Escrevi um livro".
É livro das lamúrias, que só rendeu, até agora, 13 exemplares. "Mas tem uma longa lista de espera. Só não fez mais sucesso porque não é um livro de autoajuda. É autossabotagem."
Seja muito bem-vindo à Lulilândia.

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