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carreira
Abelhas e formigas, vistas como seres sociais, ensinam ao mundo corporativo estratégias para trabalhar em rede, otimizar recursos e resolver conflitos
A economia dos insetos
Silvia Bittencourt
free-lance para a Folha, de Heidelberg (Alemanha)
Como as formigas lidam com obstáculos? Como elas estabelecem
hierarquias? O que fazem as abelhas em caso de escassez? Um
seminário realizado em Laufen (Alemanha), no início de outubro, mostrou como empresários podem aprender com os chamados
"insetos sociais", ou seja, que vivem em colônias organizadas.
O evento "Manager Meets Nature" (O empresário encontra a natureza), organizado pela Academia de Proteção Ambiental da Baviera
(ANL, em alemão), reuniu quatro zoólogos e oito empresários da indústria e dos bancos. Por meio de palestras e experiências práticas, os
"managers" tiraram algumas lições das formigas e das abelhas, que,
com seus sistemas eficazes de comunicação e sobrevivência, servem como modelos de estudo também para a economia.
O biólogo Peter Sturm, coordenador do seminário, diz ao Sinapse
que as formigas formam um dos grupos mais bem-sucedidos do reino
animal. Há 200 milhões de anos elas desenvolvem estratégias para o trabalho em rede e para a solução de conflitos.
Numa colônia de formigas, todas as atividades -como as voltadas
para a alimentação e para a reprodução- são distribuídas entre indivíduos adaptados especificamente para realizá-las. As formigas sabem
exatamente quantos indivíduos da comunidade são necessários para
participar de uma determinada ação. "Mesmo sem contar com uma liderança, elas trabalham de forma coordenada", diz Sturm.
Por isso, acredita o biólogo, a chamada inteligência de enxames
("swarm intelligence") -ou seja, a capacidade dessas colônias de inseto de se organizarem de forma bem-sucedida, mesmo sob condições
adversas- contribui para a solução de problemas em empresas.
O estudo de fenômenos naturais e sua aplicação na administração de
empresas e na economia é o que biólogos chamam de "biônica econômica", uma linha de pesquisa forte na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos. Várias empresas desses países já aplicam modelos matemáticos
elaborados a partir de estudos sobre a inteligência de enxames para solucionar, por exemplo, problemas logísticos e de transportes. É o caso
da Southwest Airlines, que se baseou em estudos com comunidades de
formigas para reformular todo o seu sistema de transporte de cargas.
Até poucos anos atrás, durante uma escala, a empresa mandava retirar da aeronave e estocar a carga que seguia para outro destino. Agora,
baseando-se nas estratégias das formigas para transportar alimento, a
empresa mantém a carga na aeronave, mesmo que ela precise fazer novas escalas antes de chegar ao destino final. Dessa forma, a Southwest
cortou despesas com pessoal em solo e com as altas taxas de estocagem
nos aeroportos, economizando mais de US$ 10 milhões por ano.
A companhia telefônica British Telecom (Reino Unido), baseada em
estudos com formigas, desenvolveu um software para solucionar um
de seus problemas mais críticos, o do congestionamento das linhas. Assim como formigas são enviadas para encontrar rotas curtas até a fonte
de alimento e voltar para estocá-lo, o programa envia sinais para explorar e detectar, em segundos, rotas alternativas na rede de comunicação.
Realizado no próprio centro de treinamento da ANL, o seminário
"Manager Meets Nature" teve palestras de quatro zoólogos alemães,
entre eles o professor Jürgen Heinze, da Universidade de Regensburg,
que vem cooperando na área da biônica econômica com pesquisadores
britânicos. As atividades práticas do evento foram destinadas para experiências com comunidades de formigas e abelhas, assim como para
passeios fora do centro de treinamento, para observação da natureza
local. "Os participantes vibraram ao ver, ao vivo, como as formigas reagem e se adaptam a mudanças na hierarquia", diz Sturm.
Segundo o biólogo, a Academia pretendia, com o evento, atingir um
outro objetivo, além de apresentar os mais novos resultados da biônica
econômica para empresários. Há anos a ANL quer atrair para a instituição administradores de empresas, que, na maioria dos casos, são pouco
abertos para temas ecológicos, de acordo com Sturm. "Também é nossa função levar a consciência ecológica para a sociedade."
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